“…se a História nos ensina algo sobre como lidar com fascistas, é que o apaziguamento é inútil. Ceder a fascistas não os apazigua, apenas os encoraja a avançar mais.” – Paul Krugman
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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Quem merece ter voz alta e pública? Quem merece repercussão expressiva? Até onde vai a liberdade? Existe liberdade com agressão? Existe liberdade sem agressividade contra o erro? Vale a pena repercutir mentiras? Linhas divisórias são difíceis de estabelecer em um ambiente de liberdade. Por outro lado, são fáceis de estabelecer em um ambiente autoritário.
O culto e o cultivo de inimigos é uma estratégia populista, segundo o jornalista João Gabriel de Lima. A semana passada foi repleta de eventos que trazem esta reflexão para quem não está nos extremos do pensamento, distorcidos por algum tipo de hipnose intelectual, que acredita que o mundo tem a chance de ser binário, maniqueísta ou que sua opinião é a única certa e o resto do mundo está errado.
O papel da imprensa e das redes sociais é expressivo neste contexto. O dia da contagem de votos no Colégio Eleitoral dos EUA foi um alerta para todas estas questões. Os desdobramentos podem ser uma lição. Por exemplo, Paul Krugman, no New York Times, asseverou que “se a História nos ensina algo sobre como lidar com fascistas, é que o apaziguamento é inútil. Ceder a fascistas não os apazigua, apenas os encoraja a avançar mais.”
Esta lembrança nos lembra da importância da constante vigilância sobre aqueles que querem assumir o papel de comando em uma sociedade. A responsabilidade enorme da imprensa não só em repercutir o que se faz, mas também em ignorar e não repercutir as estupidezes que incitam outras estupidezes, uma vez que ela pode estar simplesmente sendo usada para amplificar a diáspora. Assim, repudiar o que é errado é uma necessidade para manutenção da liberdade. O emblemático e bem-vindo banimento feito pelo Twitter e Facebook chegou tarde, mas chegou.
É claro que a história demonstra que a verdade termina por prevalecer. O problema é que nossas vidas podem ser muito curtas para chegarmos na demonstração delas, pois, algumas mentiras prevalecem e quem vê que é mentira precisa aproveitar a oportunidade, enquanto perdurar a liberdade para a dialética. Todavia, se mentiras e agressões são repercutidas e repetidas como se verdade fossem, isso pode levar a um período de sombras. Estamos dispostos a isto? É mais fácil se insurgir antes das sombras ganharem força demais. Assim, aqueles deslizes que fomos levados a cometer podem ser reparados com posições claras e contrárias ao que está errado.
Tudo isso, para chegar ao tema do título. Tenho claríssima consciência acadêmica e de vida: se tem uma coisa mal conduzida nesta pandemia é a gestão logística da solução, pelo menos no que tem vindo à público. Gerir a logística de uma vacina é bem diferente do que tem sido feito. Quando existe um produto altamente demandado, com capacidade produtiva abaixo da demanda, quando tenho a necessidade dele, com poucos fornecedores e tempo, a conclusão é simples: não brigue com seu fornecedor. Una-se a ele. Entenda o problema pelo lado dele. Construa pontes. Construa soluções conjuntas. Respeite a mais básica das leis econômicas, que é a lei da Oferta versus Demanda. Está fartamente expresso na literatura. Está nas salas de aulas. Nas fábricas. Nos comércios de bairro. No meio das guerras. No meio do mundo pacífico. E não é nada disso o que vemos no Brasil contemporâneo.
Por fim, convém também observar que sem vacina não há fim de pandemia – há apenas o aumento constante, ora lento, ora rápido, das mortes. Gestão errada com boas intenções continua sendo gestão errada. O caso da Suécia é emblemático para quem não acredita nisso. Por outro lado, tudo depende do que se quer: mais ou menos mortes? O que afinal, queremos produzir neste estilo de gestão? Como não sei o que os gestores querem, deixo apenas a pergunta, para que o leitor se faça e conclua por si, concentrando-se nos fatos e se afastando do discurso.
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