“Felicidade e chão de fábrica, uma equação que merece reflexão e partilha. Há muitos relatos e iniciativas corporativas para olhar e qualificar as relações, descobrir habilidades e conhecimentos que podem ser assimilados no cotidiano, para além dos certificados, na perspectiva de novas práticas, melhores níveis de satisfação e criatividade em grupos.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Em um mundo onde a busca pela felicidade e satisfação pessoal ganha cada vez mais destaque, o ambiente de trabalho se torna um cenário crucial para o bem-estar dos indivíduos. No Polo Industrial de Manaus (PIM), essa questão é ainda mais significativa, dada a natureza única do mercado e as exigências específicas da região. Com altos índices de infelicidade no trabalho reportados nacionalmente, muitos se perguntam: seria o momento certo para uma mudança de emprego? Devo mudar de ocupação ou revisar meus conceitos e visão de mundo, de trabalho e o sentido da existência?
A Universidade de Harvard, uma das mais pontuadas dos Estados Unidos, desde 1938, estuda os enigmas que envolvem a existência humana, através da pesquisa “Desenvolvimento Adulto“. Trata-se de um estudo sobre a Felicidade, que começou com 700 adolescentes, entre eles alguns estudantes de Harvard, outros viviam nos bairros mais pobres de Boston. O atual coordenador da lendária pesquisa, Robert Waldinger, professor de psiquiatria na universidade de Harvard, mestre zen, é o quarto diretor do estudo e costuma dizer em suas manifestações: “por que a qualidade dos nossos relacionamentos é o principal indicador de nossa felicidade e saúde à medida que envelhecemos?” E arremata: “nunca é tarde para ‘energizar’ as relações ou construir novas conexões”.
Existe a felicidade que as pessoas buscam comprar nas prateleiras que se confunde com a felicidade da posse dos objetos, incluindo quando assim é considerado o outro. Uma crença antiga e ilusória desde os pré-socráticos. Especialistas do tema escrevem Felicidade em caixa alta ao demonstrar que é possível construí-la. “E que tudo comece por nós.”, arrematam os sábios da recuperação emocional.
Os pensadores da Escola de Frankfurt, que se refugiaram na América ao fugir do Nazismo nos anos 1940, acrescentaram uma distinção, aparentemente gramatical, para questionar os seguidores do Ter – aquele que se acha feliz quando experimenta a sensação da posse – em oposição à simplicidade do Ser, uma experiência insólita da Liberdade e campo fértil de semeaduras. Uma excelente controvérsia!
Uma pesquisa recente da Survey Monkey revelou que 90% dos brasileiros estão insatisfeitos com seus empregos atuais, com mais de 62% desejando mudar radicalmente suas atividades para alcançar a felicidade. Isso reflete uma crise profunda no mundo corporativo, onde o desalinhamento entre expectativas pessoais e realidades profissionais se torna cada vez mais evidente.
No contexto do PIM, esses números ganham contornos específicos. A região, conhecida por seu dinamismo econômico, vantagens e regalias, também apresenta desafios únicos relacionados às condições de trabalho, oportunidades de crescimento e qualidade de vida. As empresas debatem o assunto com frequência embora a pressão por produtividade possa muitas vezes levar a um ambiente de trabalho estressante e pouco gratificante.
A depressão relacionada ao trabalho, como apontam estudos da Organização Mundial da Saúde, é a segunda maior causa de afastamentos no Brasil, um sinal alarmante de que as condições de trabalho podem estar longe do ideal. No Polo Industrial de Manaus, onde a rotina de trabalho é intensa e muitas vezes exige longas horas, os profissionais podem ser especialmente vulneráveis a problemas de saúde mental.
Diante desses desafios, é essencial considerar os sinais de que pode ser a hora de buscar novas oportunidades, alternativas ou atalhos. Sinais como falta de perspectivas de crescimento, descontentamento constante e problemas de relacionamento no ambiente de trabalho podem indicar que uma mudança é necessária. No entanto, é crucial avaliar essa decisão com cuidado, considerando não apenas o desejo de mudança, mas também o cenário econômico e as oportunidades disponíveis. Isso inclui entender profundamente seus desejos e necessidades, avaliar o mercado de trabalho na região e construir um plano de transição.
Felicidade e chão de fábrica, com certeza, é uma equação que merece reflexão e partilha. Há muitos relatos e iniciativas corporativas para olhar e qualificar as relações, descobrir habilidades e conhecimentos que podem ser assimilados no cotidiano, para além dos certificados, na perspectiva de novas práticas, melhores níveis de satisfação e criatividade em grupos. Entretanto, se a insatisfação no trabalho é uma realidade para quem atua no PIM, a decisão de mudar de emprego não deve ser tomada de ânimo leve.
É essencial que essa transição seja cuidadosamente estudada e alinhada com as aspirações pessoais e as demandas do momento. Afinal, a felicidade no trabalho é fundamental não apenas para o bem-estar individual, mas também para a produtividade e o desenvolvimento profissional a longo prazo.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas feiras no Jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, editor do portal BrasilAmazôniaAgora.
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