Alerta na Amazônia: Degradação florestal impulsiona ameaça de doenças infecciosas

Uma nova questão alarmante é o surgimento ou ressurgimento de doenças com potencial pandêmico, ligadas à degradação ambiental e mudanças na paisagem, especialmente exacerbadas durante períodos de seca extrema.

A seca na Região Norte do Brasil está causando diversos efeitos adversos. Em Manaus, capital do Amazonas, o Rio Negro alcançou um nível histórico baixo de 13,5 metros no mês passado, o mais baixo desde 1902, marcando a pior seca da região em 121 anos.

Além disso, um aumento significativo nas queimadas tem sido uma grande preocupação. No dia 5, uma densa fumaça cobriu Manaus devido aos incêndios. O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) registrou 22.061 focos de incêndio na Amazônia em outubro, um aumento de quase 60% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Uma nova questão alarmante é o surgimento ou ressurgimento de doenças com potencial pandêmico, ligadas à degradação ambiental e mudanças na paisagem, especialmente exacerbadas durante períodos de seca extrema.

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Imagem: Agência Espacial Europeia em Visualhunt / CC BY-SA.

Desafios ambientais e de saúde pública associados à BR-319

Ambientalistas estão preocupados com o impacto da pavimentação da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus. Temem que o desmatamento nas proximidades da estrada possa aumentar quatro vezes nos próximos 25 anos, impulsionado principalmente pela especulação de terras.

A degradação ambiental pode ocorrer de várias maneiras, como a deterioração de áreas preservadas, alterações nos cursos dos rios e a seca severa, levando à escassez de água e alimentos. Isso representa uma ameaça direta de desnutrição, afetando a saúde da população local e aumentando sua vulnerabilidade a doenças. A seca histórica no Amazonas já afetou mais de 600.000 pessoas.

Durante o período de seca, a escassez de água potável e condições inadequadas de higiene aumentam o risco de doenças transmitidas por água e alimentos contaminados. Doenças como cólera e hepatite, assim como viroses que causam diarreias graves, tornam-se mais prevalentes.

Casos de ‘Doença da Urina Preta’ no Amazonas

Em setembro, a Secretaria de Saúde do Amazonas (SES-AM) reportou que houve pelo menos 49 casos confirmados de rabdomiólise, mais conhecida como “doença da urina preta”, no estado. Esta doença está relacionada à má conservação de peixes e pode ser desencadeada por várias causas, incluindo traumas, infecções, ou consumo de álcool e outras drogas.

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Créditos: Paralaxis/iStock

As comunidades indígenas estão entre as mais vulneráveis a esses riscos de saúde. O aquecimento global, ao aumentar a temperatura média do planeta, facilita a expansão dos mosquitos vetores de doenças como malária e dengue, possibilitando a colonização de áreas antes inacessíveis a esses vetores.

Impacto do garimpo

A atividade de mineração ilegal, também conhecida como garimpo ilegal, que contamina água e ambiente com mercúrio, também cria condições favoráveis para a reprodução e disseminação do mosquito Anopheles, vetor da malária. Entre 2008 e 2012, cerca de 20% dos casos de malária ocorreram no território Yanomami. As doenças infecciosas transmitidas de animais para pessoas, chamadas zoonoses, são particularmente preocupantes.

Alerta na Amazônia: Degradação florestal impulsiona ameaça de doenças infecciosas
Garimpo e uma pista de pouso com aeronaves sobrevoando são vistos na regão do Homoxi na Terra Indigena Yanomami. (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real).

Relação entre aumento de temperatura e Malária

Pesquisas indicam uma correlação entre o aumento da temperatura e a elevação dos casos de malária. Outros fatores, como a umidade, também são cruciais para a proliferação do mosquito transmissor. A malária é disseminada pela picada da fêmea do mosquito Anopheles infectada pelo parasita Plasmodium, que transmite a doença a humanos e outros animais, como macacos.

A prevenção de zoonoses é complexa, pois não existe um método eficiente para prever a origem, o tipo ou o momento do surgimento de novas doenças infecciosas. Contudo, monitorar a circulação de vírus e bactérias e empregar tecnologias de sequenciamento em animais “sentinela”, como morcegos, roedores e primatas, pode ajudar na detecção precoce de agentes patogênicos potencialmente perigosos para os humanos.

Para ser eficaz, a vigilância sanitária deve ser constante e abranger níveis locais e nacionais. Investir em métodos de diagnóstico mais rápidos e precisos é fundamental para ajudar a conter a propagação de doenças com potencial pandêmico, a exemplo da COVID-19. Uma vigilância eficiente é fundamental para antecipar e mitigar os riscos de futuras pandemias.

Com informações do Meteored

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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