Entre Biodiversidade e o Agronegócio: o papel da Agroecologia na Amazônia

Apesar de evidências em contraponto, costumo me opor à mistura do termo bioeconomia na Amazônia em conjugação com o agronegócio extensivo, com toda a sua mecanização e enfoque comercial e de produtividade. A razão é que me incomoda a potencial invasão de monoculturas no território que possui na biodiversidade a sua maior fortaleza. Economicamente é muito mais interessante o uso extensivo desta biodiversidade para novas tecnologias do que encontrar mais monoculturas de baixo valor agregado, como se deu em outras régios do país.

Como exemplo, o Brasil possui área com soja que é superior ao território da Alemanha, mas que gera uma exportação relevante, mas pequena quando comparada com outras potências agrícolas globais ou nossas necessidades sociais. Como exemplo, a Holanda e seu território semelhante ao Espírito Santo exporta volume semelhante ao Brasil. 

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Em 03 de outubro aconteceu o “Dia Nacional da Agroecologia” para reforçar o movimento e talvez esteja neste caminho a oportunidade para a produção agrícola na Amazônia, pois este conceito parece permitir uma abordagem mais equilibrada da produção agrícola respeitando os saberes tradicionais, com alimentos mais saudáveis e menor agressão ambiental.

Se esta prática produtiva fizer uso de produtos da própria Amazônia, integrando com práticas orgânicas e com centros de transformação e agregação de valor industrial para os produtos extraídos destas unidades produtivas, poderemos ter um caminho de oportunidade. Não faz sentido converter o Amazonas ou a Amazônia em um celeiro de uma agricultura industrializada, mas poderá fazer sentido uma busca de um equilíbrio entre produção e práticas tradicionais.

Com as carências de recursos para políticas públicas responsáveis esta possibilidade pode ser uma enganação para o movimento de fronteiras agroindustriais para dentro da Amazônia. É muito difícil encontrar um caminho de equilíbrio nos usos dos recursos florestais, ao mesmo tempo em que se tem uma ausência de um Estado Moderno nos interiores do país. O desafio da Amazônia é grande e fazemos muito pouco para superá-los.

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Imagem: Aizar Raldes/AFP

A produção industrial expressiva existente no Amazonas poderia começar a ser diversificada para, por exemplo, começarmos a extrair selênio das castanhas e vendermos bilhões de reais de “selênio Amazônico”. Segundo estimativas de uma dupla de economistas amazonenses, os valores atingem a ordem de dezenas de bilhões de reais (seus estudos serão publicados em breve). São muitas as oportunidades espalhadas pela Amazônia, que até achamos que somos ricos como sociedade, mas estamos muito distantes disso, pois são apenas oportunidades distantes da realidade.

Enquanto não houver investimento significativo para a construção de estruturas econômicas, científicas e tecnológicas, que respeitem a biodiversidade seguiremos a destruir a Amazônia em troca de poucos recursos e a pobreza seguirá. É possível que a agroecologia seja uma rota mais sustentável, mas é difícil fazer frente aos métodos mais avançados de geração de riqueza. A encruzilhada entre pobreza, falta de recurso e falta de perspectivas precisa ser rompida com novos paradigmas para que não sigamos numa eterna rota de destruição e colonialismo.

Augusto Rocha
Augusto Rocha
Augusto Cesar Barreto Rocha é professor da UFAM

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