Quais são as demandas do Polo industrial para o investimento em Programas de Bioeconomia e o que a indústria pode ganhar com isso? Desde que começou a financiar o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), há 20 anos, a indústria tem muito clara sua expectativa nessa articulação para diversificar nossa planta industrial.
Nelson Azevedo
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Há um movimento de várias procedências para diversificar o perfil do Polo Industrial de Manaus na direção da Bioeconomia, tanto no discurso como no rigoroso empenho de alguns atores locais. Uma vocação econômica e ecológica referendada pela obviedade. Aqui borbulham, segundo estimativas do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), mais de 20% do banco genético do planeta, o que sugere o tamanho das respostas para os desafios que inquietam a humanidade.
Por isso, desmatar é o mesmo que renunciar ao futuro da prosperidade sustentável. É recusar-se à descoberta das senhas de acesso aos tesouros da diversidade biológica, premissa do crescimento integral e integrada da sociedade. Por isso, investir em pesquisa, desenvolvimento, inovação e mercado no bioma amazônico é certeza de desvendar as saídas de que o Brasil e esta civilização predatória precisam para recuperar o elo perdido da sustentabilidade e da equidade civil.
Conceito estruturante
E é exatamente este o conceito estruturante do PPBio, o programa prioritário de Bioeconomia da Suframa, que incentiva empresas a investir parte de seus recursos de inovação para diversificar a economia da ZFM (Zona Franca de Manaus) e proteger a ecologia. PPBioeconomia é resultado de muita insistência dos atores locais para destravar os problemas de adoção de projetos e programas de consolidação/interiorização da economia, como é cobrado frequentemente das empresas do Polo Industrial de Manaus.
Acusam-nos até de “receber dinheiro público a fundo perdido para produzir bicicletas na floresta”, mesmo não havendo um centavo de verbas públicas no programa ZFM. A Suframa, nesse contexto, fez uma virada para assegurar quatro programas prioritários para o aporte de parte dos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação (P&D&I) oriundos da Lei de Informática (Lei nº 13.674, de 11 de junho de 2018).
Portanto, além de Bioeconomia, temos o de Economia Digital, Formação de Recursos Humanos e Fomento ao Empreendedorismo Inovador. Há uma estreita conexão conceitual e sistêmica entre eles e seu acompanhamento é feito pelo Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento na Amazônia (CAPDA), que é responsável pela gestão dos recursos oriundos dos investimentos das empresas, com representação das empresas, comunidade científica e atores federais.
O que a indústria pode ganhar?
Quais são as demandas do Polo industrial para o investimento em Programas de Bioeconomia e o que a indústria pode ganhar com isso? Desde que começou a financiar o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), há 20 anos, a indústria tem muito clara sua expectativa nessa articulação para diversificar nossa planta industrial.
Há seis anos, reunidos com os pesquisadores do CBA, detalhamos alguns problemas e expectativas, entre eles o alto custo da alimentação no estado que importa 80% do que consome. Isso se reflete na planilha de custos das empresas. Daí a importância de inovar em rações balanceadas para a piscicultura, fruticultura, pecuária de leite, entre outras ações e inovações de segurança alimentar. A lista é robusta e o imperativo da sustentabilidade só a faz crescer.
O enigma do plástico
O desafio do segmento de plástico já é uma das muitas frentes do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia(IDESAM), uma das mais acreditadas instituições não-governamentais a quem a SUFRAMA conferiu a gestão do PPBio. “É um sonho antigo consolidar um arranjo produtivo para inovar o setor de plásticos, com novos bioinsumos ou aditivos amazônicos que busquem reduzir a dependência de materiais não-renováveis”, diz Mariano Cenamo, diretor de Novos Negócios do Instituto.
Não é sem razão que o IDESAM coordena o programa de aceleração do PPA (Parceiros pela Amazônia) da USAID, um órgão ligado à embaixada dos Estados Unidos no Brasil, apoiado pelas empresas americanas do Polo Industrial de Manaus.
Fibras amazônicas
Substituição das fibras de vidro de celulares, motocicletas entre outros, por fibras amazônicas de alta resistência e ambientalmente biodegradáveis. Basta revisitar os acervos e coleções do INPA, o cardápio de biosoluções da Embrapa, com o super guaraná de Maués, que devolveu a liderança nacional do Amazonas na produção do lendário guaraná, entre outras promessas da nanobiotecnologia.
Geração de empregos, oportunidades de desenvolvimento inteligente de insumos, resinas, biomolécula para soluções que reconciliem homem e natureza, na junção da cadeia produtiva com a cadeia do conhecimento em movimentos certeiros para antecipar a utopia amazônica, de uma civilização não predatória cujos pilares e andaimes foram ofertados pelas empresas aqui instaladas, comprometidas com a diversificação de uma economia que deposita na Ciência as fichas da transformação.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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