O anúncio de que o BNDES promoveria estudos para verificar a “viabilidade” da exploração de petróleo na foz do Amazonas, feito no início deste mês, parecia indicar que o banco agiria com embasamento técnico, ao contrário do que tem feito o Ministério de Minas e Energia. Mas a esperança durou pouco.
Num mesmo dia, declarações do presidente da instituição financeira, Aloizio Mercadante, e um artigo da diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudanças Climáticas, Luciana Costa, comprovaram que o BNDES tb está louco para embarcar na duvidosa aventura de exploração de petróleo na Margem Equatorial, independentemente dos altos riscos ambientais, tecnicamente comprovados, e das projeções de queda de demanda por combustíveis fósseis ainda nesta década. Pior: o banco alega que produzir mais petróleo é essencial para a transição energética!
Mercadante defendeu no seminário comemorativo dos 71 anos do BNDES a exploração de petróleo na Margem Equatorial, informa o Valor. Ele disse que o banco vai “participar do debate” sobre o assunto, de “como preservar o meio ambiente e o desafio desse ‘segundo pré-sal’”, e falou que a Petrobras “nunca teve um acidente” na prospecção. Parece evidente o lado do BNDES no “debate”, como reforça a Veja.
Mercadante ainda destacou que o país dispõe atualmente de mais tecnologias do que na época de descoberta do pré-sal, segundo o Valor. Ele só não disse se tais técnicas fazem “mágica”: perfurar poços e produzir petróleo sem causar graves impactos em uma região ambientalmente sensível como a Margem Equatorial, completamente diferente das bacias de Campos e Santos, onde está o pré-sal. E também produzir combustíveis fósseis que não emitam carbono à atmosfera.
Já o artigo da diretora Luciana Costa, publicado no Estadão e repercutido por outros veículos, como o InfoMoney, é intitulado “Exploração da Margem Equatorial pode levar Petrobras à transição energética justa” [??????]. O subtítulo do texto, para piorar, diz que a “Extração de combustíveis fósseis na região Norte pode transformar a petroleira do século 20 em empresa de energia do século 21”.
São vários os equívocos e as contradições do texto. Contudo, o que o torna mais grave é a associação entre produzir mais petróleo e transição energética. Que ainda tenta chamar de “justa”, ignorando que, para ser “justa”, é preciso que as pessoas sejam ouvidas. O que a Petrobras não fez na foz, onde quer perfurar um poço, pois não consultou as comunidades possivelmente atingidas.
Veja neste link nossos comentários ao artigo da diretora do BNDES.
Texto publicado em CLIMA INFO
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