“A COP30 em Belém, que nos últimos dias tem sido novo pretexto para expressões baixas e preconceituosas contra uma sociedade amazônida. Foram em torno de notícias sobre os preços elevados das hospedagens, seus efeitos quanto a afastar participantes e tentativas atabalhoadas de soluções por parte de governantes”
Difícil encontrar crítica construtiva nos temas que envolvem populações amazônidas. Lembro de uma. Na Revista Piauí, sobre as obras para a Copa de 2014. Era um lamento porque Manaus estava a perder o Vivaldão, então caso raro de estádio com arquitetura harmoniosa com seu entorno. O artigo demonstrava ser possível atender ao “padrão Fifa” por meio de estruturas provisórias, evitando queimar recursos que posteriormente se seriam de importância fatal para o sistema local de saúde.
Agora a Amazônia está em novo evento, a COP30 em Belém, que nos últimos dias tem sido novo pretexto para expressões baixas e preconceituosas contra uma sociedade amazônida. Foram em torno de notícias sobre os preços elevados das hospedagens, seus efeitos quanto a afastar participantes e tentativas atabalhoadas de soluções por parte de governantes.
Foi resposta quase definitiva a lembrança de um líder empresarial amazonense de que Belém acolhe anualmente um evento de impacto muito maior que a COP30: O Círio de Nazaré. O evento religioso reúne mais de 2 milhões de pessoas, e o que se fala a respeito são apenas testemunhos positivos, em que os belenenses atendem plenamente as demandas dos visitantes.
Quais seriam, então, as diferenças entre a COP30 e o Círio, que levariam a relatos adversos somente para o primeiro? Resposta imediata: A COP30 está sendo organizada na lógica “top-down”, de cima para baixo, com pouca participação da sociedade belenense. No mínimo faltou clareza quanto à magnitude do evento, os modos que os cidadãos poderiam contribuir para seu sucesso e os recursos que lhes seriam disponibilizados para que efetivassem suas contribuições.
Por ocasião do Círio tudo isso é muito claro aos belenenses, que o fazem há dois séculos. Para que a COP30 tivesse um sucesso coerente com o Círio seria necessário que seus organizadores construíssem uma plataforma de cooperação com os belenenses. Algo análogo ao “padrão Fifa” tão citado no evento anterior deveria ter sido disseminado a todos belenenses potenciais interessados a prestarem serviços envolvendo a COP30. Isso poderia ter ocorrido com auxílio dos websites de intermediação, de onde se obteve boa parte das anedotas para as matérias e comentários preconceituosos.
Isso também dá nova lição sobre o funcionamento do sistema de preços. O quanto expectativas claras e fundamentadas são importantes para seu justo funcionamento. Expectativas são, por óbvio, relacionadas ao futuro. Opõem-se ao comum engano de que os preços são definidos pelo custo, uma variável pertencente ao passado.
O custo, o passado, é uma importante referência. Garantir que os preços não sejam inferiores a eles é apenas um bom começo. Somar os custos, acrescentar os impostos e a margem de lucro esperada não é suficiente para estimar a necessidade de alterar os ativos, em sua natureza ou dimensão, para atender às infinitas demandas da sociedade. É necessário, mas não suficiente.
Os atributos dos ativos que estão sendo oferecidos em serviço à COP30 e são alvo de críticas preconceituosas pela suposta incoerência com os preços pertencem ao passado. São expressões do custo histórico incorrido solitariamente por seus proprietários para construí-los. Para o futuro, fica a expectativa que os líderes consigam sucesso devido à COP30. E amazônidas aprendamos esta lição de governança e sistema de preços, impedindo apropriação indevida de nossos temas.