Estudo global liga calor extremo ao aumento da mortalidade, colapso no trabalho rural e urbano e avanço de queimadas em ritmo sem precedentes.
Um novo relatório do Lancet Countdown on Health and Climate Change 2025, conduzido pela University College London (UCL) com apoio da OMS e 128 especialistas internacionais, revela que o calor extremo, intensificado pelas mudanças climáticas, foi responsável por cerca de 546 mil mortes por ano entre 2012 e 2021, o equivalente a uma morte por minuto – aumento de 23% em relação à década de 1990. Quando somados os efeitos do calor extremo e da poluição do ar, as mortes globais chegam a 3 milhões por ano.
No Brasil, os efeitos também são crescentes, entre 2012 e 2021, a média anual de mortes ligadas ao calor chegou a 3.600, 4,4 vezes mais que nos anos 1990. Em 2024, cada brasileiro enfrentou em média 15,6 dias de calor extremo, sendo que 94% dessas ondas de calor não teriam ocorrido sem a influência humana no clima.

A elevação das temperaturas tem impactos diretos na saúde, na economia e no meio ambiente. No ano passado, foram perdidas cerca de 6,8 bilhões de horas de trabalho no Brasil por conta da exposição ao calor, o que gerou um prejuízo estimado de US$ 17,7 bilhões, o equivalente a quase 1% do PIB. Os setores mais atingidos foram a agricultura (36% das perdas) e a construção civil (34%).
No meio ambiente, o calor extremo também intensifica a frequência e a gravidade dos incêndios florestais, agrava a seca e compromete a agricultura, contribuindo para o aumento da insegurança alimentar. Em 2024, incêndios associados ao clima mais quente causaram 154 mil mortes no mundo, o maior número já registrado.
Além disso, o relatório mostra que o calor afeta outras áreas da vida cotidiana, como a prática de exercícios físicos, o sono e a saúde mental. Em comparação com os anos 1990, os brasileiros passaram 352 horas a mais expostos a níveis de estresse térmico durante atividades físicas.
Apesar da gravidade do cenário, o relatório destaca que a transição energética tem potencial para evitar mortes. Estima-se que a redução na queima de carvão tenha evitado cerca de 400 mortes por dia na última década, enquanto fontes renováveis já ajudam a poupar 160 mil vidas por ano.

