Heróis da Resistência: a participação da ACA na história da riqueza e dos embaraços econômicos do Amazonas

“Aos 153 anos de história, a Associação Comercial do Amazonas, essa vetusta e respeitável entidade, mantém viva a luta pelos interesses da região, resgatando seu papel de protagonista e mostrando que, mesmo diante dos embaraços econômicos e adversidades, a Amazônia sempre encontrará meios de sobreviver e prosperar.”

A história da Associação Comercial do Amazonas (ACA) é marcada pela resiliência e pela obstinada defesa da Amazônia, particularmente após o colapso do II Ciclo da Borracha no pós-Segunda Guerra Mundial. Fundada há 153 anos, a ACA foi além de seu papel inicial de promover o desenvolvimento das classes empresariais e a defesa de seus legítimos interesses. A entidade desempenhou um papel crucial em momentos de crise econômica, quando o Amazonas, historicamente marginalizado pelo restante do país, precisou reinventar sua economia.

A partir de 1850, com a criação da Província do Amazonas, o potencial econômico da região começou a ser vislumbrado, particularmente com a abertura de seus portos ao comércio internacional. A ACA surgiu nesse contexto de afirmação econômica e desde então tem sido um vetor de desenvolvimento, agindo como uma agência de fomento e promoção de oportunidades.

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Praça e Estátua Tenreiro Aranha, em Manaus (Reprodução/Internet)

Após a queda do segundo ciclo da borracha, figuras como Cosme Ferreira Filho, José Cruz, Aderson Dutra, Agnello Bittencourt, Bernardino Lindoso, Samuel Benchimol, entre outros, se destacaram na tentativa obstinada de reerguer a economia amazonense. Cosme Ferreira, em especial, mostrou que a força das empresas deveria ir além do lucro, com um papel social fundamental, ensinando que o ideal deveria sempre prevalecer sobre os ganhos imediatos. Ele, juntamente com seus pares, criou uma espécie de “quartel-general de reconstrução” na ACA, onde estratégias eram discutidas para recuperar a economia regional.

Entre as iniciativas lideradas pela ACA nesse período, destacam-se o pleito por redução dos fretes da Amazon River para viabilizar a produção regional, a promoção do comércio do Timbó e do guaraná, e a defesa da castanha-do-pará como um produto de exportação relevante. A ACA não apenas lutou pela sobrevivência dos produtos regionais, mas também fomentou o debate sobre a infraestrutura necessária para manter o Amazonas competitivo, defendendo a criação de uma Estação Experimental do Guaraná em Maués e estabelecendo representações em grandes centros comerciais, como Rio de Janeiro, Belém e São Paulo.

A Segunda Guerra Mundial trouxe desafios adicionais para a economia da região, com a intensificação do tráfego aéreo e a falta de combustíveis e gêneros de primeira necessidade. A borracha, mais uma vez, se tornou crucial para os esforços de guerra, com os EUA pressionando pela produção do material. Nesse contexto, a ACA organizou a Segunda Conferência Nacional da Borracha e promoveu iniciativas como a criação da Companhia Brasileira do Guaraná e de borracha, reafirmando o papel da Amazônia na produção de insumos estratégicos.

O declínio do II Ciclo da Borracha e a Industrialização

Com o fim do II Ciclo da Borracha nos anos 1950, após a retirada de investimentos americanos decorrentes do término do Tratado de Washington, a economia do Amazonas sofreu um forte abalo. Moyses Israel, diretor da ACA, emergiu como uma das lideranças que lutaram pela sobrevivência da indústria local. Ele foi protagonista no beneficiamento de matérias-primas regionais, como borracha e madeira, e na promoção de indústrias como serrarias e fábricas de calçados, bebidas e panificação.

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Em 1961, a ACA foi fundamental na criação de uma entidade dedicada ao desenvolvimento industrial regional, a FIEAM que reconheceu Abrahão Sabbá como seu primeiro presidente. A indústria de juta e malva, pilares da economia local, começou a ser superada pelas fibras sintéticas, como o polipropileno, usadas nas sacarias de agronegócios e na produção de chicletes. O avanço tecnológico trouxe consequências cruéis para a economia regional, impondo a necessidade de respostas urgentes para resgatar a competitividade da Amazônia.

Resiliência e Inovação, a senha do futuro

Frente ao desafio de transformar a economia do Amazonas, a ACA, sob a liderança de Cosme Ferreira, seus pares e sucessores, lançou mão de criatividade e inovação para fomentar novas oportunidades. A instalação de uma fábrica de beneficiamento de cereais, a promoção de exposições internacionais e a representação da ACA em diversas cidades do Brasil foram parte dos esforços para reconfigurar o cenário socioeconômico regional.

Com um legado de resistência e adaptação, a ACA continua sendo um baluarte da economia amazonense, comprometida com o desenvolvimento sustentável e a integração da Amazônia ao Brasil e ao mundo. Aos 153 anos de história, a Associação Comercial do Amazonas, essa vetusta e respeitável entidade, mantém viva a luta pelos interesses da região, resgatando seu papel de protagonista e mostrando que, mesmo diante das adversidades, a Amazônia sempre encontrará meios de sobreviver e prosperar.

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Alfredo Lopes
Alfredo Lopes
Alfredo é filósofo e escritor

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