“A Bioeconomia permitirá que a Zona Franca de Manaus continue sendo um modelo de inovação e integração econômica, tanto para o Brasil quanto para o mundo, e a mais representativa confirmação do quanto é viável o desenvolvimento com respeito ao meio ambiente, um desafio que o mundo, antes tarde do que nunca, passa a levar a sério.”
Por Nelson Azevedo
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Mudanças exigem escolhas e propósitos. E entre eles o fator humano sempre aparece como essencial. A Zona Franca de Manaus (ZFM), base de 85% da movimentação da economia regional, emerge como um pilar da base produtiva, sustentada por estatutos constitucionais que asseguram sua continuidade. Afinal, são quase 60 anos de empregos, renda, tributos, efetividade e oportunidades sem precedentes. Além de um bastião industrial, a ZFM configura-se como um horizonte de novas possibilidades, apontando para a diversificação, adensamento e regionalização da representada pelo Polo Industrial de Manaus.
Das ervas do Sertão à defumação da borracha
Este novo caminho, assoalhado no uso sustentável do banco genético, é um reflexo das dinâmicas econômicas, das demandas globais e também um reconhecimento da riqueza biológica e cultural da Amazônia. Afinal, aqui borbulham mais de 20% dos princípios ativos da Terra. Desde as “Ervas do Sertão” e do Ciclo de defumação da Borracha, a bioeconomia sempre esteve presente como atividade antiga e recorrente que foi nos exigindo o compromisso com a sustentabilidade e sensibilidade às nuances deste bioma único.
As folias tecnológicas do látex
Na semana passada, o Reino Unido confirmou, além da doação de R$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, a disposição de participar do projeto Bioeconomia e respectivas demandas de recursos humanos e tecnológicos. Disso eles entendem. A seleção e melhoria das mudas de seringueira levadas da Amazônia permitiram o cultivo extensivo em seus domínios tropicais há 120 anos. Além disso, eles também mantém em seu Museu Botânico milhares de espécies amazônicas, devidamente pesquisadas e desenvolvidas de acordo com as demandas do mercado.
Natureza e Cultura
A conjuntura atual levanta uma questão fundamental: o que estamos planejando para a qualificação de recursos humanos, técnicos e tecnológicos e asssim poder transitar neste novo cenário? A resposta a esta pergunta é crucial, pois a qualidade do capital humano determinará o sucesso da região em alcançar uma prosperidade duradoura e integrada nacional e mundialmente. Mais do que isso: é preciso assegurar a participação dos talentos locais, do conhecimento dos povos tradicionais, para todo e qualquer projeto de qualificação tecnológica. Somente a inteligência local pode resguardar o acervo cultural e os saberes atávicos de nossa memória florestal, a capacidade de harmonizar Natureza e Cultura
Academia e Economia
Importante notar, a indústria na ZFM, por meio do fundo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), contribui para a qualificação acadêmica de parte substantiva de nossa população jovem. Esta iniciativa ilustra como as instituições de ensino, quando alinhadas com os órgãos de fomento e desenvolvimento, podem coordenar esforços para superar os desafios impostos por esta nova era. Importante é estreitar a conexão entre academia e a economia. Por uma razão muito simples, quanto mais a academia preparar seus quadros para este desafio da diversificação econômica, mais resultados serão conquistados em favor da instituição, melhoria de suas instalações e melhor desempenho de seus docentes e discentes.
PPBio, prioridade da Suframa
A indústria repassa quase R$1 bilhão/ano para a UEA e outros recursos que mantém fomento destinado a empreendimentos em Bioeconomia. Trata-se do PPBio, um programa prioritário para a consolidação de atividades não-predatórias, entregue à gestão dinâmica do IDESAM, que teve sua performance administrativa reconhecida e seu contrato com a Suframa renovado por mais cinco anos. Uma das novidades da nova etapa é atender, com modelagens produtivas e criativas, insumos de borracha e de bioplásticos para as indústrias locais, por exemplo, do setor de Duas Rodas. Uma articulação e conexão crucial para fortalecimento das sinapses construtivas e definitivas da economia da ZFM.
O desafio da integração institucional
Além da UEA, a região se beneficia da presença de instituições como a Universidade Federal do Amazonas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), bem como os Institutos Federais de Tecnologia. Estas instituições, juntamente com o SENAI, SEBRAE e o CETAM, formam um ecossistema educacional e de pesquisa robusto, capaz de atender às necessidades de desenvolvimento regional. O desafio é a integração, a articulação, ou seja, em mutirão colaborativo, participativo e inclusivo.
O papel vital dos Tecnólogos
Como servidor público e depois como dirigente empresarial, vivenciei a importância da conexão entre academia e indústria, especialmente por meio de iniciativas como o curso de tecnólogos na UTAM. Esta graduação que incluía alternativas de formação com duração de cerca de dois anos, demonstra como a educação focada pode gerar impactos significativos, promovendo a substituição e atualização de recursos humanos.
Desenvolvimento integral e sustentável
Assim, diante do desafio de promover a sustentabilidade, a prosperidade e a integração da Bioeconomia, a qualificação de recursos humanos emerge como um fator essencial. A preparação de nossos jovens habilita a região para um futuro próspero e sustentável. A Bioeconomia, pois, permitirá que a Zona Franca de Manaus continue sendo um modelo de inovação e integração econômica, tanto para o Brasil quanto para o mundo, e a mais representativa confirmação do quanto é viável o desenvolvimento com respeito ao meio ambiente, um desafio que o mundo, antes tarde do que nunca, passa a levar a sério.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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