Estado lidera números de desmatamento ilegal, causa principal do fogo e fumaça no Pará
A fumaça de queimadas criminosas fez a qualidade do ar em várias cidades do Pará despencar nas últimas semanas e agora vem se espalhando para áreas vizinhas, ultrapassando os limites do estado. O Inpe estima que a nuvem de fumaça no Pará se estenda atualmente por cerca de 2 milhões de km², fruto de chamas atreladas ao desmatamento ilegal da Amazônia, segundo avaliação do Ibama.
Em Santarém, que está coberta por chamas, a prefeitura decretou estado de emergência . A região, situada na divisa com o Amazonas, enfrenta uma seca extrema, resultando na mortandade de peixes e na escassez de água potável em comunidades tradicionais ao longo do rio Tapajós e seus afluentes, agravada pelo desmatamento em áreas de preservação. Segundo o Ibama, foram constatadas graves irregularidades ambientais em locais de grande relevância ecológica e cultural, como a Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão e a Gleba Mojuí dos Campos.
A fuligem que recobre a cidade não se origina apenas dos incêndios locais, mas também de focos de fogo em outras áreas, trazidos pelos ventos. Um dos desafios apontados pelos gestores locais é a grande extensão das áreas atingidas e a dificuldade em controlar as chamas. Isso porque o Pará, sendo um dos maiores estados do Brasil e possuindo vastas áreas de floresta, enfrenta algumas dificuldades nesse combate.
Crise das queimadas no Pará
A apenas um ano de sediar a COP30 em sua capital, o Pará é retrato da crise das queimadas ilegais e desmatamento que o país enfrenta. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam que o estado lidera os focos das chamas em 2024. O fogo começou em julho e, desde então, permanece acima da média histórica mensal registrada desde 1998. Até agora, já foram identificados 53 mil focos de incêndio.
“As queimadas naquela região não são eventos naturais; são, na maioria, criminosas”, pontua Karla Longo, pesquisadora do Inpe que analisa a poluição e a fuligem na atmosfera. “A expansão da pecuária e da agricultura tem aumentado o desmatamento e o uso do fogo ano após ano. Não dá para esperar que a chuva venha e resolva esse problema. É preciso uma ação urgente dos governos para conter essa dinâmica”, conclui.
Proteção às áreas queimadas
Em 29 de novembro, o Ministério Público Federal (MPF) emitiu uma recomendação ao Ibama e às secretarias estadual e municipais de meio ambiente para que implementem medidas destinadas à proteção das florestas públicas federais no oeste do Pará. A recomendação dá destaque às Áreas de Proteção Ambiental (APAs) de Alter do Chão, em Santarém, e de Amaranaí, em Belterra, além do Planalto Santareno. Segundo o MPF, essas áreas, pertencentes à União, possuem florestas com rica biodiversidade, mas enfrentam desmatamento ilegal, grilagem e ocupações irregulares, frequentemente autorizadas por órgãos ambientais locais.