Honda projeta a Zona Franca como vitrine mundial de sustentabilidade às vésperas da COP30

Em 2019, quando a Honda anunciou um investimento de R$ 500 milhões em sua fábrica de Manaus, muitos enxergaram naquele gesto mais do orçamento que uma decisão empresarial. Era uma declaração de confiança na Zona Franca de Manaus, na Amazônia e na própria ideia de que a indústria da floresta poderia se manter viva e competitiva diante de crises. O aporte se destinava a modernizar equipamentos, integrar processos de motores, otimizar logística e elevar padrões de sustentabilidade ambiental e de bem-estar no trabalho.

Mas o inesperado bateu à porta

Em 2020, a pandemia de Covid-19 paralisou o mundo e testou não apenas a resiliência das empresas, mas também sua capacidade de agir com espírito público. Foi nesse contexto que a Honda se destacou como líder em prontidão humanitária. Num momento em que o Brasil vivia escassez absoluta de equipamentos de proteção individual, a fábrica mobilizou recursos para garantir máscaras, luvas e insumos, priorizando a vida. O processo produtivo só foi retomado quando as autoridades sanitárias validaram — com destaque — suas rigorosas medidas de prevenção e resguardo dos colaboradores.

De primeira grandeza

E quando Manaus mergulhou na tragédia da crise do oxigênio, a Honda voltou a se colocar na linha de frente. Liderou a aquisição e o fornecimento de oxigênio hospitalar, ajudando a salvar vidas em um dos capítulos mais dramáticos da história recente da cidade. Não parou aí: contribuiu também com alimentação e produtos de asseio para as populações mais vulneráveis, mostrando que a indústria pode — e deve — ser também um ator social de primeira grandeza.

Foi assim que o investimento de 2019, além de modernizar linhas produtivas, se converteu em símbolo de compromisso cívico e de responsabilidade social. A Honda não apenas atravessou a crise: ajudou Manaus a enfrentá-la.

O salto de 2025: R$ 1,6 bilhão

Agora, seis anos depois, a Honda anuncia um aporte de R$ 1,6 bilhão, a ser aplicado nos próximos quatro anos em Manaus. O número fala por si: trata-se de um investimento três vezes maior que o de 2019, sinalizando não apenas continuidade, mas um salto qualitativo.

Essa decisão chega em um momento carregado de significado. Faltam apenas 30 dias para a COP30, em Belém, quando o Brasil será chamado a provar sua credibilidade ambiental perante o planeta. Nesse contexto, a Honda não anuncia apenas um plano de expansão. Ela lança uma mensagem política e empresarial: a Zona Franca de Manaus é parte da solução, não do problema.

Em 2019, quando a Honda anunciou um investimento de R$ 500 milhões em sua fábrica de Manaus, muitos enxergaram naquele gesto mais do orçamento que uma decisão empresarial. Era uma declaração de confiança na Zona Franca de Manaus, na Amazônia e na própria ideia de que a indústria da floresta poderia se manter viva e competitiva diante de crises. O aporte se destinava a modernizar equipamentos, integrar processos de motores, otimizar logística e elevar padrões de sustentabilidade ambiental e de bem-estar no trabalho.

O que representa este movimento

O novo investimento da Honda é uma afirmação estratégica e simbólica. Representa a confiança renovada no Polo Industrial de Manaus e na Zona Franca como um laboratório de futuro, onde é possível conciliar produtividade, inovação e floresta em pé. Ao anunciar R$ 1,6 bilhão às vésperas da COP30, a empresa envia ao Brasil e ao mundo uma mensagem inequívoca: investir na Amazônia é moderno, competitivo e rentável.

A Honda já havia demonstrado isso antes. Foi pioneira mundial em motocicletas bicombustíveis, ao lançar em 2009 a CG 150 Titan Mix, primeira moto Flex do planeta. A tecnologia FlexOne, desenvolvida especialmente para o mercado brasileiro, uniu ciência, engenharia e consciência ambiental, criando motores que reduzem o impacto climático e aproveitam a ampla disponibilidade de etanol no país. A inovação, nascida em Manaus, simboliza a capacidade da indústria amazônica de dialogar com as urgências do planeta: menos carbono, mais inteligência, mais Amazônia.

