Meio século depois de ser convidada pelo governador Danilo Areosa (1967-1971) para desenvolver projetos agropecuários no Amazonas, no bojo do embrionário programa do Distrito Agropecuário do modelo Zona Franca de Manaus, a família Vergueiro – remanescente do senador Vergueiro, um português de Trás-os-Montes, que se abrasileirou na construção do império português nos trópicos – devolveu o convite e, em vez de pastagens predatórias, a construção, na Fazenda Agropecuária Aruanã, de um novo caminho para a economia do Amazonas, a transformação de áreas degradadas em projeto de recomposição florestal com espécies de alto valor agregado: Sergio Vergueiro plantou 1,5 milhão de castanheiras e 800 mil pupunheiras, com todo o acervo de oportunidades que isso representa. Em 2015, quando a pesquisadora Bárbara Cardoso, ganhadora do prêmio Jovem Cientista, do Conselho Nacional de Pesquisa, CNPQ, orientada por Silvia Cozzolino, farmacêutica e nutróloga, da USP, demonstrou a relação entre o consumo diário de castanha do Brasil, do Pará, ou da Amazônia, e a redução de déficits cognitivos, entre eles o Mal de Alzheimer, castanha da pesquisa era da Agropecuária Aruanã, de Itacoatiara, no Amazonas, que adota tecnologia de desidratação e controle recomendada pelos padrões internacionais de segurança alimentar. Só isso justificaria tudo! O projeto, de acordo com seu idealizador, Sérgio Vergueiro, tem sido acompanhado desde sua origem, há quase 4 décadas, pela Embrapa-Amazônia, desde quando se chamava Instituto Agronômico do Norte, na figura de Carlos Hans Muller, além do Inpa e ESALQ/USP”, a lendária Escola Superior de Agricultura, onde Vergueiro se formou agrônomo.
Para os próximos 50 anos, o cardápio “agropecuário” desenvolvido pela família, inclui a ampliação das parcerias, dos programas e projetos da Rede Castanha, construída por Estevão Monteiro de Paula, titular de Ciência e Tecnologia no Amazonas, e pelos pesquisadores e formuladores de políticas públicas locais, que ajudou a criar, no âmbito regional e nacional. A lista de desafios é enorme, e inclui a indústria-escola de design tropical com a Fucapi, a instituição de inovação melhor sucedida na Amazônia, e de produção de cosméticos, de extratos vegetais e de tanoarias para produção de vinhos, cachaças e outros fermentados e destilados. A certificação e a tecnologia Econut, da Fazenda Aruanã, um protocolo internacional de segurança alimentar, pode ser adaptada aos castanhais nativos, para abrir-lhe o mercado europeu, hoje dominado em 75% pela castanha da Bolívia. Com a madeira das castanheiras não-frutíferas, um cogumelo amazônico, o raphanica, com aceitação abençoada pelo mercado e padrão INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia entra no cardápio Aruanã. Um negócio que se alia a outro, exportar castanha filetada como nutracêutico, no tratamento preventivo de déficits da memória.
Hoje, tanto as castanhas descascadas Econut e Aruanã, ambas certificadas, ambas orgânicas, fazem parte dos itens que o mercado demanda, além das mudas selecionadas de castanheira e de pupunha sem espinho, para produção de frutos, palmito, e insumos para a indústria cosmética e nutracêutica. Estão à disposição do mercado, o material genético selecionado para enxertia de castanheira, pupunheira, madeira de castanheiras plantadas para diversos usos, incluindo energia de biomassa, para plantios de reposição floresta, frutos de pupunha in natura, sementes de pupunha sem espinhos, sementes de castanha pre-germinadas, toras de castanheira plantada para inoculação de cogumelos, fixação de CO2 pelos plantios, créditos ambientais pelos plantios e casca e ouriços de castanha para diversos fins industriais, produção de antimaláricos e de ração… Danilo Areosa, um português da gema, que acreditou na Amazônia como o Marques de Pombal, seu conterrâneo, não acreditaria que um Patrício fosse capaz de tirar tanto leite de tanta castanha na recomposição da floresta.
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