O artigo, publicado como capa da revista Nature, descreve o Navaornis hestiae, uma nova espécie de ave pré-histórica que viveu há 80 milhões de anos
A descoberta do fóssil de uma ave pré-histórica até então não registrada foi matéria de capa da revista Nature, referência no ramo científico – e a autoria é brasileira. O pesquisador Ismar de Souza Carvalho, da UFRJ, é coautor do artigo que descreve o Navaornis hestiae, uma nova espécie de ave que viveu há 80 milhões de anos na região onde hoje está localizado o município de Presidente Prudente (SP).
Considerada uma das mais impressionantes descobertas da paleontologia de vertebrados no Brasil, a pesquisa foi destaque na edição de novembro. Além de Carvalho, participaram do estudo Rodrigo Miloni Santucci, da UnB, e especialistas de instituições como o Museu de História Natural de Los Angeles, a Universidade de Cambridge e o Museu Argentino de Ciências Naturais.
“A descoberta de Navaornis é um marco para a paleontologia brasileira. Além da excepcionalidade de sua preservação, demonstra a relevância das aves que existiram logo após a separação dos continentes que formavam Gondwana e que possibilitam o entendimento de aspectos evolutivos entre as aves mais antigas e as atuais”, explica Carvalho.
O nome hestiae é uma homenagem à deusa grega da arquitetura, Héstia, filha de Cronos, simbolizando a dualidade do tempo refletida no crânio da ave pré-histórica, que combina traços do passado e do presente.
Elo entre aves primitivas e modernas
O fóssil tridimensional e bem preservado do Navaornis hestiae revela uma combinação única de características arcaicas e modernas. Apesar de possuir um crânio sem dentes, com grande cavidade ocular e uma abóbada craniana semelhante às aves atuais, as análises científicas classificam a espécie no grupo Enantiornithes, aves primitivas do Mesozoico. O estudo demonstrou que, embora a geometria craniana seja similar à das aves modernas, a ave pré-histórica mantém traços ancestrais.
Esses dois grupos, que dividiram um ancestral comum há mais de 130 milhões de anos, mostram como estruturas semelhantes podem evoluir de forma independente. “Os fósseis oriundos do Brasil revelam aspectos únicos da evolução da vida na Terra. A ave Navaornis é um bom exemplo disso, pois através dela é possível entender as transformações evolutivas, até agora desconhecidas, entre as aves mais primitivas e as que hoje encontramos em variados ambientes”, completa o professor da UFRJ.