Amazônia paga caro por energia suja do diesel enquanto espera transição energética

Além do peso econômico, há impactos ambientais significativos, como a emissão de gases de efeito estufa e a poluição sonora gerada pelos geradores a diesel – enquanto a transição energética não se estabelece na região

A substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis na geração elétrica na Amazônia ainda é um desafio. Com a meta de reduzir em 70% esse uso, o governo criou, em 2023, o programa “Energias da Amazônia”, prevendo um investimento de cerca de R$ 5 bilhões para ampliar o acesso à energia por meio de fontes renováveis.

No entanto, a produção de eletricidade a partir de diesel em comunidades isoladas da Amazônia representa um peso não apenas ambiental, mas também financeiro, ao serem pagas com parte da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Para os moradores da região, esse custo é ainda mais severo e compromete significativamente a renda familiar e dificulta o desenvolvimento local.

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Amostra de diesel / Foto: Michel Chedid-Agência Petrobras

Impactos na comunidade local

Na comunidade de São Francisco do Caribi, em Itapiranga (AM), a produtora Elizangela Cavalcante é diretamente afetada pela dependência do diesel na Amazônia. Segundo relato no ClimaInfo, ela vive em meio à floresta na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, mas sua rotina é profundamente marcada pela dependência de combustíveis fósseis.

Para manter sua atividade econômica — a produção e venda de frutos nativos e a operação de uma movelaria familiar — ela arca com gastos elevados: R$ 375 por semana com transporte fluvial e R$ 600 mensais com diesel para as máquinas. Sem acesso à rede elétrica, ainda desembolsa R$ 80 mensais pelo óleo do gerador comunitário e R$ 40 para acionar a bomba d’água que abastece sua casa.

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Gerador a diesel na comunidade de Lindo Amanhecer. As máquinas emitem poluentes, fazem muito barulho e quebram constantemente. Foto: Natasha Olsen | CicloVivo

Ao todo, cerca de 40% de sua renda é consumida pela necessidade de petróleo, um custo que se agrava durante o período de seca, quando o acesso ao combustível se torna mais difícil e caro. Além do peso econômico, há impactos ambientais significativos, como a emissão de gases de efeito estufa e a poluição sonora gerada pelos geradores a diesel.

Existe caminho para diversificar as fontes energéticas?

A transição da matriz energética amazônica baseada em fósseis para fontes renováveis representa um grande desafio logístico, político e econômico. Apesar disso, especialistas consultados pelo portal O Globo reconhecem que o Brasil possui condições privilegiadas para liderar esse processo global de descarbonização.

Com uma matriz já relativamente limpa, recursos naturais abundantes e experiência acumulada em energia renovável, o país apresenta uma vantagem comparativa significativa em relação a outras nações que ainda buscam alternativas sustentáveis para reduzir suas emissões. “Se quisermos baratear o custo de energia, é necessário encontrar meios para que a receita do setor elétrico nacional consiga resolver a dependência fóssil dos sistemas isolados”, pontua Vinícius Silva, líder de projetos do Instituto Energia e Meio Ambiente (IEMA).

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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