Como a crise climática torna seu ovo de Páscoa mais caro

O aumento no preço do cacau é impulsionado pela crise climática que afeta as lavouras dos principais produtores mundiais; por ser uma commodity, o preço internacional em alta impacta no custo do chocolate – e do ovo de Páscoa brasileiro

Menos ovos, chocolate mais caro. Esse é o cenário que ilustra a Páscoa de 2025 e as prateleiras de chocolate nos mercados, previsto por economistas devido à alta no preço do cacau. O produto atingiu seu pico ainda em dezembro de 2024 e disparou 190% em dois anos.

O aumento no preço do cacau é impulsionado por problemas consequentes da crise climática que afetam as lavouras dos principais produtores mundiais, localizados na África, responsável por 70% da oferta global. A Costa do Marfim, maior produtora mundial, responde sozinha por 45% do cacau do planeta.

O fenômeno El Niño impactou severamente a produção na África, causando estiagem, excesso de chuvas no momento errado, aumento de pragas e doenças. Um dos principais problemas foi a podridão parda, doença fúngica que deteriora os frutos e libera um cheiro característico de peixe, comprometendo ainda mais a oferta global da amêndoa.

Como o cacau é uma commodity, seu preço é definido internacionalmente. Ou seja, sua alta no mercado internacional impacta diretamente o custo do chocolate brasileiro e de outros produtos derivados – incluindo o ovo de Páscoa.

A alta do cacau no mercado internacional impacta diretamente o custo do chocolate brasileiro e de outros produtos derivados - incluindo o ovo de Páscoa.
A alta do cacau no mercado internacional impacta diretamente o custo do chocolate brasileiro e de outros produtos derivados | Fonte: Investing.com/g1

Segundo matéria do g1, ao longo de 2023, produtores de chocolates industrializados e artesanais adotaram estratégias para evitar o repasse da alta do cacau aos consumidores, como a diversificação do mix de produtos e a redução do tamanho das embalagens.

No entanto, essa estratégia pode ser mais difícil na Páscoa de 2025, já que a amêndoa utilizada na produção dos chocolates para o feriado foi comprada no segundo semestre do ano passado, período em que os preços atingiram seu pico.

Menos cacau, menos ovos

A produção global de cacau registrou seu terceiro ano consecutivo de déficit, o que significa que os países estão consumindo mais cacau do que produzem. Isso pressiona ainda mais os preços internacionais do produto.

O aumento no preço dessa commodity é impulsionado por problemas climáticos que afetam as lavouras dos principais produtores mundiais.
O aumento no preço dessa commodity é impulsionado por problemas climáticos que afetam as lavouras dos principais produtores mundiais | Foto: Divulgação

Em paralelo, este ano serão comercializados menos ovos de Páscoa do que em 2024. A produção será 22,4% menor, com cerca de 45 milhões de unidades, comparado aos 58 milhões anteriores, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab).

Segundo especialistas, uma recuperação significativa na produção de cacau pode levar pelo menos seis anos, já que esse é o tempo necessário para que um cacaueiro recém-plantado comece a gerar uma produção expressiva. Esse fator prolonga a pressão sobre os preços do cacau, dificultando a estabilização do setor no curto prazo.

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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