“Cápsulas do tempo” da Amazônia ajudam cientistas a desvendar milhões de anos de mudanças na floresta

Cilindros de sedimentos que atuam como cápsulas do tempo são capazes de revelar detalhes sobre o clima, a paisagem e a biodiversidade de períodos remotos da história da floresta amazônica

Mais de dois mil tubos plásticos com amostras do subsolo profundo da Amazônia — chamadas de “testemunhos” — serão enviados nas próximas semanas do Instituto de Geociências da USP para a Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. As amostras, que funcionam como cápsulas do tempo naturais da floresta, fazem parte do Projeto de Perfuração Transamazônica (TADP), uma iniciativa científica internacional que reúne pesquisadores de 12 países com o objetivo de reconstruir a história geológica e ambiental da maior floresta tropical do planeta.

Os testemunhos foram coletados durante uma perfuração realizada entre maio e setembro de 2024, na margem sul da Ilha de Marajó, no município de Bagre (PA). O poço alcançou 924 metros de profundidade, revelando sedimentos antigos depositados pelo Rio Amazonas há milhões de anos.

Cada tubo cilíndrico representa um segmento contínuo dessa profundidade, e agora será analisado para desvendar pistas sobre climas passados, transformações do ecossistema amazônico e até sobre a origem da floresta como a conhecemos hoje.

Rio Amazonas.
Rio Amazonas | Foto: Reprodução/Brasil Escola

Os sedimentos encontrados são, basicamente, detritos de plantas, animais, solos e rochas que foram carregados pela água e acabaram sendo depositados no leito de rios e lagos do passado. “Com o tempo, esses detritos viram rochas sedimentares. Então, se conseguimos acessar as rochas sedimentares, nós estamos acessando um arquivo do passado do planeta”, explica o geólogo André Sawakuchi, professor do IGc-USP e coordenador do TADP no Brasil, em entrevista ao Jornal da USP.

Por isso que, em outras palavras, cada testemunho funciona como uma verdadeira cápsula do tempo, guardando os “restos mortais” de tudo o que existia na superfície da Amazônia no momento em que aqueles sedimentos foram depositados. Esses cilindros são capazes de revelar detalhes sobre o clima, a paisagem e a biodiversidade de períodos remotos da história da floresta.

Por exemplo, vestígios de pólen encontrados nas amostras permitem reconstruir a cobertura vegetal da época, enquanto traços de carvão indicam a frequência de incêndios e fornecem pistas sobre o clima em diferentes períodos.

Sítio de perfuração do projeto TADP no Acre. A máquina central é a responsável por perfurar e extrair os testemunhos.
Sítio de perfuração do projeto TADP no Acre. A máquina central é a responsável por perfurar e extrair os testemunhos – Foto: Isaac Bezerra / IGC-USP/TADP

Próximos passos

O próximo passo do projeto será abrir as cápsulas do tempo e coletar amostras menores, que serão distribuídas entre os especialistas envolvidos para análises físicas, químicas e biológicas. Esses estudos serão fundamentais para produzir o conhecimento científico que o Projeto de Perfuração Transamazônica (TADP) busca: compreender o passado profundo da Amazônia para entender sua formação, evolução e resposta a mudanças climáticas ao longo de milhões de anos.

Além do Brasil e dos Estados Unidos, o projeto inclui pesquisadores do Panamá, Alemanha, Holanda, Suécia, França, Áustria, Islândia, Dinamarca, Canadá, Itália e Suíça.

Confira a videorreportagem completa sobre as cápsulas do tempo da Amazônia no vídeo abaixo:

Isadora Noronha Pereira
Isadora Noronha Pereira
Jornalista e estudante de Publicidade com experiência em revista impressa e portais digitais. Atualmente, escreve notícias sobre temas diversos ligados ao meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável no Brasil Amazônia Agora.

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