Iniciativas sustentáveis no Pará estão transformando resíduos em produtos valiosos, mais iniciativas podem ganhar fôlego depois do decreto que fortalece a bioeconomia e conservação ambiental, atrelados a promoção o desenvolvimento social
A bioeconomia, um modelo econômico que integra a conservação e regeneração da biodiversidade com o desenvolvimento, está furando a bolha dos ambientalistas e dos entusiastas para ganhar espaço nos debates e iniciativas de empreendedorismo até políticas públicas que considerem de enorme importância a pauta ambiental.
Este conceito é fundamental para promover um crescimento que seja simultaneamente social, econômico e ambiental. Na Amazônia, o estado do Pará está emergindo como um exemplo de como a bioeconomia pode transformar problemas ambientais em oportunidades de negócios sustentáveis.
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Iniciativas de Bioeconomia no Pará
Ingrid Teles, uma empresária paraense, identificou um problema significativo na cadeia de produção de açaí: o grande volume de sementes descartadas diariamente. Apenas 26,5% do açaí são comestíveis, deixando um grande resíduo de fibras e sementes. Em 2017, Ingrid iniciou uma pesquisa para encontrar uma solução que não apenas resolvesse esse problema, mas que também tivesse um impacto social positivo. Em 2022, ela fundou uma empresa de cosméticos que utiliza essas sementes para produzir sabonetes de açaí.
“Foi olhando esse volume de resíduos que eu comecei a buscar uma solução que pudesse ser um modelo de negócio, mas que também contribuísse socialmente. Aí, eu cheguei a produção dos sabonetes de açaí com o aproveitamento das sementes e em uma estrutura de bioeconomia circular”, observa Ingrid.
Outro exemplo notável é a empresa liderada por Noanny Maia, que, junto com sua mãe e irmãs, retomou um negócio de cacau deixado por seu pai. Ao chegar ao município de Mocajuba, elas encontraram uma realidade de degradação ambiental e pobreza. Movidas pelo desejo de melhorar a qualidade de vida das famílias produtoras de cacau e impactar positivamente a cadeia produtiva, elas criaram uma empresa que beneficia o cacau para produzir barras de cacau 100%, nibs, granola, geleias, velas e escalda-pés.
“Quando chegamos à região nos deparamos com uma realidade de degradação ambiental que impactava as famílias produtoras de cacau de uma forma impressionante, com muita pobreza e principalmente mulheres em situação de vulnerabilidade e até de violência. Não era mais aquela abundância da época do meu avô”, recorda Noanny.
Estratégia Nacional de Bioeconomia
A Estratégia Nacional de Bioeconomia, lançada por decreto presidencial em junho, é um marco significativo para a promoção de um desenvolvimento sustentável no Brasil. A iniciativa do ministério do Meio Ambiente visa definir conceitualmente e construir os firmamentos para criar e consolidar a bioeconomia no Brasil. O objetivo central é alcançar o desmatamento zero até 2030, uma meta ambiciosa que requer uma coordenação eficiente entre diferentes atores, incluindo governos, empresas, comunidades e o setor científico.
Um aspecto fundamental desta estratégia é a integração do conhecimento tradicional com a inovação científica para desenvolver soluções sustentáveis. O Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), coordenado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e apoiado pela Suframa, exemplifica essa abordagem. O PPBio capta recursos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das empresas do Polo Industrial de Manaus e os direciona para fomentar novos negócios e tecnologias de bioeconomia na Amazônia.
Sobre isso tudo, conversamos com Carlos Khoury, diretor do Idesam que lidera o PPBio, a entrevista está excelente!
Com a COP30 prevista para ocorrer em Belém em 2025, o Brasil está se posicionando como líder na promoção da bioeconomia, apresentando ao mundo um modelo de desenvolvimento sustentável que pode ser replicado globalmente. Além do evento que ocorrerá no Pará, a bioeconomia também é tema central nas discussões do G20 sob a liderança do Brasil, reforçando seu papel na agenda global.
Projeções e crescimento do mercado de Bioeconomia
Segundo Rubens Magno, diretor-superintendente do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Pará, o uso sustentável dos recursos naturais é uma prática antiga entre os povos tradicionais da Amazônia. “Esses povos ancestrais fazem isso há muitos anos, mas muitas vezes não percebem que possuem esse conhecimento e também não percebem o valor da Amazônia e o valor que as pessoas de fora dão para a floresta” destacou.
Estima-se que o mercado de bioeconomia na Amazônia possa atingir US$ 8,1 bilhões ao ano até 2050. Este crescimento é impulsionado principalmente por micro e pequenos empreendedores, resultado de um trabalho de fortalecimento desse cenário, com o estabelecimento de um polo de bioeconomia do Sebrae na cidade de Santarém.
Iniciativas do Sebrae
Na última quinta-feira (13), o Sebrae lançou uma rede em Santarém para integrar pesquisadores, instituições governamentais, investidores e empreendedores. “Nós estamos colocando diversos atores para dialogar e expor os seus conhecimentos de forma transversal, para fortalecer todos os entes envolvidos e, dessa forma, fazer com que as startups cresçam, que os investidores participem e os governos de todas as esferas enxerguem essa potência local” explicou Magno.
Para ele, o objetivo até a 30ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP30), que será realizada em novembro de 2025 em Belém, é que a bioeconomia na região possa traduzir um sistema econômico fortalecido pelo desenvolvimento social que agregue valor aos recursos naturais, mantendo a floresta preservada. “Queremos mostrar a potência da floresta para o mundo, tendo a bioeconomia como nossa fortaleza” finalizou.
Com informações da Agência Brasil
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