Devido à queda de ponte no domingo (22), três caminhões que transportavam defensívos agrícolas e ácido sulfúrico caíram no rio, contaminando as águas com o material corrosivo
O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek, entre Aguiarnópolis (TO) e Estreito (MA), levantou preocupações sobre possíveis contaminações significativas do rio Tocantins. O acidente envolveu três caminhões que transportavam pesticidas e compostos químicos, que, com a queda de ponte, caíram no rio. A ponte cedeu parcialmente, envolvendo ao todo dez veículos, incluindo carros, caminhões e motocicletas.
O acidente, que ocorreu no último domingo (22), resultou na morte de duas pessoas, enquanto outras 15 permanecem desaparecidas. Após o ocorrido, a Agência Nacional de Águas (ANA) iniciou uma avaliação emergencial da qualidade da água no rio, com foco das análises está na segurança do abastecimento de água a jusante do local do acidente. Em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão, a ANA determinará parâmetros básicos de qualidade e coletará amostras para identificar os princípios ativos dos pesticidas que possam ter contaminado o rio. A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb/SP), referência em análise de qualidade de água no Brasil, vai auxiliar nas análises.
A investigação se fez necessária já que as notas fiscais dos caminhões envolvidos indicam quantidades significativas desses produtos, mas ainda não há confirmação sobre o rompimento das embalagens, o que poderia limitar a contaminação e o impacto no meio ambiente. Estima-se que os veículos transportavam 22 mil litros de defensivos agrícolas e 76 toneladas de ácido sulfúrico, um produto químico corrosivo.
Por precaução, o Maranhão orientou a suspensão da captação de água para abastecimento público nos municípios situados ao longo do curso do rio Tocantins, abaixo do local do desabamento, até que se confirme que a massa de contaminantes se diluiu e não representa risco ao consumo humano. As amostras para monitoramento estão sendo coletadas em cinco pontos estratégicos, desde a barragem da usina hidrelétrica de Estreito até o município de Imperatriz.
Queda de ponte e relação com o agronegócio
Em entrevista ao portal Brasil de Fato, a doutoranda em Estudos Sociais Agrários Gilvânia Ferreira, professora da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão, destacou sua preocupação com a relação do acidente e a falta de fiscalização local, especialmente em relação à estrutura logística de importação e transporte de agrotóxicos. Ela acompanha de perto os impactos crescentes decorrentes do aumento da atividade agrícola na região do Matopiba, onde o agronegócio mais cresce no Brasil, enfatizando os potenciais riscos ambientais e sociais associados.
“O desabamento da ponte é um marcador de alerta de que é preciso ter uma fiscalização, uma preocupação e um comprometimento com essas infraestruturas, mas, principalmente, com a população, para que nenhum outro acidente possa ocorrer mais”, pontua. Segundo Ferreira, o acidente está diretamente relacionado a um cenário de aumento da produção de grãos no Matopiba, que chegou a 92% entre a safra 2013/14 até atualmente. “A dinâmica econômica estabelecida na região, considerada a última fronteira agrícola, onde o agronegócio se expande com voracidade e rápido e o crescimento da produção de soja, impulsionado pelo uso de fertilizantes e agrotóxicos, gera um grande volume de transporte de cargas, sobrecarregando infraestruturas como a ponte que desabou.”
“Tudo isso vem com o pacote completo, o desmatamento, as queimadas, os conflitos agrários, o assassinato de trabalhadores, camponeses, quilombolas e comunidades indígenas”, lembra a professora.