Podendo ser pior do que a do ano passado, a seca no Amazonas está causando grandes prejuízos para a região. O governo implementa medidas emergenciais para mitigar os impactos.
Confirmando a previsão de que este ano seria marcado por uma das mais severas estiagens já registradas, a seca no Amazonas está entregando o que prometeu desde junho.
Dados do Monitor de Secas, divulgados pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), revelam que o Amazonas registrou a condição de seca mais severa do Brasil, com 5% do território do estado enfrentando seca extrema.
Conforme o levantamento, a área afetada pela seca no Amazonas caiu de 100% para 95% entre maio e junho, a menor extensão desde setembro de 2023. No entanto, a intensidade do fenômeno aumentou, impactando significativamente os rios da região. Isso afeta o transporte fluvial de passageiros, o abastecimento de alimentos e medicamentos para o interior, além da chegada de insumos para a indústria e o comércio. A produção rural também sofre com os prejuízos causados pela seca.
Em todo o território nacional, a área com seca grave subiu de 28% para 37%, a condição mais severa desde março deste ano. Na Região Norte, as áreas com seca grave aumentaram de 15% para 20% entre maio e junho. Além do Amazonas, o Acre também está entre os estados da região que registraram maior intensificação da seca.
Causas e efeitos da seca
A seca faz parte da dinâmica ambiental dos biomas e não é diferente na Amazônia. Porém agora este evento climático se tornou extremo e está intimamente ligado às mudanças climáticas e aos efeitos do El Niño. Em todo o Brasil, mais de mil cidades estão sob essa condição. O El Niño provocou recordes de calor no ano passado, com chuvas abaixo da média e aquecimento dos oceanos. Este ano, a seca se acentuou ainda mais devido à falta de umidade, ocasionada pela estiagem de 2023.
O Amazonas, que enfrentou uma seca histórica no ano passado, já se prepara para condições possivelmente ainda mais adversas. O Governo do Estado vem trabalhando de forma antecipada para mitigar os efeitos da estiagem. O pacote de medidas inclui ajuda humanitária, abastecimento das comunidades com água potável e envio de medicamentos e insumos pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM).
O impacto da seca também se reflete no aumento das queimadas. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que os focos de incêndio aumentaram 338% em relação ao mesmo período do ano passado. Municípios como Apuí, Lábrea, Manicoré e Humaitá são os mais afetados, com o Corpo de Bombeiros do Amazonas trabalhando incansavelmente para controlar os incêndios.
Crise hídrica no rio Purus e Madeira
Os rios Purus e Madeira estão em situação crítica de escassez de água, conforme classificado pela ANA. A situação foi oficializada pela Resolução Ana Nº 202 e 203, de 30 de julho de 2024, publicada no Diário Oficial da União. Seis municípios do Amazonas, situados ao longo do rio Purus, estão em situação de emergência desde 5 de julho devido à seca.
Situação de Envira e outras comunidades isoladas
A seca no Amazonas é muito intensa no município de Envira, localizado no sudoeste do estado. Um relatório recente da Defesa Civil municipal revela que nove comunidades rurais estão completamente isoladas, com o comércio local sofrendo devido à escassez de alimentos e ao aumento exponencial dos preços.
Mais de 10 mil pessoas em Envira estão enfrentando desabastecimento, com os preços de alimentos básicos e materiais de construção disparando. O preço da farinha, por exemplo, subiu de R$ 120 para R$ 270, e outros produtos, como frangos congelados e verduras, aumentaram significativamente. Além disso, materiais de construção estão escassos, com aumentos de preço de até 25%.
O relatório da Defesa Civil destaca que diversas comunidades, incluindo Niterói, Lago do Zé Anjo, Aldeia Macapá, Lago dos Patos, Brisa, Aty III, Igarapé do Rato, Igarapé do Repartimento e Amarram, estão isoladas. Ismael Dutra, chefe da Defesa Civil municipal, alerta sobre a visível aparição de bancos de areia no Rio Tarauacá, que causaram naufrágios de embarcações que transportam cargas para o município.
A situação de seca severa em Envira reflete um problema mais amplo que afeta todo o estado do Amazonas. Vinte dos 62 municípios do estado já declararam estado de emergência, e o governo prevê que a situação deste ano pode ser ainda pior do que a maior seca já registrada na história do estado no ano passado.
