Economia do cuidado: o Brasil reconhece seu maior tesouro invisível

“No Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, temos insistido que toda boa governança começa pelo olhar atento aos mais vulneráveis. A economia do cuidado deve figurar nos relatórios de impacto social, nos indicadores de eficiência, nos planos estratégicos de governo e, sobretudo, no orçamento público”

Um país que mede sua riqueza apenas pelos mercados ignora sua verdadeira base civilizatória. Por isso, a recente aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto que institui o cálculo oficial do valor da economia do cuidado representa um marco histórico.

O cuidado é o primeiro e mais nobre trabalho humano

Antes da industrialização, antes da moeda, antes mesmo da escrita, já havia cuidado. Cuidar foi o primeiro ofício da humanidade. Cuidamos dos nossos filhos, dos nossos idosos, das nossas casas, da nossa comunidade. Sem esse elo invisível de afeto e responsabilidade, nenhuma outra economia seria possível.

Um gesto civilizatório — e corajoso

A proposta prevê a criação de uma conta satélite no sistema nacional de contas, dedicada à mensuração periódica dessas atividades. Cuidar de crianças, cozinhar, limpar, levar e buscar na escola, acompanhar um idoso ou uma pessoa com deficiência — tudo isso passará a ser reconhecido como parte da engrenagem do desenvolvimento social.

economia do cuidado

Justiça social com orçamento

No Tribunal de Contas do Estado do Amazonas, temos insistido que toda boa governança começa pelo olhar atento aos mais vulneráveis. A economia do cuidado deve figurar nos relatórios de impacto social, nos indicadores de eficiência, nos planos estratégicos de governo e, sobretudo, no orçamento público.

O cuidado nos humaniza

O gesto mais sagrado entre os seres humanos é o cuidado. Cuidar é amar com atitude. É transformar a empatia em ação. É apostar no outro, mesmo quando a sociedade ainda não reconhece esse esforço. Por isso, esta proposta é, antes de tudo, um reconhecimento moral, uma valorização simbólica que pode e deve se converter em justiça estrutural.

Quem ama, cuida — e quem cuida sustenta o futuro

Que o Brasil, ao inaugurar essa nova era, inspire o mundo. E que possamos, juntos, fincar na Constituição da convivência uma máxima que vale mais do que qualquer moeda: quem ama, cuida — e quem cuida sustenta o futuro.

Yara Amazônia Lins
Yara Amazônia Lins
Yara Amazônia Lins é conselheira e presidente do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM). Pós-graduada em Ciências Contábeis pela UFAM e reúne um portfólio robusto em Espírito Publico nos seus mais de 40 anos de serviços prestados ao TCE-AM. Em seu atual mandato tem direcionado esforços, dentro das competências do órgão e da função que ocupa, para maiores realizações de valorização da Amazônia e da preservação do Meio Ambiente.

Artigos Relacionados

Na COP30, UEA transforma ciência amazônica em propostas de impacto para o clima

UEA apresenta na COP30 projetos inovadores que aliam ciência amazônica, justiça climática e soluções sustentáveis para o clima.

Denis Minev defende agroflorestas para impulsionar Amazônia na COP30

Na COP30, Denis Minev defende agroflorestas para regenerar terras e impulsionar uma economia sustentável na Amazônia.

COP30 apresenta “Pacote Azul”, plano de US$ 116 bilhões para proteger oceanos

COP30 lança o Pacote Azul, plano de US$ 116 bilhões para integrar oceanos às metas climáticas.

Relatório de Avaliação da Amazônia 2025 — A Última Chamada

"A Avaliação da Amazônia, apresentada por mais de uma centena...