“Doutor em engenharia de transportes, o professor Augusto César Barreto Rocha tem se dedicado a promover ações compartilhadas entre academia e a economia, particularmente no que se refere a precariedade de infraestrutura para o Polo Industrial de Manaus.” Confira.
Por Alfredo Lopes
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BrasilAmazoniaAgora – O enfrentamento da precariedade da infraestrutura regional, especialmente na área de transportes, tem revelado avanços significativos. Qual são os próximos passos dessa jornada?
Augusto Cesar Barreto Rocha – Os avanços têm sido no lado empresarial. Portos (terminais) privados, armadores, empresas realizando estoques reguladores e uma energia intelectual enorme sendo alocada para conseguir transpor as enormes deficiências cotidianas. No quesito governamental, há uma boa-vontade. Não é pouco, mas é insuficiente: os executivos públicos precisam de orçamento alocado na LDO/LOA para fazer as obras que reduzirão as desigualdades regionais.
O Amazonas possui uma carência histórica de infraestrutura e chega a ser declinante o que temos. Deveríamos ter avanços com recursos expressivos sendo alocados para obras que dotem a região de infraestrutura de transportes. Meu alvo é que sejam investidos 2,5% do PIB ano após ano na redução das desigualdades regionais.
BAA – Em clima de reforma fiscal e das incertezas que cercam a economia da ZFM, como você enxerga as brechas da reindustrialização?
Augusto – Entendo que estamos muito industrializados. A Zona Franca de Manaus poderá ser um belo exemplo para o país. Temos uma tradição industrial, um polo industrial com empresas com certificação internacional da qualidade (ISO 9000), operações com adensamento da cadeia produtiva, como no caso do polo de duas rodas – com a cadeia toda integrada; há muito já feito e esta é uma lista incompleta.
Segundo dados da CNI, 36,4% do PIB do Amazonas é industrial, enquanto São Paulo possui 20,3% e o Pará 34,3%. Acontece que no Pará a matriz produtiva é dominada por mais de 50% na mineração, enquanto SP é um misto entre construção, derivados de petróleo, químicos e alimentos. No Amazonas, temos a liderança em produtos tecnológicos, com informática, eletrônicos e ópticos. Há uma estrutura co empresas globais, com forte investimento estrangeiro, há universidades produzindo mão de obra qualificada. Temos uma tradição e um ecossistema de sucesso. Isso precisa ser preservado e ampliado. Precisamos ser um exemplo da industrialização brasileira.
BAA – Há pouco tempo, o setor de duas rodas e de eletroeletrônicos mobilizaram seus fornecedores efetivos e potenciais visando adensar as respectivas cadeias produtivas. Na sua opinião, que outras ações podem divulgar as oportunidades que o PIM oferece?
Augusto – Precisamos olhar para as NCMs que produzimos e adensar as cadeias produtivas. Fazer um crescente. Replicar o esforço feito no Subsetor de Duas rodas para todos os demais subsetores, começando com os que mais faturam e assim sucessivamente. Precisamos replicar esta história de sucesso, adensando as cadeias produtivas. Compreender a dinâmica das empresas e suportá-las. Entender os negócios e simplificar a atração de investimentos para quem já está aqui ou é parceiro de uma das grandes empresas.
Na outra ponta, precisamos estimular a presença de empresas que usem os pontos fortes da biodiversidade do Amazonas. De maneira sustentável, com a integração dos cientistas e das instituições de pesquisa locais. Uma indústria baseada no bioma é ansiada pelo mundo. Precisamos entregar esta ação sustentável e demonstrar como fazer a produção respeitando a natureza. Temos tudo para isso. Poderia até dizer que temos este dever como habitantes do planeta Terra e agraciados com a oportunidade de morar aqui.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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