Queimadas aumentam drasticamente
Outro dado preocupante é o aumento das queimadas. Os focos registrados no Amazonas nos primeiros 22 dias de julho foram 338% maiores do que no mesmo período do ano passado. Em 2023, foram 347 focos, enquanto este ano o número saltou para 1496, conforme dados do Programa de Monitoramento de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Em 21 de julho, um domingo, foi registrado o maior número de focos de queimadas no Estado em 2024, com 301 pontos. Mais de 90% dos registros são do sul do Amazonas, especialmente em Apuí, Lábrea, Manicoré e Humaitá. O Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) informou que, somente no dia 22 de julho, atuou no combate a 70 focos de incêndio em áreas de vegetação no município de Manicoré.
Medidas emergenciais
O governador Wilson Lima implementou diversas medidas voltadas para a produção rural, dragagem em trechos dos rios Amazonas e Solimões, em articulação com o governo federal, e logística para manutenção do funcionamento das escolas da rede estadual de ensino. Recentemente, foram anunciadas medidas de suporte à indústria, comércio e empresas de serviços, que enfrentarão dificuldades no transporte de produtos e arrecadação de tributos.
Decretou também estado de emergência em várias regiões e implementou uma série de ações preventivas. Estas incluem o abastecimento de água potável, o envio de insumos e medicamentos, suporte à produção rural, e a manutenção das redes de educação e saúde. E está trabalhando em parceria com organizações internacionais, como o Fundo das Nações Unidas (Unicef) e a União Europeia, para mitigar os impactos da seca nas comunidades mais vulneráveis, incluindo indígenas e ribeirinhos.
Além disso, o Governo do Estado conseguiu a liberação de licenças ambientais prévias, concedidas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), para a instalação de dois portos provisórios, entre Itacoatiara e a enseada do Rio Madeira, facilitando o transporte e recebimento de insumos para as empresas do Polo Industrial de Manaus, além do escoamento da produção.
Ação contra empresas de transporte
Empresas estrangeiras de transporte de cargas nos rios amazônicos começaram a cobrar a “taxa da pouca água” devido aos baixos níveis de água, o que levou o Governo do Amazonas a entrar com uma ação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra essas práticas. A Procuradoria-Geral do Estado alega que as transportadoras aumentaram os valores de forma arbitrária e anteciparam a cobrança, caracterizando possível infração à ordem econômica e prática de cartel.
A necessidade de planejamento e previsão
Diante de uma crise de tamanha magnitude, é imperativo que governos e sociedades adotem uma abordagem de longo prazo e se preparem para o futuro. A previsão e a antecipação são ferramentas essenciais para lidar com os desafios complexos apresentados pelas mudanças climáticas. A relação entre a saúde do planeta e o bem-estar humano é intrínseca, e a preparação para eventos climáticos extremos é crucial para garantir a resiliência das comunidades e a proteção dos ecossistemas.
Para saber mais sobre isso, acesse o seguinte texto (está imperdível):
Com informações do G1 e do BNC
FAQ
O que está causando a seca severa no Amazonas?
A seca severa no Amazonas é causada por uma combinação de fatores, incluindo mudanças climáticas e os efeitos do fenômeno El Niño, que resultaram em chuvas abaixo da média e aumento das temperaturas.
Quais são os impactos mais significativos da seca na região?
Os principais impactos incluem dificuldades no transporte fluvial, comprometimento do abastecimento de alimentos, água potável e medicamentos para o interior, desafios na produção rural, aumento significativo das queimadas, morte de fauna aquática, como botos e peixes e isolamento de comunidade.
Quais medidas o Governo do Amazonas está tomando para mitigar os efeitos da seca?
O governo implementou um pacote de medidas, incluindo ajuda humanitária, abastecimento de água potável para comunidades, envio de medicamentos e insumos, suporte à produção rural, dragagens nos rios, e medidas de suporte à indústria e comércio.
O que é a “taxa da pouca água” e por que está sendo cobrada?
A “taxa da pouca água” é uma cobrança das empresas de transporte marítimo para compensar a utilização limitada de contêineres devido aos baixos níveis de água. No entanto, o governo do Amazonas entrou com uma ação contra as transportadoras, acusando-as de cobrar essa taxa de forma antecipada e excessiva, buscando lucros arbitrários.
Qual é a previsão para a continuidade da seca no Amazonas?
A previsão é que a seca continue a ser severa, possivelmente com condições ainda mais adversas do que as registradas no ano passado.
Como as queimadas estão relacionadas com a seca?
A seca cria condições propícias para a ocorrência de queimadas, especialmente nas áreas de vegetação seca. Este ano, os focos de queimadas no Amazonas aumentaram 338% em comparação com o mesmo período do ano passado, com a maioria dos registros concentrados no sul do estado.
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