A Amazônia e o Pantanal enfrentam uma severa crise hídrica e um aumento alarmante de incêndios florestais em 2024, ameaçando a biodiversidade e as populações locais.
Dois dos mais importantes biomas brasileiros, a Amazônia e o Pantanal, estão enfrentando uma crise hídrica sem precedentes e uma alta incidência de incêndios florestais em 2024. A estação seca, que se intensifica no segundo semestre do ano, tem exacerbado os desafios tanto para a biodiversidade quanto para as populações locais.
Na bacia do Amazonas, os rios Solimões, Amazonas, Madeira e Purus têm mantido níveis próximos às mínimas históricas. “Não vemos claramente uma seca extrema nos dados, vai depender dos próximos meses de chuva”, analisa Artur Matos, coordenador do Sistema de Alerta Hidrológico do Serviço Geológico do Brasil (SGB). A situação é agravada pelo déficit hídrico acumulado de 2023 e a antecipação da estação seca, fatores que deixaram a vegetação altamente inflamável.
Os rios Negro e Branco são os únicos que apresentam níveis de água dentro da média, considerados adequados pelo monitoramento. Em contraste, os rios Solimões e Amazonas, que se encontram em determinado ponto, junto com os rios Madeira e Purus, têm registrado frequentemente níveis muito próximos aos mínimos históricos. De acordo com a análise do SGB, ainda não é possível declarar uma situação de grande seca severa com base nos dados observados no primeiro semestre deste ano.
De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de calor na Amazônia em 2024 é o maior em duas décadas para o período de janeiro a julho, com 14.250 focos. Este aumento de 60% em relação ao mesmo período do ano passado é atribuído à seca severa e à antecipação da estação seca.
De acordo com um boletim recente do Serviço Geológico do Brasil (SGB), todos os rios na bacia do rio Paraguai estão registrando níveis abaixo do esperado para este período do ano, com exceção do rio Cuiabá, que se mantém dentro da média devido à influência de uma usina hidrelétrica. Em particular, os níveis dos rios nos trechos de Barra do Bugres (MT), Cáceres (MT) e Miranda (MS) são os mais baixos já registrados para esta época.
Acumulado de chuvas no Pantanal em 2024
Relatórios divulgados pelo governo federal na terça-feira (9) mostram que, em 2024, a bacia do rio Paraguai, crucial para o Pantanal, experimentou o menor volume de chuvas desde o início dos registros em 2001. Com apenas 671 milímetros de precipitação, a seca deste ano é ainda mais severa que os anos críticos de 2020 e 2021.
“Passei por algumas regiões de Mato Grosso recentemente e pude perceber que a vegetação já formou aquela cama de folhas secas no chão, algo que costuma ocorrer no final de julho, início de agosto”, explica Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
Consequências da seca
A seca pode vir a ter diversas consequências graves:
- Perda de Biodiversidade: A vegetação seca é mais suscetível a incêndios, que podem devastar vastas áreas de floresta, ameaçando a biodiversidade única da região. Espécies endêmicas podem enfrentar extinção local, e a recuperação das florestas pode levar décadas.
- Impacto nas Comunidades Ribeirinhas: As comunidades que dependem dos rios para transporte, pesca e agricultura enfrentam dificuldades. Com a diminuição dos níveis dos rios, o acesso a recursos vitais é comprometido, aumentando a vulnerabilidade das populações locais.
- Emissões de Carbono: Os incêndios florestais liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, contribuindo para as mudanças climáticas. A Amazônia desempenha um papel crucial na absorção de dióxido de carbono, e a perda de floresta reduz essa capacidade.
- Alterações Climáticas Regionais: A Amazônia influencia o clima de toda a América do Sul, incluindo a precipitação. A seca prolongada pode alterar os padrões de chuva, afetando a agricultura e os recursos hídricos em outras regiões.
“Se comparamos o primeiro semestre deste ano com o primeiro do ano passado, temos uma situação muito pior”, afirma Renato Senna, meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Medidas de emergência e reações do governo do estado
Em resposta à crise, o governador do Amazonas, Wilson Lima, decretou situação de emergência em 20 municípios e emergência ambiental em 22 cidades devido à baixa nos níveis dos rios. Medidas emergenciais incluem a licitação para o fornecimento de água, filtros e cestas básicas para as populações atingidas pela estiagem.
Efeitos do Aquecimento Global
Os efeitos do aquecimento global são evidentes, com uma intensificação dos eventos climáticos extremos, incluindo inundações e secas. Nos últimos dez anos, a frequência de inundações aumentou quase 100%, enquanto a ocorrência de secas quadruplicou. “Estamos mexendo no balanço de energia do planeta na faixa equatorial, onde surgem os processos de troca de calor entre o Equador e os polos”, explica Senna. As mudanças climáticas, causadas pela ação humana, estão alterando drasticamente os padrões do meio ambiente.
“Não se sabe em que ponto estamos. O sistema perde a capacidade de se manter e se renovar a cada ciclo de cheia. O que podemos falar é que estamos cada vez mais próximo [de um ponto de não retorno]” afirma Helga Correa, especialista em conservação da organização e autora do estudo.
Investimento em Ciência e Tecnologia
Para mitigar os impactos e buscar soluções, o governo federal anunciou um investimento de R$ 500 milhões para o desenvolvimento científico e tecnológico na região amazônica.
Soluções propostas
Pesquisadores propõem no estudo várias soluções para enfrentar a crise:
- Restauração Florestal: Implementar projetos de restauração florestal para recuperar áreas degradadas e aumentar a resiliência do bioma.
- Prevenção e Adaptação a Eventos Extremos: Desenvolver e aplicar estratégias para prevenir e se adaptar a secas e inundações extremas.
- Mapeamento de Impactos: Identificar e mitigar os impactos aos rios, especialmente nas regiões de cabeceira.
- Políticas Públicas Contra o Desmatamento: Fortalecer e ampliar as políticas públicas para frear o desmatamento ilegal.
- Apoio às Comunidades Locais: Promover boas práticas e apoiar as comunidades, proprietários de terras e o setor produtivo.
A situação crítica da Amazônia e do Pantanal em 2024 reflete a necessidade urgente de ações coordenadas para mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger esses biomas vitais. A combinação de esforços governamentais, científicos e comunitários é essencial para enfrentar os desafios atuais e futuros.
Com informações de Um Só Planeta e Amazônia Real
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