A figurinha do Neymar e a fome no Brasil

Por Farid Mendonça Júnior

De quatro em quatro anos temos a tradicional Copa do Mundo e as eleições gerais no Brasil.

Um tempo de renovação das esperanças, seja em ver o Brasil campeão do mundo, seja em escolher representantes que possam fazer a diferença na vida dos brasileiros, principalmente no que se refere a combater o problema da fome.

Meses antes da Copa do Mundo começar sempre temos as também tradicionais figurinhas e álbuns que os colecionadores adoram, principalmente as crianças.

Nesta edição, a inflação também chegou até as figurinhas, como é o caso de um simples pacote das mesmas que está valendo R$ 4,00 nas bancas. Até aí nada tão fora do normal.

Mas sabemos que os ofertantes das figurinhas sempre fazem com que algumas poucas sempre sejam muito escassas de se conseguir. Ou seja, uma certa lógica capitalista, pra você comprar mais até achar.

Como você está comprando um pacote de figurinhas no escuro, ou seja, pacote fechado, você não sabe ao certo quais que você vai tirar.

Neymar fome

Daí temos alguns sortudos que acabam conseguindo a figurinha escassa, uma das quais é a figurinha do Neymar, que já está sendo negociada por incríveis 9 mil reais no mercado paralelo, principalmente na Internet.

Em época de “vacas magríssimas” para cerca de 33 milhões de brasileiros que não têm o que comer, um simples papel com a cara de um jogador de futebol valendo 9 mil reais representa um grande escárnio e uma incrível falta de humanidade.

Evidente que não é culpa das crianças, haja vista que as mesmas ainda não possuem total consciência da situação caótica de fome que o país passa. Pelo menos não as crianças colecionadoras das figurinhas, e, portanto, mais abastadas, que provavelmente não tem ideia da magnitude da fome no Brasil, já que estão com suas barrigas cheias.

Outro dia, saí de minha casa para comprar comida num restaurante perto de casa. Ao passar por outro restaurante, vi um senhor terminando de comer e, ao seu lado, um mendigo só esperando o referido senhor acabar. Ainda presenciei a lamentável cena do mendigo pegar o prato com o resto da comida do senhor, jogar uma farinha e comer, na tentativa de saciar um pouco daquela dor que estava sentindo.

Sim, ainda me assusto com a fome do outro. Mesmo sabendo que praticamente se tornou algo banal na nossa sociedade.

Daí, ao mesmo tempo pensei: ‘como é que tem gente que dá 9 mil numa figurinha?’ Substituindo gente por ser humano. ‘como é que tem “ser humano” que dá 9 mil numa figurinha?

Bem, muitos abastados vão responder: “é meu dinheiro, meu suor, faço com ele o que eu quiser e você não tem nada ver com isso”.

E é com este mesmo pensamento que vão votar, baseado unicamente nos seus interesses.

É aquele velho pensamento: ‘se a minha barriga tá cheia, tá tudo bem’.

Enfim, aos que pensam deste jeito, espero sinceramente que as mazelas da sociedade não os atinjam. A fome leva as pessoas ao desespero, às drogas e ao crime. Portanto, espero que estes marginalizados não lhe encontrem nem sua família no caminho, pois inesperamente o “problema que em tese não é seu” poderá ser da pior forma possível.

É como costumo dizer, o ser humano evoluiu muito durante todos estes milênios, mas praticamente apenas no aspecto científico, tecnológico e material. Quanto ao espiritual e o dever de cuidar do próximo estamos devendo e muito. Ainda estamos muito parecidos com os homens da caverna, onde o pensamento predominante é “a figurinha é minha e se você não tem o problema é seu”.

Farid Mendonca Filho
Farid Mendonça Júnior é Advogado, economista e administrador
Farid Mendonça Júnior
Farid Mendonça Júnior
Farid Mendonça é advogado, economista e administrador

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