Cientistas identificam que as palmeiras da Amazônia armazenam grandes volumes de água e garantem alimento para animais e comunidades mesmo nas estiagens mais severas.
Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) revelaram um papel pouco conhecido das palmeiras da Amazônia: elas funcionam como grandes reservatórios de água da floresta. Estudos conduzidos pelo Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças Climáticas (CBioClima) mostram que essas plantas podem armazenar até o dobro da quantidade de água que árvores como ipês, mogno e eucaliptos armazenam.
Segundo a bióloga Thaise Emilio, coordenadora do projeto, as palmeiras conseguem reter cerca de 70% do seu volume em água, enquanto árvores dicotiledôneas chegam a 50%. Essa capacidade garante vantagem ecológica em períodos de seca, permitindo que continuem frutificando quando outras espécies interrompem o ciclo. “Isso é essencial para manter a alimentação dos animais e das populações humanas que dependem desses recursos”, explica.

Mesmo representando apenas uma entre mais de 170 famílias de plantas arborescentes da região, as palmeiras da Amazônia se destacam por sua abundância no dossel e no sub-bosque. Pesquisadores apontam que essa dominância pode estar relacionada à antiga interação das populações humanas com a floresta — há indícios de que as palmeiras foram manejadas e possivelmente domesticadas pelos primeiros povos amazônicos.
Além do papel ecológico, as palmeiras da Amazônia têm importância econômica significativa. Cerca de 75% dos produtos florestais não madeireiros do Brasil vêm dessas espécies e metade desse total corresponde apenas ao açaí (Euterpe oleracea). Essa diversidade de usos torna as palmeiras fundamentais para comunidades locais e para a bioeconomia regional.
As pesquisas sobre o funcionamento hidráulico dessas plantas começaram em 2017, em parceria com o Soleil Síncrotron e a Universidade de Bordeaux, na França. O grupo analisou como o tecido vascular das palmeiras reage à falta de água. Embora vulneráveis à seca, elas compensam essa fragilidade pela grande quantidade de água acumulada nos troncos, o que reduz o risco de embolia — bloqueio de ar nos vasos que transportam água e nutrientes.
