“A população brasileira pode ser a protagonista da transformação que sonhamos, mas para isso será preciso o básico. Ainda não temos o básico na infraestrutura de transportes nacional. Precisamos ampliar a discussão e construir o básico. O mínimo é integrar o país de maneira eficiente com um plano de logística que esteja à altura dos nossos desafios. Se seguirmos a recusar esta pauta, estaremos condenados a um eterno papel de colônia”
O Plano Nacional de Logística (PNL) 2050 segue em debate. Ontem foi realizado em Belém mais uma etapa desta construção. Seguimos muito otimistas com as possibilidades de diálogos, mas ainda incomodados com a falta de inclusão da Amazônia em um caminho de construção de estoques de infraestruturas.
O Brasil deu um salto enorme nos últimos anos em relação aos investimentos no setor. Entre 2019 e 2022 foram R$ 32,2 bilhões investidos, versus R$ 29,7 bilhões apenas em 2023 e 2024. Entretanto, o foco segue sendo o atendimento dos interesses das exportações. É uma prática desde o império Português: investimentos para atender aos interesses estrangeiros.
A questão ambiental segue sendo mais uma desculpa do que um entrave para a construção de infraestrutura na Amazônia. A nova legislação ambiental deixará isso evidente, pois com a solução encontrada pelo legislativo, será difícil aparecerem motivos ambientais para não construir rodovias, portos e transformar os rios em hidrovias no Norte do país. O Plano de Logística em discussão poderá ser um projeto para o Brasil, se ele considerar a hipótese da redução das desigualdades regionais.
Por ora, o que existe é um modelo de tecnocracia da desigualdade, onde os projetos são pensados isoladamente e não visam remodelar a estrutura produtiva do país. O que o plano está construindo são mais 25 anos de desigualdades regionais. Planejar para as regiões mais ricas e para escoar a produção para o exterior.
E qual seria a alternativa? Elaborar um projeto de transformação do Brasil em um país que reduza as desigualdades da infraestrutura. O conceito de centros logísticos intrarregionais para respeitar as distâncias e as cadeias produtivas potenciais de cada região. Como exemplo, o Zoneamento Ecológico e Econômico do Amazonas, que integra nove subregiões deveria ter uma consideração especial do Plano Nacional. Entretanto, ele sequer percebe este tipo de questão, pois o Governo do Amazonas não parece integrado ao debate.
1.559.161,682 quilômetros quadrados ignorados. Temos um projeto de rodovia que se conversa e não se faz nada faz décadas, que é a BR-319. A questão da água, da floresta, das cadeias produtivas e dos potenciais, se seguirem desconectadas do país, permanecerão como reservas e não como participantes ativos da estrutura produtiva nacional.
Há dois municípios do Amazonas entre os cinco piores do país em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano. Na metodologia do PNL a redução do problema humano não foi dimensionada. O Transporte e a infraestrutura, com trocas comerciais, atuação empresarial, com a sociedade organizada e a presença de um transporte inteligente e adaptado para a gestão comunitária dos meios produtivos tem o poder de transformar, mas só se o método atualmente planejado for revisado.
A população brasileira pode ser a protagonista da transformação que sonhamos, mas para isso será preciso o básico. Ainda não temos o básico na infraestrutura de transportes nacional. Precisamos ampliar a discussão e construir o básico. O mínimo é integrar o país de maneira eficiente. Se seguirmos a recusar esta pauta, estaremos condenados a um eterno papel de colônia.
A valorização das regionalidades e superação das deficiências tem o poder de transformação, afinal a indústria da construção civil segue clamando pela reativação do setor. O total de salários pagos para o setor no Amazonas em 2023 ainda é inferior ao que foi pago em 2014.