Entrevista com Adalberto Luís Val – INPA, ABC e TWAS
Escolhido como principal representante da Amazônia para compor a Academia Mundial de Ciência, TWAS, da sigla em inglês, Adalberto Luís Val recebeu o editor do Portal BrasilAmazôniaAgora , do qual é um dos fundadores, para falar de Ciência e de seu papel no enfrentamento das desigualdades regionais de um Brasil dividido e em crise. E aproveitou para questionar as promessas internacionais e messiânicas de apoio para pesquisa e desenvolvimento sustentável da Amazônia. Confira:
Por Alfredo Lopes
__________________
BrasilAmazôniaAgora – O fato de integrar, doravante, a comunidade dos maiores cientistas da terra, quais as implicações deste fato no seu cotidiano de pesquisador na Amazônia?
Adalberto Val – Essa indicação para a TWAS (Academia Mundial de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento) representa para mim o coroamento do trabalho que desenvolvemos aqui na Amazônia, representa muitas colaborações com colegas de outros países, as principalmente com os colegas daqui da Amazônia, do Amazonas, de Manaus, do INPA. Sem essas interações nada teria sido possível. Ciência é uma atividade social, com fins sociais. Precisamos, como cientistas, olhar nosso entorno e enxergar as perguntas que a sociedade e o ambiente apresentam. Ao longo do tempo, entendi que sem gente qualificada não conseguiríamos avançar e junto com muitos colegas ajudamos a treinar e capacitar muitos mestres e doutores e sou muito feliz por isso. Dessa interação e mais o trabalho desenvolvido no nosso laboratório, apoiado pelo CNPq, pela FAPEAM, pela CAPES, e com as pesquisadoras e os técnicos que lá atuam, construímos juntos um momento novo para a pesquisa na Amazônia. Há muito trabalho na pesquisa e na intensa luta para reduzir os desequilíbrios regionais, particularmente neste momento em que a Ciência e a Tecnologia têm sido colocadas num segundo plano da agenda nacional.
BAA – As conclusões e decisões da COP26 nos deram algum motivo para acreditar em mudanças na política ambiental do Brasil em favor da Amazônia?
ALV – Não. Não basta dizer, tem de mostrar. A Amazônia teve um ano (2021) de intensa destruição. A destruição que vemos na região resulta na falsa impressão de que estamos tendo mais emprego e geração de renda. É só impressão! Latifundiários, que muitas vezes nem moram aqui, destroem o maior patrimônio que o Brasil tem, enriquecem e deixam a destruição na região que resulta na deterioração da qualidade de vida. Nós precisamos exercer cada vez mais pressão sobre os governos para que a qualidade ambiental seja conservada.
BAA – Com o corte mortal de verbas para a pesquisa, quais as alternativas que nos restam para avançar o conhecimento científico? Parcerias internacionais, maior Interação com o setor privado…?
ALV – A Ciência vive um momento dramático na Amazônia. Cortaram os recursos internos e os recursos externo, propalados aos quatro cantos, não chegam aqui na Amazônia. Podem chegar em outros lugares, mas não aqui. Lamentável. Há muitos que falam pela Amazônia e não ouvem os que aqui habitam. Nós temos o lugar de fala e as posições não podem ser invertidas. O dom de escutar precisa ser exercido também.
BAA – A tecnologia nos empurrou para o aumento das emissões de carbono e a tecnologia pode nos tirar do impasse criado por esta civilização predatória. Qual é o papel da ciência nesse contexto?
ALV – Não se trata de fé cega em tudo o que a Ciência diz, mas do único caminho possível. A ciência parte de verdades estabelecidas, para novas verdades. Assim, é necessário usar o que sabemos e, nos cenários que sucedem continuamente, usar o que vamos aprendendo. E aqui, quero sublinhar que a ciência contemporânea pode e deve interagir com o conhecimento que existe no seio social da Amazônia profunda.
Comentários