“As chuvas estão voltando, trazendo água para os rios e seus ribeirinhos. Tudo em breve renascerá, incluindo particularmente os compromissos com a vida. É hora de meditar, de pedir perdão à Natureza, de pagar penitências com dedicação amorosa à proteção humana, social e florestal.”
Por Nelson Azevedo
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Enquanto as chuvas nos enchem de esperanças em seu retorno de bençãos e de purificação atmosférica, o majestoso rio Negro não cessa de vazar. Uma vazante recorde, preocupante e histórica. No Amazonas, entretanto, a vida é assim. E a cada dia que passa, a natureza devolve sustos e temores em proporção semelhante aos estragos que lhe causamos. Infelizmente, muitos de nós permanecem incrédulos diante das evidências do desequilíbrio climático. Outros, adotam a narrativa da comoção mas não assumem iniciativas mais ousadas para evitar o agravamento da situação.
Sem perder a esperança
O que não podemos, entretanto, é aderir ao desespero. É bem verdade que um clima de boataria e alarmismo foi disseminado. Não podemos entrar nessa onda. Ela é furada. O ciclo das águas é um evento anual e milenar. O que nos falta e capacidade de maior previsibilidade e planejamento de prazos mais longos. Afinal, a necessidade sempre foi e sempre será a mãe da criatividade e a premissa da transformação.
Tomara não façamos o dever de casa com atrasos demasiados. Isso pode ser sinônimo de complicação. As autoridades responsáveis pelo policiamento ambiental e fiscalização das queimadas reportam flagrantes de incêndios criminosos, perpetrados por indivíduos que acreditam na expansão da fronteira agrícola em cima do bioma florestal. Mesmo que Ciência insista em demonstrar que essa saída é a forma mais atrasada de aproveitar as riquezas da Amazônia.
Agronegócio sustentável
Há 50 anos, logo após a instalação da ZFM, foi criada a Embrapa Amazônia Ocidental, uma instância de pesquisa, desenvolvimento e inovação no setor primário que se transformou em orgulho nacional e demanda universal por soluções agrobiotecnológicas. E a quem nós deveríamos recorrer com mais frequência. Mesmo aqueles que defendem a utilização sustentável do agrobusiness na Amazônia. Afinal, grandes iniciativas no Amazonas, incluindo algumas sob a batuta da FAEA, Dr. Muni Lourenço, já mostraram resultados de muitos sucessos, como é o caso da bioeconomia associada aos Sistemas Agro Florestais e a Pecuária do Leite, que utilizam, ambas, espaços modestos com aproveitamento máximo de áreas removidas e recuperadas conforme o Código Florestal.
Reproduzir e propagar a floresta
O que não pode é desmatar com corte raso para fins de pastagem. Temos notícias de muitas áreas degradadas porque derrubaram a floresta inadvertidamente. E quando isso acontece os estragos são de toda ordem. Além da perda da biodiversidade onde a Ciência pode buscar a inspiração para reproduzir em laboratórios, como o do CBA, antigo Centro de Biotecnologia da Amazônia, capaz de reproduzir e propagar espécies de alto valor comercial para fins cosméticos, nutricionais e farmacêuticos. Basta soltar a imaginação e grandes investimentos para criarmos diversificação, adensamento e interiorização da economia do melhor jeito.
Gases do efeito estufa
E o que, principalmente, não pode, é queimar a floresta. Muitos entendem que é uma solução mais econômica para limpar – na verdade, destruir – a mata na perspectiva de seu mais equivocado aproveitamento. A queimada emite os mais letais gases do efeito estufa, remove a riqueza imensurável da biodiversidade e condena todo o processo de evapotranspiração das árvores, a verdadeira produção de água, a água que sacia a sede dos humanos, revitaliza o meio ambiente, sustenta a agricultura e assegura a perenidade da vida. Queimada nunca mais.
Primavera da fuligem
Manaus experimentou a primavera da fuligem, abarrotou os hospitais de crianças e idosos asfixiados pelos malditos gases das queimadas. Uma violência letal como as bombas disparadas., no caso, pela estupidez humana de quem é capaz dos mesmos crimes que aniquilam as vidas na Europa Oriental e no Oriente Medio, onde os podres poderes avançam o sinal vermelho do respeito à dignidade humana. Não podemos aniquilar a vida de ninguém, especialmente de quem não pode se defender da barbárie que insiste em escolher o caos, disseminar o ódio, a desumanização e a demonização do outro.
Tudo em breve renascerá
As chuvas estão voltando, trazendo água para os rios e seus ribeirinhos. Tudo em breve renascerá, incluindo particularmente os compromissos com a vida. É hora de meditar, de pedir perdão à Natureza, de pagar penitências com dedicação amorosa à proteção humana, social e florestal. Semear as mudas da cidadania e da harmonia das relações e da pacificação. A Amazônia é nossa casa comum, nossa cobertura natural e protetora que precisamos proteger para perenizar seus imensos e preciosos benefícios. Nosso ganha pão incessante e inesgotável se soubermos devolver com justiça e harmonia as bençãos naturais de sua preciosidade, de verdade.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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