“Para Manaus ter uma hidrovia que possa operar o ano todo, os armadores e o governo podem trabalhar em conjunto.”
Por Augusto Rocha
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Para Manaus ter uma hidrovia que possa operar o ano todo, os armadores e o governo podem trabalhar em conjunto. Há neste problema uma grande oportunidade para parcerias público-privadas voltadas para a condução de investigações que ajudem a compreender como assegurar a profundidade de 14m para o trânsito seguro das embarcações de maior porte com contêineres. Caso contrário, os custos logísticos da cidade ficarão muito altos e a demanda de longo prazo por este método de transportes pode diminuir, por não haver segurança de disponibilidade o ano inteiro.
Para evitar a repetição do grande prejuízo que ocorreu no ano passado, é preciso tomar medidas diferentes das que foram tomadas. O ano de 2024 está se revelando outra vez o ano mais quente da história registrada, segundo o programa Copernicus, da União Europeia. Ademais, há estudos que apontam que o aquecimento global (e não o El Niño) é que foi o principal responsável pela seca. Neste contexto, é fundamental a formação dessas parcerias para compreender o que causa e o que pode evitar a diminuição dos níveis dos rios em seus pontos mais críticos, especialmente da chamada “hidrovia do Amazonas” e a influência de todos os seus afluentes.
No ano passado, a dragagem não foi suficiente para resolver o problema dos navios maiores e só quando a chuva veio é que os rios retomaram os níveis de segurança, trazendo de volta a navegação de maior porte. No meio tempo, a cidade de Manaus amargou custos altíssimos para as alternativas que foram apresentadas, levando a mais de R$ 1,4 bilhões de custos extras na indústria amazonense. No fim do dia, a sociedade pagou um custo muito alto e, como em toda crise, quando alguns perdem, outros ganham.
A confiança nos rios como alternativa perene só será retomada quando forem percebidas ações efetivas no sentido de dotar o Amazonas de uma hidrovia confiável. As carências seculares perduram, sem ações de obras de infraestrutura para correção das deficiências nos sistemas de transportes que atendem ao Polo Industrial de Manaus, isso sem falar nas pessoas afetadas em todo o interior profundo, com carências de todos os tipos.
A união de esforços precisa acontecer, para que encontremos mais rapidamente as soluções. Ficar repetindo que a dragagem vai solucionar não me parece a melhor alternativa, uma vez que ela não funcionou. Parece-me inadequado insistir em algo que não deu certo, salvo se houver um detalhado diagnóstico da razão que levou ao não êxito em 2023 – por exemplo, por conta de equipamentos de dragagem com capacidade aquém da necessária. Como correção, a dragagem sendo feita pelo equipamento correto, poderá ser alternativa para este ano.
Também existem possibilidade já experimentadas num passado mais remoto, quando eram volumes muito menores, como transbordos mais eficientes ou uso de balsas ou alimentadores em fluxo contínuo, mas, para isso, é necessário um planejamento prévio com atitudes empreendedoras de todos os envolvidos: armadores da cabotagem, empresas de navegação de interior, portos, governo etc. A hora de planejar é agora. Setembro ou outubro será o momento da execução dos planos ou dos prejuízos para os que não agirem agora.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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