Vanda afirma que o estado tem a maior população indígena do país, com mais de 120 mil eleitores, podendo eleger deputados estaduais e federais. Mas, ela conta, há o sistema de compra de votos praticada por candidatos que estão há muito tempo no poder.
A pobreza no Amazonas é usada por políticos para terem poder econômico e se manterem no poder a partir da compra de votos, diz Vanda Witoto. Esse cenário dificulta a eleição de representantes indígenas, explica a candidata, que disputou o cargo de deputada federal pelo Amazonas no último domingo (2). Vanda conseguiu 25.545 votos e não se elegeu.
Dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostram que das 581 candidaturas deferidas no Amazonas para as eleições gerais de 2022, somente 16 eram indígenas (2,75%). Desses, dez não foram eleitos, cinco ficaram como suplentes e uma pessoa foi para o segundo turno. Trata-se de Anne Moura (PT), candidata a vice-governadora de Eduardo Braga (MDB).
Vanda afirma que o estado tem a maior população indígena do país, com mais de 120 mil eleitores, podendo eleger deputados estaduais e federais. Mas, ela conta, há o sistema de compra de votos praticada por candidatos que estão há muito tempo no poder.
“[…] as pessoas não têm o que comer, não têm minimamente dignidade, trabalho, nenhuma perspectiva de muita coisa. Então elas olham esse período como uma única chance. Elas sabem que esses representantes não vão fazer nada por elas, então ‘ah, a única coisa que eu tenho é o meu voto e eu vou vender mesmo’”, disse.
Vanda cita os casos de apreensões de dinheiro nessas eleições. “É um fato real, não sou eu quem digo. Muitas pessoas foram presas levando malas de dinheiro para o interior”.
A líder indígena conta que há o problema da desinformação quanto à importância do voto. “Eles nem sabem porque que têm que votar, não sabem qual é o papel de um deputado federal, por que têm que eleger um deputado estadual”, relatou. “Então quem está no poder usa de todas essas vulnerabilidades, a desinformação, a compra de votos”, completou.
Outro fator é o pouco investimento nas candidaturas indígenas. “O nosso governador [Israel Tuyuka] não recebeu um centavo de doação. E eu fui a candidata que mais tive recursos, consegui que alguns empresários doassem fora de Manaus, mas aqui de Manaus eu não tive nenhuma doação expressiva”, disse Vanda.
Na disputa eleitoral, Vanda lidou com a falta de estrutura. “Eu consegui fazer [visitar] apenas nove municípios para falar com as pessoas. E aonde eu fui eu tive uma votação razoavelmente expressiva e sem compra de votos, que para mim é a coisa mais digna da minha campanha”, afirmou.
A ativista critica os discursos de apoio aos indígenas que na prática não se concretizam. Ela explica que alguns acabam sendo convencidos pelo poder aquisitivo exibido por candidatos quando vão ao interior.
“O que é que acontece na cabeça de alguns parentes? Por a gente não ter dinheiro, eles não votam e olham para esses homens brancos que têm o poder econômico, chegam de jatos nos seus territórios e se impressionam e acham que vão fazer alguma coisa”, contou.
Vanda afirma que são poucos os que falam das questões indígenas e de meio ambiente, e lamenta que os que ainda se propõem a debater fazem apenas por votos. “A gente ficou impressionado no interior, a quantidade de jatos estacionados nos municípios. Mas quando nossos parentes pedem um jato para salvar suas vidas não chega um”, contou.
Próxima missão
Não ter sido eleita não significa parar com os trabalhos. Vanda Witoto afirma que a próxima missão é levar formação política, sobretudo para os indígenas. A líder indígena conta que o sistema político provoca divisão.
“Porque com a compra de votos, esses brancos políticos vão no território e compram mesmo muitos dos nossos, e acabam dividindo nosso povo, para que nunca tenhamos a oportunidade de chegarmos nesse espaço”, narrou.
A ativista tem mobilizado lideranças para combater o problema. “Eu tenho falado com as nossas lideranças, nossas mulheres e com a juventude. Eu estou apostando muito na nossa juventude e mulheres indígenas, porque muitas das nossas lideranças se vendem muito barato pela dignidade do nosso povo e isso que me envergonha muito”, afirmou.
Fonte: Amazonas Atual
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