“A abordagem de Denis Minev e Etelvina Garcia destaca uma discordância fundamental entre a visão do Brasil para a Amazônia – frequentemente vista como um grande parque, ou o último jardim do mundo – e o que os Amazônidas realmente desejam para a região. Esse diálogo reforça o papel crucial da Fundação Getúlio Vargas na promoção de discussões que visam reconciliar essas perspectivas divergentes, buscando soluções que favoreçam um desenvolvimento sustentável e inclusivo para a Amazônia e seus habitantes”.
Anotações de Alfredo Lopes para a Coluna Follow-up
Na última edição dos Diálogos Amazônicos da Fundação Getúlio Vargas, no último dia 29, a contribuição do economista e empresário Denis Benchimol Minev iluminou uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento da Amazônia, distanciando-se da narrativa comum que foca predominantemente no desmatamento. Em um rico diálogo com a jornalista e historiadora Etelvina Garcia, Minev ofereceu insights valiosos sobre alternativas para uma gestão socioeconômica e ambiental na Amazônia que beneficie, acima de tudo, os Amazônidas.
Todas as vezes que a dupla Márcio Holland e Daniel Vargas destacam os “nativos” para dialogarem entre si, prosa de Amazônidas sobre a Amazônia, o debate toma proporções inesperadas, deliciosas e, com certeza, mais envolventes. Foi assim nos Diálogos Amazônicos com Etelvina Garcia, jornalista, historiadora e escritora, uma referência memorial e de historiografia crítica e densa, e Denis Benchimol Minev, CEO do Grupo Bemol, formado em Stanford, com um vasto portfólio de reflexão e ações empreendedoras na Amazônia.
Ele é descendente de judeus marroquinos que chegaram à Amazônia, a Nova Terra Prometida, nos meados do Século XIX, pioneiros e empreendedores que construíram os pilares da transformação a partir dos dois Ciclos da Borracha, e que propiciaram um legado de oportunidades e prosperidade decisivo e definitivo para a região.
Em dado momento dos debates, a questão do avanço da fronteira agrícola trouxe à luz os equívocos do desmatamento como política de desenvolvimento. Minev argumentou que a discussão sobre o desmatamento, embora relevante, tende a reduzir a Amazônia a um conjunto de problemas a serem resolvidos, ignorando as inúmeras oportunidades que a região oferece. Ele destacou a necessidade de uma economia formalizada, infraestrutura adequada, e investimento em ciência e educação como pilares para um desenvolvimento sustentável. O empresário criticou a informalidade econômica prevalente na região, que abrange desde a construção de casas até a captura de peixes e o corte de madeira, todos realizados ilegalmente.
É preciso estudar e adotar as vantagens para as ações diametralmente opostas ao desmatamento. E Minev cravou um neologismo para expressar a incursão de seu raciocínio: o rematamento, um movimento para recompor a floresta no esplendor de seus serviços ambientais, do aproveitamento inteligente de propagação das espécies com alto valor agregado e agregáveis. Estes são o caso das oleaginosas e palmáceas famosas como o açaí, o dendê, a copaíba e a andiroba, e entre outras espécies que, como a seringueira e a castanha do Brasil, a seu tempo, representaram ciclos de fartura e prosperidade.
Eis porque se faz necessária a presença de um estado inteligente, que vá além da simples redução do desmatamento e que promova uma economia próspera e produtiva, foi um dos pontos centrais de sua argumentação. Minev também sublinhou a importância da infraestrutura, como comunicações robustas e serviços básicos, para atrair e reter profissionais qualificados nos municípios da Amazônia.
Além disso, o economista apontou a educação e a ciência como fundamentais para o progresso, mencionando instituições como a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) como exemplos de esforços em direção ao desenvolvimento, mas criticou a limitação de seus recursos e ambições.
Minev propôs uma visão audaciosa – o rematamento – para o futuro da Amazônia, focando na reutilização das áreas já desmatadas para torná-las extremamente produtivas. Ele argumentou que a região possui potencial para ser uma das mais produtivas do mundo, devido ao seu clima, biodiversidade e disponibilidade de água. A transformação dessas áreas não só contribuiria para reduzir o debate sobre o desmatamento, mas também aumentaria a floresta através de plantações produtivas, aproveitando oportunidades como o crédito de carbono e a produção de alimentos, madeira e outros insumos para o mundo.
A abordagem de Minev e Garcia destaca uma discordância fundamental entre a visão do Brasil para a Amazônia – frequentemente vista como um grande parque – e o que os Amazônidas realmente desejam para a região. Esse diálogo reforça o papel crucial da Fundação Getúlio Vargas na promoção de discussões que visam reconciliar essas perspectivas divergentes, buscando soluções que favoreçam um desenvolvimento sustentável e inclusivo para a Amazônia e seus habitantes.
Denis Minev é diretor-presidente da Bemol e cofundador da Fundação Amazonas Sustentável, do Museu da Amazônia, da plataforma Parceiros Pela Amazônia e parceiro do portal BrasilAmazôniaAgora. É também investidor em diversas startups amazônicas nos segmentos de bioeconomia, carbono, logística e turismo e serviu como Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas. Em 2012, foi selecionado Young Global Leader do Fórum Econômico Mundial.
Etelvina Garcia é professora, jornalista e escritora Amazonense
A coluna follow-up é publicadas às quartas, quintas e sextas feiras pelo Jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor do portal BrasilAmazoniaAgora
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