“Ganhará um enorme abraço de admiração se apontar com dados e fatos um programa de desenvolvimento regional, como a ZFM, capaz de gerar meio milhão de empregos, ser o quinto maior contribuinte tributário do país e ajudar a manter a floresta em pé. Por sinal, se se mantiverem as promessas e a Amazônia não for destruída, vamos equacionar a crise hídrica, energética e liberal, que tal?”
Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up 11.11.21
A questão ambiental volta à pauta global com o rescaldo da pandemia mundial. Os europeus, especialmente atacados pelos efeitos do vírus e da mudanças climáticas, saíram na frente com a Conferência de Glasgow, seus alertas, propostas e mobilização. Temendo a indiferença de seus pares, líderes se esgoelam para chamar à atenção para a iminência do caos. Nunca se falou tanto em meio ambiente e nunca se viu tanta gente ausente nas medidas de solução. É significativo observar que os jovens ativistas do partido verde, com juventude e energia, quase chegam a ocupar o lugar de Angela Merkel na chancelaria do poder. Bom sinal. A campanha eleitoral, encerrada em setembro, havia colocado os ambientalistas à frente da disputa no início da peleja eleitoral germânica. Foram necessárias as habituais manobras, algumas rasteiras, da “velha política”, para conter Annalena Baerbock, a jovem líder verde e tedesca. O jogo político eleitoral costuma, quando necessário, ser efetivamente perverso e decisivo para conter o avanço de adversários ao poder. Mais longe, porém, já esteve.
E o que tudo isso tem a ver com os rumos da economia do Brasil, da Amazônia e da ZFM neste chove-não-molha da crise hídrica e querela política federal? Estamos em clima antecipado da temporada de caça e captura de votos com reflexos ambivalentes na rotina regional. E o debate climático vai desempenhar um fator relevante nos argumentos/promessas dos candidatos e seus programas de governança ou representação parlamentar, principalmente depois que o governo central resolveu aderir à redução nas emissões do metano – provocadas pela abundante população bovina – e o combate ao desmatamento da Amazônia. Promessas a serem monitoradas.
A questão climática, que tem abalado fortemente a economia, não pode ser mais tratada com medidas paliativas e debates superficiais no país. Nossa região tem um papel crucial e se dela não cuidarmos, poderemos contribuir fortemente para os riscos de destruição desta civilização predatória. Temos que nos apropriar do conhecimento e do comprometimento cívico/científico e tecnológico com a Amazônia. E precisamos inserir este critério de avaliação política na escolha de nossos representantes em 2022. Precisamos olhar o currículo de todos os candidatos, para todos os cargos eletivos. Quem conhece o assunto, como foi atuação deste ou daquele político, que contribuição foi dada par enfrentamento da crise. É inaceitável uma política ambiental que desautorize o país e seus governantes com escolhas erradas, prioridades alopradas de destruição da floresta. Temos que escolher representantes comprovadamente habilitadas para o exercício da gestão econômica e socioambiental do país.
Voltando aos verdes alemãs, poucos dias antes das eleições, o organismo da ONU, responsável pelo clima, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), apresentou um documento robusto demonstrando a ação humana como a principal causa do aquecimento global. Os alemãs leem jornais e debatem o noticiário cotidiano. Pra reforçar as escolhas no fator ambiental, as enchentes nunca foram tão destrutivas, e o verão tão devastador como este ano de pandemia. A bandeira climática também foi vitoriosa na pregação de Joe Biden, que acaba de ser aquinhoado com a autorização do Congresso norte-americano com 1 trilhão de dólares para investimentos em infraestrutura e combate ao aquecimento global. Não precisa de melhor exemplo para ilustrar a gravidade do tema.
Chamou a atenção de todos a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, num debate literalmente virtual, ou seja, sem referência factual, de transformar a Amazônia na Selva do Silício, concedendo 20 anos de isenção fiscal. Isso mesmo. Uma manifestação liberal estranha por parte de quem ficou três anos de seu mandato tomando medidas antipáticas e nocivas à economia do programa Zona Franca de Manaus, a quem costuma atribuir danos fiscais e prosopopeias em profusão.
Para ele, nossas empresas são obsoletas e seus incentivos devem ser redirecionado para as mega indústrias americanas ou chinesas de tecnologias avançadas e de soluções revolucionárias. Isso, entretanto, não mais nos afeta. Afinal, sua excelência, consumado o calote dos precatórios e não realizando a reforma administrativa e fiscal, conseguiu até aqui ser uma unanimidade às avessas em seus avanços, deixando todos os segmentos com um gosto de frustração em suas expectativas de uma revolução econômica, liberal e socioambiental de que o Brasil precisa para voltar ao cenário internacional. Ganhará um enorme abraço de admiração se apontar com dados e fatos um programa de desenvolvimento regional, como a ZFM, capaz de gerar meio milhão de empregos, ser o quinto maior contribuinte tributário do país e ajudar a manter a floresta em pé. Por sinal, se se mantiverem as promessas e a Amazônia não for destruída, vamos equacionar a crise hídrica, energética e liberal, que tal?
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