A dimensão da área de desmatamento no Cerrado, mesmo após queda, equivale a uma área maior que o Distrito Federal
Dados divulgados nesta quinta-feira (06) trouxeram boas notícias sobre o desmatamento no Cerrado: segundo análise do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a devastação da vegetação do bioma caiu 33% em 2024 em comparação ao ano anterior. No ano passado, foram desmatados 712 mil hectares, contra 1 milhão em 2023.
Apesar da queda – a primeira dos últimos cinco anos -, especialistas alertam que o número ainda é alto, já que a área desmatada equivale a um território maior que o Distrito Federal.

“Apesar da redução, a área total desmatada segue nos patamares elevados quando comparamos com a série histórica e também com o desmatamento em outros biomas, como a Amazônia. Por exemplo, tivemos por volta de 700 mil hectares desmatados no Cerrado nesse último ano. Já na Amazônia foram 380 mil hectares desmatados no mesmo período. Quase duas vezes menos”, pontua Fernanda Ribeiro, pesquisadora do Ipam e coordenadora do SAD Cerrado.
Atualmente, 62% da vegetação nativa do Cerrado está em propriedades privadas, sujeitas ao Código Florestal, que permite o desmatamento de até 80% da área. A maior parte do desmate ocorre nessas áreas. Em contraste, na Amazônia Legal, a legislação limita a supressão vegetal a 20%.
Segundo o Ipam, esse maior respaldo legal ao desmatamento no Cerrado intensifica os riscos de secas prolongadas e eventos climáticos extremos.

Desmatamento concentrado
Em 2024, a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foi a mais crítica e responsável por 82% do desmatamento no Cerrado, com a perda de 586 mil hectares, impulsionada pela expansão agrícola.
O Maranhão também se destacou negativamente, sendo responsável por 225 mil hectares desmatados, um terço do total do bioma, apesar de uma redução de 26% na taxa de desmate em comparação com o ano anterior, segundo o Ipam. O Tocantins vem em seguida como o segundo estado onde mais se desmatou ano passado, com 171 mil hectares de vegetação nativa
“Isso evidencia a necessidade de outros instrumentos que vão além das políticas de combate e controle. A mudança desse cenário depende de um maior engajamento com o setor privado, além de ações de ordenamento territorial e instrumentos econômicos e regulatórios como vemos na Amazônia”, aponta Fernanda Ribeiro.