“Comunista bolsonarista” Aldo Rebelo denuncia ‘Fracasso’ de políticas ambientais na Amazônia em novo livro

Aldo Rebelo critica duramente a política ambiental do governo e a atuação das ONGs em novo livro, enquanto se aproxima da extrema-direita

O ex-ministro dos governos Lula e Dilma, Aldo Rebelo (MDB), lançou recentemente um livro polêmico sobre a Amazônia. Em “Amazônia: A Maldição de Tordesilhas – 500 Anos de Cobiça Internacional” (ed. Arte Ensaio), Rebelo faz duras críticas às políticas ambientais do Ministério do Meio Ambiente, liderado por Marina Silva (Rede), e à atuação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Além disso, ele se destaca por suas menções negativas às ONGs, especialmente as estrangeiras e aquelas brasileiras que recebem financiamento de entidades internacionais.

Tradicionalmente conhecido como um dos mais influentes e conhecidos comunistas do país, Aldo Rebelo tem se atrelado recentemente à extrema-direita brasileira. Esse grupo é conhecido pelo negacionismo climático e pela permissividade ao desmatamento e avanço da fronteira agrícola. Sua posição crítica à política ambiental atual reflete essas alianças, colocando-o ao lado de figuras que minimizam os impactos das mudanças climáticas.

"Comunista bolsonarista" Aldo Rebelo denuncia 'Fracasso' de políticas ambientais na Amazônia em novo livro
Enquanto presidente da Câmara, Aldo Rebelo discursa durante Convenção Nacional do Partido PC do B, em 2006 — Foto: Roberto Stuckert Filho/O Globo

Para Rebelo, a política ambiental para a Amazônia proposta pelas ONGs e pelo Ministério do Meio Ambiente é um fracasso. Ele argumenta que essa abordagem tem um custo social significativo para os 30 milhões de brasileiros que habitam a região. Seu interesse pela Amazônia remonta às aulas de geografia em Viçosa, Alagoas, onde nasceu. Ao longo de sua carreira como deputado federal pelo PCdoB, Rebelo fez diversas incursões à região, além de suas visitas durante seus mandatos como ministro.

Em 2023, Rebelo passou quatro meses em Altamira, no Pará, pesquisando para o livro, período em que também participou de debates e deu palestras. Sua longa trajetória na esquerda política não impediu que ele aceitasse, no início deste ano, o convite do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para assumir a Secretaria de Relações Internacionais. A decisão foi bem recebida por figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro, que esteve presente no lançamento do livro em Brasília.

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Atualmente no MDB, Rebelo é cotado para ser vice na chapa de Nunes nas próximas eleições municipais. O livro, que teve patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro e da agência FSB, não poupa críticas à política ambiental conduzida por Marina Silva, uma rival de longa data. Rebelo relembra seu desacordo com a demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol em 2005 e seus conflitos durante a relatoria do Novo Código Florestal, aprovado em 2012.

Utilizando dados do Censo 2022, Rebelo destaca os altos índices de analfabetismo, mortalidade infantil e falta de infraestrutura básica entre as populações indígenas, como prova do fracasso da atual política para a Amazônia. Apesar das críticas, ele reconhece o papel suplementar de algumas ONGs filantrópicas, que atuam onde o Estado é omisso.

Marina Silva
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

O livro de Rebelo menciona frequentemente ONGs estrangeiras, acusando-as de formar um “Estado paralelo” que bloqueia o desenvolvimento na Amazônia. Ele relata que a plataforma de jornalismo Sumaúma enviou uma repórter a Altamira para investigar suas atividades e fontes de financiamento, algo que Rebelo considera uma tentativa de vigilância indevida.

As críticas às ONGs não são exclusivas de Rebelo. Bolsonaro, antes mesmo de assumir a presidência, já atacava essas entidades, e o próprio presidente Lula também manifestou críticas em relação aos licenciamentos ambientais influenciados por ONGs. No entanto, Rebelo não aborda no livro o aumento do desmatamento durante o governo Bolsonaro, que, segundo o sistema Prodes do Inpe, ficou acima de 10 mil km² entre 2018 e 2022.

Rebelo também é severo em suas críticas ao Ibama, que ele acusa de ser uma instituição controlada por interesses externos. Em referência à negação de uma licença para perfuração na bacia Foz do Amazonas pelo Ibama em 2023, ele argumenta que o órgão tem um impacto negativo no desenvolvimento do país. Tanto o Ministério do Meio Ambiente quanto o Ibama foram procurados pela reportagem, mas não responderam às críticas até a publicação deste texto.

Com informações da Folha de São Paulo

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

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