É possível o agronegócio ter sucesso sem ignorar a sustentabilidade e a justiça social?

Um estudo recente do Instituto Veredas, patrocinado por grandes instituições, destaca a necessidade urgente de políticas sustentáveis no agronegócio brasileiro que busquem a segurança alimentar e a redução das desigualdades sociais.

A cadeia de produção de alimentos no Brasil enfrenta diversos desafios para atingir a sustentabilidade e combater as desigualdades sociais. Um estudo recente, divulgado por organizações privadas, destacou a importância de conservar o meio ambiente e valorizar o trabalhador rural para promover o desenvolvimento sustentável do setor agropecuário.

Segundo Vahíd Vahdat, diretor-adjunto do Instituto Veredas, o Brasil tem focado nas exportações de alimentos, beneficiado por incentivos tributários e facilidades de crédito que ajudaram a alcançar US$ 166,5 bilhões em exportações do agronegócio em 2023. No entanto, esses benefícios não se estendem proporcionalmente à produção interna, prejudicando os pequenos produtores. Vahdat ressalta que as políticas públicas destinadas a apoiar esses trabalhadores são insuficientes, resultando em dificuldades para eles e limitando o acesso a alimentos para a população vulnerável.

AGROSB

Sustentabilidade além das emissões

Vahdat também destaca a necessidade de sustentabilidade que vai além da simples redução de emissões. É essencial elaborar contratos de trabalho que fortaleçam os pequenos produtores de alimentos, garantindo que eles não dependam exclusivamente de alguns clientes e evitando intermediários que possam diminuir sua autonomia. Ele critica a injustiça nas relações dentro do sistema, como na produção de sementes, acesso a equipamentos e redes de comercialização, que muitas vezes são desfavoráveis aos pequenos agricultores.

image

O estudo abordou 19 áreas prioritárias em quatro setores econômicos: alimentação e uso da terra, indústria, energia, e cidades e infraestrutura. Ele propõe a adoção de políticas sustentáveis que não apenas respeitem o meio ambiente mas também abordem as desigualdades sociais, integrando todos esses setores em um esforço coletivo para um futuro mais sustentável.

A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Veredas a pedido de quatro instituições — Fundação Arymax, B3 Social, Instituto Golden Tree e Instituto Itaúsa —, contou com o apoio técnico do Instituto Cíclica. O estudo, que possui 423 páginas, oferece uma série de recomendações para governos, empresas privadas e o terceiro setor, visando melhorar a sustentabilidade nos sistemas alimentares e de uso da terra.

Estratégias recomendadas

Entre as soluções propostas pelo estudo, destacam-se:

  • O combate ao avanço do desmatamento e às atividades ilegais nos biomas brasileiros, promovendo também a restauração dessas áreas.
  • A criação de estratégias para diminuir o impacto ambiental da produção em grande escala, especialmente na pecuária.
  • O aprimoramento do acesso de agricultores familiares a políticas públicas que possam aumentar sua produtividade e resiliência, além de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
  • A expansão da oferta e acesso a alimentos saudáveis para toda a população brasileira, com foco especial nas regiões mais vulneráveis.
É possível o agronegócio ter sucesso sem ignorar a sustentabilidade e a justiça social?
Foto: iStock

O estudo pode ser lido na íntegra clicando aqui

Vivianne Naigeborin, superintendente da Fundação Arymax, aponta que os pequenos produtores frequentemente são excluídos dos debates sobre sustentabilidade. Eles carecem de informações, recursos financeiros e assessoria técnica que seriam essenciais para entender e se adaptar às mudanças necessárias para um futuro sustentável. Além disso, Naigeborin destaca o desafio adicional trazido pela crescente automação no campo, como a substituição de colheitas manuais por robóticas. Ela questiona como é possível criar programas de formação que ajudem esses trabalhadores a se requalificarem dentro dessa transição para a sustentabilidade.

Redação BAA
Redação BAA
Redação do portal BrasilAmazôniaAgora

Artigos Relacionados

Manguezais da Amazônia sofrem com estradas que bloqueiam a água e matam a vegetação

A limitação no acesso à água impede o pleno desenvolvimento dos manguezais da Amazônia, resultando na formação da chamada "floresta anã", composta por árvores de porte muito inferior às que crescem do outro lado da estrada.

Para zerar gases poluentes, petroleiras precisariam reflorestar 5 vezes o tamanho da Amazônia

O dado reforça a urgência de reduzir as emissões de gases poluentes por meio da transição energética, o que inclui a diminuição do uso e exploração de combustíveis fósseis.

Arquitetas do subsolo: ninhos de formigas cultivadoras ajudam a regenerar solos degradados

Os ninhos de formigas da tribo Attini possuem estruturas que desempenham funções ecológicas importantes, como a ventilação do solo, reciclagem de nutrientes e a manutenção da saúde do ecossistema.

Forças Armadas na Amazônia: ciência, soberania e desenvolvimento na era da diplomacia da paz

A presença das Forças Armadas na Amazônia nunca foi apenas uma operação militar. Sempre foi — e cada vez mais precisa ser — um projeto de Estado, de Nação e de futuro. Em tempos de instabilidade geopolítica, mudança climática e pressão internacional sobre os biomas tropicais, o Comando Militar da Amazônia (CMA) reafirma seu papel como guardião não apenas das fronteiras físicas, mas também das fronteiras do conhecimento, da presença institucional e da soberania cidadã.

Lacuna financeira desafia bioeconomia no Brasil, aponta novo programa da Conexsus

Embora cerca de 90% das cooperativas e associações envolvidas nesse modelo adotem práticas de produção sustentável, apenas 10% conseguem acesso a crédito ou financiamento, evidenciando uma lacuna crítica no apoio financeiro à sociobioeconomia brasileira.