A transformação da Amazônia em um centro de bioeconomia está moldando um futuro em que inovação e conservação caminham juntas, impulsionando o desenvolvimento econômico sem comprometer o meio ambiente.
“Sob o compromisso da inovação e da sustentabilidade, a região pode abrir trilhas e atalhos para uma nova era de prosperidade que seja ambientalmente responsável e economicamente viável“
Por Alfredo Lopes
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A Amazônia, reconhecida globalmente por sua biodiversidade sem paralelos, é um gigantesco sumidouro de carbono, crucial para a regulação climática global e a mitigação das mudanças climáticas. Além deste propósito, o maior desafio do Brasil, onde a Amazônia concentra sua maior parcela, é transformar seu imenso potencial biológico em uma economia diversificada e sustentável, tornando-a um paradigma global de desenvolvimento econômico alinhado à conservação ambiental. Além do turismo e serviços ambientais, com efeito, a bioeconomia surge como uma das vocações mais coerentes com este monumental bioma.
Nos debates da reforma tributária, esta vocação foi debatida insistentemente. E, assim como o Vale do Silício demonstrou o impacto de investimentos e políticas públicas bem direcionados na criação de um ecossistema inovador, a Amazônia tem o potencial para se tornar um centro global e referencial de bioeconomia. Utilizando sua rica biodiversidade como base, a região pode desenvolver novas indústrias e tecnologias que se alinhem com os princípios de desenvolvimento sustentável como exigem os desafios da mudança climática.
Diversas iniciativas já mostram como a biodiversidade amazônica pode ser utilizada de maneira sustentável. Empresas locais e startups estão desenvolvendo produtos inovadores, como novos medicamentos, cosméticos derivados de ingredientes naturais, e materiais sustentáveis que estão redefinindo as práticas industriais tradicionais. Esses casos não apenas promovem a economia local, mas também demonstram o vasto potencial econômico da biodiversidade amazônica. Temos orgulho de mencionar que estas iniciativas tem surgido a partir dos programas prioritários de bioeconomia financiados através da SUFRAMA-IDESAM com verbas de P&D, do Polo Industrial de Manaus – PIM.
A transformação da Amazônia em um hub de bioeconomia, entretanto, enfrenta desafios significativos, como a necessidade de infraestrutura de pesquisa avançada e de um ambiente regulatório facilitador. Soluções incluem o aumento dos investimentos em educação e formação de capital humano, bem como a implementação de políticas que incentivem a colaboração entre o setor público e privado e a politica de incentivos fiscais para empresas que investem em tecnologias sustentáveis.
Algumas estratégias de implementação se impõem, como a utilização de matérias-primas sustentáveis, incluindo técnicas de clonagem e de inovação em borracha, bioplásticos, resinas, consolidadas pela Embrapa e demais instituições de pesquisa regional. São exemplos de como a tecnologia pode revitalizar indústrias tradicionais sem causar danos ambientais. A substituição de materiais sintéticos por alternativas biodegradáveis, como a fibra de curauá, representa um passo importante na redução da pegada ecológica da indústria.
Fomento à pesquisa e desenvolvimento, portanto, é crucial. E sugere o fortalecimento e multiplicação de Centros de Bionegócios da Amazônia, CBA, a partir das verbas de P&D na Zona Franca de Manaus, além das verbas estaduais já existentes de fomento de micro e pequenas empresas. Isso poderia catalisar a inovação, atraindo investimentos e parcerias estratégicas nacionais e internacionais, e fortalecendo a posição da Amazônia como líder mundial em bioeconomia.
Já dispomos, desde os primórdios da ZFM, de políticas de sustentabilidade, de qualidade e de proteção florestal como premissas da contrapartida fiscal, inseridas dentro do Processo Produtivo Básico – PPB. Isso pode ser claramente observado nas atividades industriais de setores como, por exemplo, de duas rodas, cada vez mais envolvidos com a preservação ambiental e à implantação de políticas ESG.
Ou seja, certificações ambientais e incentivos governamentais são essenciais para garantir que as práticas industriais na Amazônia sejam cada vez mais sustentáveis, e a diversificação, adensamento e interiorização do desenvolvimento, mais perenes. Estas políticas ajudariam a atrair novos negócios, garantindo que o crescimento econômico da região sempre beneficie e proteja o meio ambiente.
Educação, portanto, aliada ao engajamento da comunidade são diretrizes vitais. Os investimentos em educação e capacitação da força de trabalho local vão garantir que a comunidade se beneficie das novas oportunidades e assuma seu protagonismo na mudança. Campanhas de conscientização podem aumentar mais ainda o apoio público às iniciativas de conservação e disseminação de benefícios às novas gerações. Adicionalmente, um sistema de monitoramento e avaliação ajudaria a assegurar que as atividades industriais na Amazônia sejam conduzidas de forma responsável, minimizando impactos negativos no ambiente.
Por fim, a Amazônia tem uma oportunidade única de liderar o mundo em bioeconomia, mostrando que é possível crescer economicamente de forma sustentável. Sob o compromisso da inovação e da sustentabilidade, a região pode abrir trilhas e atalhos para uma nova era de prosperidade que seja ambientalmente responsável e economicamente viável. Agora é o momento de agir, transformando potencial em realidade.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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