Do degelo polar ao avanço da poluição plástica no Atlântico Sul, a tripla crise planetária nos oceanos já ameaça o equilíbrio climático e a segurança alimentar global.
Todos os oceanos do planeta já sofrem os impactos simultâneos de três grandes ameaças: o aquecimento global, a perda de biodiversidade marinha e a poluição, segundo a nova edição do relatório Estado do Oceano, divulgado pelo programa Copernicus da União Europeia. O estudo, elaborado por mais de 150 especialistas internacionais, revela que nenhum ecossistema marinho permanece intocado diante da chamada tripla crise planetária nos oceanos.

A temperatura média da superfície do mar atingiu 21 °C em 2024, estabelecendo um novo recorde. Embora a variação pareça modesta, os efeitos sobre os ecossistemas são profundos e abrangem desde colapsos pesqueiros até o desaparecimento de espécies. Áreas como o Atlântico Tropical Norte enfrentaram mais de 300 dias consecutivos de calor extremo, o que já provoca perdas socioeconômicas em comunidades costeiras.
O Brasil figura como um dos países em situação crítica. A costa atlântica apresenta aquecimento acima da média global e o país lidera a contaminação plástica dos oceanos nas Américas, agravando a poluição no Atlântico Sul. Estudos apontam que resíduos plásticos oriundos de todos os continentes já foram detectados em todas as bacias oceânicas.
Na América Latina, a posição brasileira é especialmente preocupante, com impactos diretos sobre os corais da costa leste sul-americana e do Caribe. No Pacífico, regiões altamente produtivas encolheram mais de 25% desde 1998, comprometendo algumas das pescarias mais ricas do planeta e colocando em risco a segurança alimentar de milhões de pessoas.

O relatório também alerta para o avanço da acidificação marinha, que ameaça organismos essenciais como corais e moluscos, afetando toda a cadeia alimentar. Além disso, o documento chama atenção para o degelo acelerado nas regiões polares. No Ártico, a extensão do gelo marinho foi quase 2 milhões de km² menor que a média, enquanto a Antártida registra retração significativa pelo terceiro ano consecutivo. O nível médio do mar já subiu 228 mm desde 1901, com tendência de aceleração.
Para reforçar o monitoramento, foi lançado o Barômetro Estrela-do-mar, novo indicador atualizado anualmente. A ferramenta pretende auxiliar na formulação de políticas públicas diante do crescente desequilíbrio ambiental e da urgência de se enfrentar a tripla crise planetária nos oceanos.