Temos a oportunidade de definir os padrões globais para isso, com métricas e selos que advenham das nossas características e modelos de negócios. Parece um bom caminho para ação no ano que se iniciará em poucos dias: Polo Industrial de Manaus – empresas amigas do clima.
Augusto Cesar Barreto Rocha
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Anos atrás havia um dilema no Polo Industrial de Manaus (PIM): como aumentar a qualidade dos produtos? Havia uma mancha, aqui, acolá, afirmando que nossos produtos possuiriam qualidade duvidosa, que só existiriam empresas que montavam kits, trocavam etiquetas ou teriam produtos de origem suspeita, com qualidade inferior. Um dos passos arrojados que apagaram esta fama foi a obrigatoriedade da adoção de um sistema de gestão da qualidade, alicerçado em um sistema internacional, a série 9000 da International Standard Organization (ISO), acolhida pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e considerada compulsória pela Suframa.
Mesmo com um repúdio inicial, percebeu-se que isso traria (e trouxe) ao PIM um novo patamar para a qualidade de seus produtos, onde as empresas implementaram e mantêm um sistema de gestão da qualidade (ABNT NBR ISO 9000), que pouco a pouco se expandiu para outras questões da gestão, como o meio ambiente (ISO 14.000), responsabilidade social (ISO 26.000), segurança do trabalho (ISO 45.001) e outras, como segurança da informação (ISO 27.001) e por aí se segue, com maior ou menor adesão das empresas. A questão é que este tipo de obrigatoriedade precisa mais que ser um selo, mas algo que agregue valor para o negócio, tanto para os acionistas, quanto para os clientes.
O mundo está em um novo momento. Há uma questão posta para todos que acreditam em ciência, tecnologia e inovação: o aquecimento global. Este é o pano de fundo que vem colocando luz sobre as ações brasileiras em relação à Amazônia, quando elas são nefastas. Podemos seguir numa luta afirmando que o mundo está errado no desafio de combater o aquecimento global, o que será uma luta fadada ao fracasso, ou poderemos nos aliar ao esforço contra o aquecimento do planeta. Como a indústria local pode se juntar ao lado vencedor? Não acredito em mudanças instantâneas, mas entendo que traçar rotas para um alvo é algo possível, desde que saibamos para onde queremos ir. Assim, começar a medir a pegada de carbono de cada negócio poderá ser algo interessante para ser investigado.
O alvo de um PIM com pegada zero de carbono é arrojado. Medir o quão distante estamos desta transformação pode ser uma oportunidade. Poderemos ter em Manaus um centro mundial que compreenda, com ciência, tecnologia e negócios, que consigam ao mesmo tempo proteger a floresta e combater o aquecimento global. Poderemos ter indústrias que coloquem em suas estratégias estas mesmas questões, medindo, mitigando e divulgando a sua trilha para a neutralização de carbono, mesmo que seja no longo prazo. Possuímos um conjunto amplo de questões positivas e precisamos divulgá-las. Possuímos uma indústria de classe mundial, mas precisamos agir como tal, de uma maneira compatível com a responsabilidade que nos cabe, por estarmos no coração da Amazônia.
Acredito que ainda não chegou a hora das fábricas neutras em carbono, mas precisamos começar a caminhar para esta utopia e há um acordo global de Paris para 2050. Tal qual no passado caminhamos de fábricas com amontoados de linhas de produção, para fábricas classe mundial, com sistemas de gestão da qualidade implantados em todas as plantas fabris, poderemos começar a ter indicadores de neutralização de carbono, com ações crescentes para proteção da floresta e atuação na direção vencedora. Temos a oportunidade de definir os padrões globais para isso, com métricas e selos que advenham das nossas características e modelos de negócios. Parece um bom caminho para ação no ano que se iniciará em poucos dias: Polo Industrial de Manaus – empresas amigas do clima.
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