Essa vocação não parou ali. A Honda também foi pioneira em veículos movidos a hidrogênio, com o lançamento do Honda FCX em 2002, e hoje investe no desenvolvimento de células de combustível que serão incorporadas ao Honda CR-V e:FCEV, previsto para chegar em breve ao Brasil. Essa trajetória mostra uma empresa que se antecipa ao futuro — e o faz a partir da Amazônia.

Enquanto o negacionismo resiste, a trajetória da Honda ecoa como resposta concreta às contradições do discurso ambiental global. Enquanto muitos falam de sustentabilidade, a Honda pratica. Enquanto o mundo debate o papel da Amazônia, a Honda investe nela — e a transforma em vitrine de tecnologia limpa. O Polo Industrial de Manaus, nesse contexto, deixa de ser visto como exceção fiscal e passa a ser reconhecido como plataforma de soberania industrial e climática do Brasil.

Cenários para a Indústria da Floresta

O anúncio da Honda abre um horizonte que transcende o investimento industrial. Ele propõe uma reflexão sobre o modelo de desenvolvimento da Amazônia e sobre como a indústria pode ser o motor da sustentabilidade. Três caminhos se desenham nesse tabuleiro — três maneiras de o país ler o gesto da Honda e responder a ele.

O primeiro é o cenário de liderança transformadora, aquele em que o Polo Industrial de Manaus assume o papel que lhe cabe como plataforma de inovação verde do Brasil. Nele, a Honda moderniza suas linhas produtivas e inaugura um ciclo de transição energética ancorado na eletrificação, no hidrogênio e na biotecnologia industrial. Esse caminho conecta a Zona Franca à bioeconomia, estimula a pesquisa em baterias de baixo impacto, promove o uso inteligente da biomassa e consolida a Amazônia como vitrine mundial de soluções industriais de baixo carbono.

O segundo é o cenário de estabilidade produtiva, em que o investimento se traduz em ganhos expressivos de eficiência, geração de emprego e ampliação de mercado, mas sem rupturas tecnológicas imediatas. É o caminho da consolidação, do amadurecimento das cadeias, da preparação para saltos futuros. Esse cenário ainda é virtuoso, pois reforça a competitividade e protege a base industrial da região, preservando empregos e atraindo novas parcerias.

E há, por fim, o cenário de inércia estratégica, o único que o Brasil não pode permitir. Nele, a ausência de coordenação entre política industrial e política climática impede que o investimento da Honda reverbere sobre o conjunto do modelo. O risco não está na decisão da empresa, mas na incapacidade nacional de compreendê-la como um símbolo da nova economia verde. Seria desperdiçar o gesto e perder a chance de alinhar o Polo Industrial ao grande movimento global de reindustrialização limpa que está em curso.

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Foto divulgação Honda

Entre a liderança transformadora e a inércia estratégica há uma fronteira que se chama visão de país. O que a Honda fez foi lembrar ao Brasil que essa escolha não depende apenas do mercado, mas também da vontade política, da maturidade institucional e da capacidade de enxergar na Amazônia não um problema a ser administrado, mas uma potência a ser conduzida.

Estratégia e testemunho

O gesto da Honda não é um fato isolado: é um sinal de época. A poucos dias da COP30, quando o mundo inteiro convergirá para a Amazônia em busca de respostas, uma das maiores fabricantes de veículos do planeta decide investir R$ 1,6 bilhão justamente no coração industrial da floresta. Não é coincidência. É estratégia — e é também testemunho.

O Polo Industrial de Manaus, frequentemente reduzido a números fiscais por quem desconhece sua essência, ressurge aqui como laboratório de transição energética e vitrine da reindustrialização verde. A floresta, longe de ser uma fronteira a explorar, é a própria matriz de um novo paradigma de desenvolvimento, em que a inovação se alimenta da biodiversidade e a indústria se mede não apenas por sua escala, mas por sua consciência.

Quando a Honda investe em Manaus, o que se ouve, mais do que o ronco de um motor, é o som de uma convicção: a indústria da floresta é o motor da esperança do Brasil.

Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria metalúrgica, metalomecânica e materiais elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e da CNI e vice-presidente da FIEAM*

Nelson Azevedo
Nelson Azevedo
Nelson Azevedo é economista, empresário, presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM

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