“No contexto atual da indústria automotiva no Brasil, o segmento de motocicletas está enfrentando uma dinâmica interessante e desafiadora. As estatísticas recentes revelam um crescimento substancial na produção e uma crescente penetração de marcas chinesas no mercado, trazendo consigo uma nova perspectiva sobre competição e inovação”.
Por Nelson Azevedo
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O Polo Industrial de Manaus (PIM), tradicionalmente conhecido por ser o coração da indústria de duas rodas no Brasil, registrou uma alta significativa na produção local de motocicletas. Com um aumento de 10,3% no primeiro trimestre em comparação com o ano anterior, o setor alcançou o melhor desempenho para este período desde 2012, produzindo 438.038 unidades. Esse sucesso destaca não só a capacidade industrial robusta de Manaus, mas também uma resiliente demanda de mercado.
Presença chinesa
Ao mesmo tempo, o mercado brasileiro está testemunhando uma ascensão notável de marcas chinesas como Shineray e Haojue. Essas marcas conseguiram aumentar suas vendas significativamente, com Shineray crescendo 122% e Haojue 54% no início de 2024.
Juntas, elas já representam uma parte considerável do mercado, ocupando o 4º e 5º lugar no ranking de vendas. Esse fenômeno, muitas vezes rotulado como uma “invasão”, na verdade reflete uma maior diversificação do mercado brasileiro de motocicletas, oferecendo mais opções para os consumidores.
Desafios e oportunidades
Os dados acima lançam luz sobre desafios significativos e oportunidades para a indústria de motocicletas em Manaus. Um dos principais gargalos é a infraestrutura limitada, que pode restringir a capacidade de expansão das fábricas existentes e dificultar a logística de distribuição. Além disso, há um desafio constante de inovação tecnológica, especialmente com a entrada de concorrentes que utilizam tecnologias avançadas e modelos de negócios adaptados às novas demandas dos consumidores.
Bioplásticos e Sustentabilidade
Uma oportunidade distintiva para as fábricas em Manaus é o início da incorporação de bioplásticos e outros materiais sustentáveis na produção. A inovação evolui a partir do segmento fabril dos plásticos, com a empresa Tutiplast. A Amazônia é rica em biodiversidade, com mais de 20% do banco genético da Terra, o que oferece uma vantagem única para experimentos com materiais ecologicamente corretos.
O uso de bioplásticos, além de ajudar na redução da pegada de carbono também pode ser um forte diferencial de mercado, especialmente em um mundo cada vez mais consciente do impacto ambiental dos produtos que consome. As indústrias estão transformando parte de seus rendimentos em fomento de biosoluções orientadas pelo PPBio, o Programa Prioritário de Bioeconomia da Suframa, sob a responsabilidade do IDESAM.
Pauta da hora
O cenário atual da produção de motocicletas e a presença crescente das marcas chinesas no Brasil revelam uma imagem complexa de desafios e oportunidades. Para Manaus e seu polo industrial, é fundamental não só investir em melhorias de infraestrutura e inovação, mas também considerar seriamente a sustentabilidade como um pilar predominante de desenvolvimento futuro. Assim, a indústria local pode competir efetivamente no mercado global e liderar pelo exemplo em integração entre industrialização e responsabilidade ambiental.
Meio milhão de empregos
Ao analisar a indústria da Amazônia, especialmente o Polo Industrial de Manaus, é essencial considerar estes diferenciais de sustentabilidade, os quais vão além da decisiva geração de empregos. A região proporciona cerca de 500.000 postos de trabalho, entre diretos e indiretos, desempenhando um papel crucial na economia local e regional. Porém, o impacto desta indústria estende-se muito além do números de emprego. Como seria o cenário florestal na ausência desses empregos?
Impacto social e ambiental
A presença de uma indústria robusta na Amazônia tem o potencial de prevenir a exploração desenfreada dos recursos naturais pela população local. Muitas vezes, na ausência de alternativas de emprego formal, os residentes podem recorrer à extração ilegal de madeira, à mineração predatória e à agricultura que suprime floresta por pasto, que são atividades que podem levar à degradação ambiental. Ao fornecer empregos estáveis e bem remunerados, a indústria ajuda a comunidade a evitar que esses recursos naturais se tornem a única opção de sobrevivência, incentivando práticas mais sustentáveis.
Inovação sustentável
Ademais, a indústria instalada em Manaus desde seu início está idealmente posicionada para liderar em inovações sustentáveis. Com o o uso de bioplásticos e a implementação de práticas de produção mais verdes, esta modelagem evolui para o patamar de proteção florestal. Isso não apenas melhora a sustentabilidade de suas operações, mas também serve como um modelo para outras regiões e indústrias. A exploração da rica biodiversidade local para desenvolver novos produtos que são ambientalmente responsáveis pode também criar um novo nicho de mercado, oferecendo produtos que são distintivamente “Made in ZFM Amazon”.
Educação e capacitação
Para capitalizar totalmente esses diferenciais, é vital que a indústria invista em educação e treinamento para a força de trabalho local. Isso não só assegura que os colaboradores possuam as habilidades necessárias para operar dentro de uma indústria inovadora e sustentável, mas também eleva o nível geral de educação e qualificação profissional na região, o que pode atrair mais investimentos e diversificação econômica. Produção com proteção ambiental é a utopia que a indústria da Amazônia tem por compromisso e prioridade antecipar.
Integração com a comunidade
É importante também que haja uma integração respeitosa e colaborativa com as comunidades locais, assegurando que os benefícios da industrialização sejam amplamente compartilhados. Isso inclui não só a criação de empregos, mas também o desenvolvimento de infraestruturas locais, como saúde e educação, e o suporte a projetos de preservação ambiental liderados pela comunidade. Na medida em que a população endossar culturalmente este mandamento da sustentabilidade ele evolui na direção da perenidade.
Harmonização de objetivos
Portanto, enquanto o Polo Industrial de Manaus oferece um significativo número de empregos, seu verdadeiro valor sustentável reside na capacidade de transformar desafios ambientais e sociais em oportunidades de desenvolvimento que respeitam a ecologia única da região. A indústria na Amazônia não apenas proporciona sustento, mas também pode liderar pelo exemplo na harmonização dos objetivos de desenvolvimento industrial com a conservação ambiental, transformando o processo produtivo na dinâmica da sustentabilidade, de verdade.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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