“Desmatamento na Amazônia bate recorde no primeiro semestre de 2022”

Materia publicada no Correio Brasiliense e em varios outros veiculos. (leia aqui). Como conferir este dado? O cientista Niro Higuchi, INPA, ABC e IPCC, responsável pelo projeto CADAF, a dinâmica do carbono na Amazônia, sugere três dicas para entender como se dá a mensuração do desmatamento.

Por Niro Higuchi
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1ª Dica

Procure neste endereço como acompanhar e conferir as informações sobre desmatamento, série histórica, evolução, mapas e gráficos: INPE/Centro Regional da Amazônia de Pesquisas Espaciais “O INPE enfatiza que o DETER-B é um sistema expedito de Alerta desenvolvido metodologicamente para suporte à fiscalização. A informação sobre áreas é para priorização por parte das entidades responsáveis pela fiscalização e combate do desmatamento e não deve ser entendida como taxa mensal de desmatamento. O número oficial do INPE – para medir a taxa anual de desmatamento por corte raso na Amazônia Legal brasileira – é fornecido, desde 1988 pelo projeto PRODES que trabalha com imagens de melhor resolução espacial capazes de mostrar também os pequenos desmatamentos.”

Sendo assim, não é uma boa ideia utilizar-se do DETER-B para produzir estatísticas de desmatamento da Amazônia Legal. O monitoramento do desmatamento na Amazônia Legal pelo PRODES é anual, de agosto a julho. Portanto, em menos um mês será fechada a estatística oficial do desmatamento de 2021-2022. É mais justo comparar o desmatamento de 2021-22 com a série histórica que começou, anualmente, em 1988. Veja a figura 1 que ilustra o desmatamento anual na Amazônia Legal, desde 1988.

Na minha opinião, a academia e a mídia deveriam se preocupar em entender a causa do desmatamento na Amazônia Legal. Sem isso, ficará difícil, senão impossível, prever a direção que o desmatamento pode tomar. É de conhecimento de todos que a floresta é composta de árvores, que são plantas clorofiladas que são produtoras primárias. Esses seres vivos retira o CO2 da atmosfera para produzir a matéria orgânica; nesse processo, as árvores consomem muita energia solar e armazenam muita água. Só que essas informações precisam ser disponibilizadas e estar acessíveis para quantificar o real impacto do desmatamento na região.

Uma coisa é certa: o desmatamento na Amazônia Legal, do ponto de vista da economia, é uma ação inútil; não gera riquezas para o país e emite muito gases de efeito estufa para a atmosfera. Além disso, junto com o desmatamento e queimadas das florestas, a biodiversidade da Amazônia é destruída. Isso não é bom para as futuras gerações do Brasil.

degradacao florestal amazonia
Padrões de degradação florestal por extração de madeira observados em imagens realçadas. A) Degradação de intensidade moderada, área em regeneração após exploração madeireira, pátios ainda discrimináveis; B) Degradação de intensidade alta, exploração madeireira ativa, grande proporção de solo exposto; C) Degradação de intensidade leve, evidência de instalação de estradas de acesso. (Fotos de campo disponíveis em www.obt.inpe.br/fototeca; coordenada do ponto C: W 54o 27’ 14’’, S 11o 55’ 25’’).

2ª Dica

O Brasil registrou o maior número de focos de incêndio na Amazônia no mês de junho em 15 anos, embora esses focos sejam uma pequena fração do que geralmente é visto quando atingem o pico, em agosto e setembro, segundo dados do INPE. Não é o que as estatísticas oficiais mostram. Veja a tabela 1. O número de focos de calor do mês de junho de 2022 é inferior a 7 anos da série de 1998-2022 (25 anos). O número acumulado até junho é inferior a 9 anos da série. A dinâmica anual do número de focos de calor cobre janeiro a dezembro de cada ano.

3ª Dica

À medida que o clima fica mais seco e mais quente na Amazônia, o desmatamento e as queimadas não dão sinais de diminuir. Seria muito interessante se essa correlação acontecesse. Só que desde agosto de 2021, o mundo está sob o efeito de uma La Niña. A consequência disso será maior precipitação na Amazônia durante esse período. Mais precipitação, menos calor. Pelo jeito, o número acumulado de focos de calor está acima da média histórica.

Figura 1

Niro Higuchi
Niro é parceiro fundador do portal BrasilAmazoniaAgora, pesquisador do INPA, desde 1980. É Engenheiro Florestal, Mestre, Doutor e Doutor . Pesquisador em Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Inventário e Manejo Florestal.

É membro titular da Academia Nacional de Engenharia (ANE) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e membro do IPCC da ONU, onde recebeu o prêmio Nobel da Paz, entregue coletivamente à ONU pelas pesquisas sobre o Clima no ano de 2009.
Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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