O Espírito Público e a Responsabilidade Coletiva na Condução da greve dos auditores fiscais

O Brasil não pode ser refém de uma paralisação que ameaça sua estabilidade econômica e sua posição no mercado global. A greve dos auditores exige soluções responsáveis, pautadas no equilíbrio entre direitos, deveres e o compromisso coletivo com o futuro do país.

A paralisação dos auditores fiscais da Receita Federal, em vigor desde 26 de novembro de 2024, expõe um conflito complexo entre direitos trabalhistas e o interesse público. A greve, um direito constitucionalmente assegurado, possui limites naturais que buscam equilibrar a legítima reivindicação dos servidores com a continuidade dos serviços essenciais para a economia e a sociedade. O desafio atual não está apenas na solução do impasse, mas na maneira como os envolvidos conduzem suas ações diante das responsabilidades coletivas que lhes cabem.

A Zona Franca de Manaus, principal polo industrial da Amazônia, tem sido duramente afetada pela paralisação, enfrentando dificuldades severas na liberação de mercadorias, no abastecimento do comércio e na manutenção das operações fabris. O cenário é agravado pelo momento delicado da economia regional, que ainda se recupera dos impactos da crise hídrica que dificultou a navegação nos rios amazônicos. Com a paralisação dos auditores fiscais, a cadeia produtiva se vê duplamente fragilizada, com consequências que vão desde o aumento do custo logístico até o risco iminente de demissões em larga escala.

A Constituição garante aos servidores o direito à greve, mas também impõe limites para assegurar que o exercício desse direito não prejudique desproporcionalmente a sociedade. No caso específico da Receita Federal, a paralisação dos serviços aduaneiros tem um efeito dominó que transcende a reivindicação salarial da categoria. A retenção de mercadorias nos portos e alfândegas inviabiliza contratos internacionais, compromete o abastecimento do mercado interno e ameaça a competitividade da indústria nacional. Além disso, o impacto fiscal é expressivo, com queda na arrecadação tributária em um momento em que o país precisa fortalecer suas receitas para garantir investimentos estratégicos.

Diante desse quadro, é essencial que os setores envolvidos ajam com espírito público. A valorização dos auditores fiscais é legítima, especialmente diante da defasagem salarial apontada pela categoria, mas a solução desse impasse não pode ocorrer às custas do colapso da atividade produtiva e da segurança econômica de milhões de brasileiros. Cabe ao Governo Federal agir com celeridade para estabelecer um diálogo efetivo e encontrar uma saída que contemple tanto a recomposição dos direitos dos servidores quanto a manutenção do funcionamento das aduanas e demais atividades essenciais.

O setor produtivo, que representa milhares de empresas e trabalhadores, exige ações concretas para mitigar os impactos da greve e evitar danos irreversíveis à economia regional e nacional. Se não houver um acordo imediato, medidas emergenciais devem ser implementadas para garantir a liberação das mercadorias retidas e a retomada das operações aduaneiras. A preservação da ordem econômica e social deve ser uma prioridade compartilhada por todos os agentes envolvidos, sem exceção.

Para além do embate corporativo, a atual crise demanda maturidade institucional, compromisso com o interesse público e disposição para o diálogo. O Brasil não pode ser refém de uma paralisação que ameaça sua estabilidade econômica e sua posição no mercado global. O momento exige soluções responsáveis, pautadas no equilíbrio entre direitos, deveres e o compromisso coletivo com o futuro do país.

Nelson Azevedo

Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

Nelson Azevedo
Nelson Azevedo
Nelson Azevedo é economista, empresário, presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM

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