Em 2024, o Brasil enfrenta um alarmante aumento de 81% em incêndios florestais, atingindo especialmente Amazônia e Cerrado, agravados por uma das secas mais intensas provocadas por mudanças climáticas e El Niño, enquanto confronta desafios políticos e greves em órgãos ambientais.
O Brasil atingiu um recorde de incêndios florestais entre janeiro e abril, identificando mais de 17 mil casos, com a Amazônia concentrando mais da metade desses eventos.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), as mudanças climáticas têm exacerbado as condições de seca, contribuindo para o aumento das queimadas. Nessas regiões, o agronegócio frequentemente recorre à técnica de queimar vegetação para criar pastagens e novas áreas de cultivo.
Análise dos dados de satélite
Conforme dados captados via satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 17.182 focos de incêndio nos primeiros quatro meses de 2024. Este número é 81% superior ao registrado no mesmo período de 2023, sendo o maior índice desde o início dos registros em 1998. Até então, o recorde era de 2003, com 16.888 incêndios de janeiro a abril.
Na Amazônia brasileira, responsável por mais de 60% da maior floresta tropical do mundo, o Inpe registrou 8.977 incêndios nos quatro primeiros meses do ano, o maior número desde 2016. Isso representa um aumento de 153% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Entre os estados da Amazônia Legal, Roraima teve o maior número de incêndios, com 4.609 casos, seguido por Mato Grosso com 4.131 focos. Outros estados como Pará, Maranhão, Tocantins, Amazonas, Rondônia, Acre e Amapá também registraram incêndios, com números variados.
O Cerrado foi a segunda região mais afetada, com 4.575 incêndios, marcando um aumento de 43% em comparação ao mesmo período de 2023.
Ações governamentais e contexto climático
No primeiro ano do governo de Lula (PT), houve uma redução de 50% no desmatamento na Amazônia, uma melhora significativa após o aumento durante a administração de Jair Bolsonaro (2019-2022). No entanto, a situação dos incêndios ainda é considerada alarmante.
“Os incêndios florestais no Brasil e em outros países da região, como Chile e Colômbia, são intensificados pela mudança do clima e por um dos El Niños mais fortes da história, que causou estiagens prolongadas em diversas áreas da Amazônia em 2023″, declarou o ministério do Meio Ambiente.
“O grave aquecimento registrado nos últimos meses provocou mudanças de padrão, como o avanço do fogo para áreas de vegetação nativa”, acrescentou o ministério.
Alerta das ONGs
O Observatório do Clima, uma rede que congrega mais de cem entidades socioambientais, expressou preocupação com os dados do primeiro quadrimestre, destacando que “uma vez que a estação seca na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal está apenas começando”.
“[A disparada] sugere que os impactos da seca extraordinária de 2023 ainda perduram e que a estação chuvosa de 2023/2024 não foi suficiente para umedecer o solo e impedir o fogo”, observa o coletivo de ONGs em um comunicado.
Combate aos incêndios
“As queimadas estão batendo recordes mesmo com os alertas de desmatamento em queda no Cerrado e na Amazônia nos primeiros meses do ano, o que sugere influência do clima. Se o governo não tomar medidas amplas de prevenção e controle, teremos uma catástrofe nos próximos meses”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
“Precisamos de uma ampla mobilização da União e dos governos estaduais, além de resolver a greve hoje instalada em órgãos ambientais, como o Ibama. Mas, infelizmente, o quadro que se desenha é de uma prorrogação indefinida da greve, já que o atual governo preferiu dar aumento à corporação que tentou impedir sua eleição do que aos servidores que entregam um dos seus principais resultados”, acrescenta Astrini, fazendo referência ao reajuste concedido à PRF (Polícia Rodoviária Federal), uma categoria associada ao bolsonarismo.
Com informações da Folha de São Paulo
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