Um movimento de mais de 10 anos para a criação de um mercado regulado de carbono no Brasil está enfrentando resistências do governo federal. Um projeto de lei apresentado no começo do ano pelo deputado Marcelo Ramos passou por várias discussões com setores empresariais, a Academia e organizações da sociedade civil e parecia pronto para ser aprovado na Câmara e levado à COP26 como um trunfo. Não deu. O Congresso em Foco falou com o deputado que confessou achar que “é surreal que, havendo acordo na Câmara entre situação e oposição para a votação, o empecilho seja justamente o ministério do meio ambiente […] Não há uma explicação racional para a oposição de Joaquim Leite.” Vale lembrar que o mercado que está sendo proposto se assemelha aos europeu e chinês, nos quais as empresas responsáveis por parte importante das emissões brasileiras recebem permissões para emitir durante um dado prazo. Caso emitam mais do que é permitido, podem comprar as permissões daquelas que emitiram menos do que seu teto. O projeto de lei abria a possibilidade de empresas comprarem créditos de carbono de projetos de terceiros para cumprirem suas obrigações.
Em Glasgow, o ministro Leite disse que o país reduziria à metade as emissões até 2030, o que poderia ser uma boa notícia se ele tivesse explicado quanto é essa metade a que ele se refere. Por essas e a extensa ficha corrida antiambiental, cientistas nacionais importantes manifestaram sua desconfiança em relação a este e outros compromissos assumidos pelo país. O Estadão traz uma fala de Tércio Ambrizzi, da USP: “Uma coisa é você falar; outra, agir. O que está acontecendo é uma certa desconfiança de todos nós que temos acompanhado tudo o que vem acontecendo em termos de meio ambiente no país”. Outra matéria, também do Estadão, olha para outras promessas do ministro Leite, como a de parar o desmatamento ilegal até 2028, e se elas comprometem a credibilidade do país. Marina Grossi, do Cebds, se pergunta se “conseguimos conviver com o desmatamento ilegal, que está arranhando a imagem e baixando o nível de investimento das empresas? […] Não conseguimos separar a marca da empresa da marca Brasil. Os empresários estão levantando sua voz em relação ao desmatamento.” O ministro segue a mesma toada de seu mentor, Ricardo Salles, dizendo o quanto os países ricos precisam dar ao Brasil sem se perguntar quem daria dinheiro para um governo de tão pouca credibilidade. Uma terceira matéria do Estadão exemplifica a situação ao mostrar que todas as juras e promessas não destravam os bilhões do Fundo Amazônia. Noruega e Alemanha dizem precisar ver fatos e que palavras bonitas não bastam. Lembrando que esses recursos estão parados no cofre do BNDES.
Em tempo: “Compensar emissões com créditos de carbono é trapaça (cheating)”, segundo Tony Douglas, CEO da Etihad. A Etihad é a empresa aérea dos Emirados Árabes Unidos, que comprou 70.000 créditos de carbono para compensar as emissões dos voos de um único avião ao longo de 2021. Os créditos vieram de um projeto de REDD na Tanzânia. Segundo a Bloomberg, Douglas completou dizendo que os créditos são “um paliativo de curto prazo, na falta de uma alternativa mais sustentável, mas [no fundo] são uma trapaça”.
Fonte: ClimaInfo
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