A seca fez com que a vegetação crescesse excessivamente em áreas que normalmente ficariam alagadas, o que dificulta o acesso dos barcos para a pesca do pirarucu
A temporada de pesca do pirarucu em 2025 terminou de forma atípica no último mês, com pescadores estendendo suas atividades até meados de fevereiro, mas ainda assim retornando com um carregamento abaixo do esperado.
Há 25 anos, a captura descontrolada levou o maior peixe de escama de água doce do mundo à beira da extinção, resultando na proibição da pesca. Apenas com ciência e cooperação, o pirarucu voltou a repovoar os lagos amazônicos.
Agora, o desafio é outro: a seca extrema na Amazônia nos últimos dois anos, que reduziu os níveis dos rios a mínimos históricos. A história de sucesso que salvou o pirarucu precisa, mais uma vez, se adaptar às mudanças climáticas para garantir a sustentabilidade da pesca e a preservação da espécie.

Além disso, a seca fez com que a vegetação crescesse excessivamente nas áreas que normalmente ficariam alagadas. Como consequência, durante o período autorizado de pesca do pirarucu, os barcos enfrentaram dificuldades de acesso, já que a vegetação densa bloqueou a navegação em diversos pontos.
Segundo Raimundo Queiroz, ex-presidente da Colônia de Pescadores de Alvarães e atual coordenador do Acordo de Pesca do Pantaleão em entrevista à DW, o pirarucu “se esconde” nesses espaços de difícil acesso. “Antes, a gente não conseguia pescar porque faltava material. Hoje, temos material, temos tudo, mas não conseguimos chegar nos lugares. A seca forte e o alagamento rápido demais está atrapalhando muito”, diz.
Outras regiões do Amazonas também foram afetadas, como o médio curso do rio Juruá, em Carauari, dificultando a pesca e o transporte do pirarucu.

Pesca abaixo da cota prevista
Para 2024, a cota de captura autorizada foi de 103 mil pirarucus, baseada na contagem realizada no ano anterior. No entanto, devido às dificuldades logísticas causadas pela seca extrema, a quantidade de peixes efetivamente capturada ficou bem abaixo desse patamar, segundo o especialista James Bessa, analista ambiental do Ibama no Amazonas.
“Faz dois anos que a cota autorizada não é atingida. No ano passado, a eficiência da pesca foi de 70%, nesse ano, que teve uma seca mais extrema ainda, não vai chegar em 50%”, estima Bessa, lembrando que o manejo foi estendido até 10 de fevereiro por causa dessa dificuldade.
A avaliação completa dos impactos da seca extrema sobre a população de pirarucus será possível após a conclusão do monitoramento da pesca, que começou em 2024 e se estenderá ao longo de 2025. Assim, esse acompanhamento ajudará a entender como as mudanças ambientais afetaram a estrutura da espécie e a planejar medidas para sua conservação.