Equalizar projeto com necessidade e plano com execução segue sendo o desafio do Amazonas e da Amazônia. Por ora, ninguém pensa em investir, apenas se discute como extrair e desperdiçar seus recursos, sempre com poucos beneficiários
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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O Amazonas tem um problemão em sua competitividade logística. De fato, não há problemas de distância do estado com o restante do país, o que existe é um enorme problema de falta de infraestrutura. No passado havia a BR-319, hoje não há. Existe a possibilidade de asfaltar novamente a rodovia, mas ainda não temos as garantias ambientais correspondentes ao tamanho do problema em 2024. É necessária e ansiada sua recuperação, mas deve vir junto um conjunto amplo de proteções ambientais, fora disto é um erro repetido.
O porto público não há, mas temos dois terminais privados que atendem às necessidades de contêineres, outros vários para as balsas, com terminais privados e graneleiros em Itacoatiara, que atendem ao que se espera para o transbordo de soja. Há oportunidades por aqui? Certamente, que é transformar os rios em hidrovias e identificar formas de criar maior competição entre os terminais privados, viabilizando outras vocações, como soja em contêiner ou ainda com transbordo rápido de grandes embarcações para balsas usando contêineres na navegação de interior, como se faz em outros lugares com condições semelhantes.
Há carência de aeroportos no interior do Estado, mas isso só se viabilizará a partir do dia em que a ANAC conseguir criar um modelo de regulagem que volte a permitir a estruturação de pequenas companhias aéreas regionais, pois as distâncias são compatíveis com aviões, mas falta um sistema operante, pois existem poucos aeroportos e poucas frequências de voos. Há atratividade, mas falta estruturar um modelo rentável para todos, pois quando surgiram algumas companhias regionais, havia severa concorrência, até o desaparecimento delas. Precisamos de alguma proteção e estímulo nesta direção. Por ora, temos apenas um operador privado tentando aumentar os preços.
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Temos rios que não são hidrovias e poucos portos para o enorme interior. Esta transformação, para além dos nomes nos mapas será possível a partir do momento em que forem investidos recursos para estudos do que seria melhor fazer neles, como dragagens, sinalizações e manutenções constantes. Por ora, pensa-se apenas em como retirar mais dinheiro da região, concedendo a natureza, ao invés de fazer investimentos. A concessão do Rio Madeira poderá ser uma oportunidade ou ameaça, dependendo da ótica em que se olha. O risco de várias concessões serem implantadas na região é que isso aumentará ainda mais o custo Amazônia, privatizando a natureza e não dando muita contrapartida para isso.
Enquanto não houver um Plano Amazonense de Logística e Transporte, percebendo os problemas de maneira sistêmica, seguiremos a viver de susto em suto, com o rio sem calado, com o aeroporto subindo preços, com as rodovias sendo interrompidas pelas chuvas. E as rodovias estaduais, que seguem com tráfego de veículo com excesso de peso para o que foi projetado, sem balanças e sem fiscalização dos caminhões e de seus pesos. Enquanto isso, a estrada vai ficando esburacada. Equalizar projeto com necessidade e plano com execução segue sendo o desafio do Amazonas e da Amazônia. Por ora, ninguém pensa em investir, apenas se discute como extrair e desperdiçar seus recursos, sempre com poucos beneficiários.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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