Nossas lojas em Ariquemes não conseguem recrutar operadoras de caixa. Esse parece o Brasil que você conhece? Então se mude para cá e traga sua família. Venha começar ou retomar a vida num Brasil que vai para a frente, que certamente será melhor em 2050. Uma das formas do Brasil avançar é deixar para trás onde não está dando certo e nos voltarmos para onde está.
Por Denis Minev
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Ariquemes fica a pouco mais de 200 quilômetros de Porto Velho, capital de Rondônia. É uma candidata improvável para um boom econômico. A visitei pela primeira vez em 2003 e parecia-me pouco mais que uma cidadezinha interiorana sonolenta cercada por pastagens extensivas aleatoriamente distribuídas em meio à floresta. Não aparentava os 70 mil habitantes que o IBGE indicava.
Um amigo mais experiente me acompanhou na viagem (eu tinha apenas vinte e poucos anos de idade) e me disse que eu não sabia a revolução que estava por vir com a soja – e recomendou que comprasse terras lá. Naquela altura, o hectare custava menos de R$500. Prestei atenção, mas ignorei o conselho.
Visitei Ariquemes intermitentemente durante os últimos 20 anos e o que relato aqui é a Ariquemes de 2023.
Essa pujante cidade de 110 mil habitantes vive o pleno emprego. A Bemol, empresa que lidero (maior varejista da Amazônia Ocidental), tem uma loja lá com 5 vagas em aberto que não conseguimos preencher há um ano.
Os mais de 50% de crescimento populacional em 20 anos apontam para a revolução. A soja chegou, junto com a tecnologia do agronegócio e a alta produtividade. Não se compra mais terra por menos de R$ 30 mil por hectare. A dor da oportunidade perdida machuca o empresário.
Alguns lerão este relato com horror. O quanto de floresta não foi derrubado nesse período? E é indiscutível que o avanço de Rondônia teve consequências ambientais.
Entretanto, um passeio pela avenida Tancredo Neves, a via principal, mostra um outro aspecto. É uma cidade próspera e cívica, com ruas limpas e arborizadas, ao menos em relação a outras cidades da Amazônia. Hospitais, clínicas, escolas e universidades com frequência incomum na região.
Aqui não se aplica a máxima de que o desmatamento não trouxe prosperidade – aqui, o agronegócio, a soja, a piscicultura, o milho, o gado e pequenas agroindústrias brotaram onde a floresta foi substituída. Rondônia, diferentemente de outras amazônias, não se presta a clichês fáceis. Até por isso, é aqui que o destino da Amazônia será traçado.
A boa notícia é que o desmatamento sem freios ficou majoritariamente no passado. Com poucas exceções, em conversas com empresários e lideranças locais ouvi muito sobre recomposição de reserva legal e de área de preservação permanente, muito de agricultura carbono zero e outras oportunidades ligadas a carbono, e muito sobre produtividade da terra e o uso de tecnologia.
Instituições tão diversas como o grupo Rovema (creio que o maior grupo empresarial de Rondônia, investido no agro, no carbono, em fintech, dentre outras frentes), a ONG Rioterra (que planeja e executa estratégias de prosperidade com baixo carbono), a Fiero (Federação das Indústrias locais que lidera o projeto Amazônia +21 de transformação econômica sustentável) e a Madeflona (maior manejador de florestas sustentáveis do Estado) estão empenhados em construir a economia do século XXI como nós brasileiros sonhamos.
Cada um destes merece um estudo de caso profundo por estudiosos e jornalistas dispostos a se despir de preconceitos e imaginar que é de Ariquemes, e não de São Paulo ou de Brasília, que virá a reinvenção do Brasil.
É claro que os desafios não são simples. Aqui há também conflitos de terra, áreas alagadas por hidrelétricas, infraestrutura e segurança pública deficitárias, dentre outras mazelas nacionais. Há também aqui os atores ruins de um mundo retrógrado, roubando madeira e terras públicas, desrespeitando leis e autoridades.
É nessa batalha que a nação precisa se posicionar. Onde está o nosso mercado regulado de carbono para apoiar quem faz certo? Onde anda o financiamento maciço de sistemas agroflorestais, integração lavoura-pecuária-floresta e restauração florestal para quem quer avançar? Onde andam os orçamentos de ciência e da Embrapa amazônica para compreender um pouco mais nosso patrimônio biodiverso e subsidiar práticas mais produtivas e menos invasivas?
Se existe uma batalha onde o mundo e o Sudeste do país devem se posicionar, é essa. E não a insípida e desatualizada visão da soja e gado versus a floresta.
Ainda assim, ao cidadão visitante creio ser impossível não sentir no ar a direção da prosperidade na qual esse canto do Brasil caminha mesmo sem muita ajuda externa. Venha ver com seus olhos, no mínimo fazer turismo em um dos muitos hotéis fazenda na região enquanto respira ares rejuvenescedores que há muito deixaram a maior parte do Brasil.
E por isso volto ao tema original. Nossas lojas em Ariquemes não conseguem recrutar operadoras de caixa. Esse parece o Brasil que você conhece? Então se mude para cá e traga sua família. Venha começar ou retomar a vida num Brasil que vai para a frente, que certamente será melhor em 2050. Uma das formas do Brasil avançar é deixar para trás onde não está dando certo e nos voltarmos para onde está.
Denis Minev é diretor-presidente da Bemol e cofundador da Fundação Amazonas Sustentável, do Museu da Amazônia, da plataforma Parceiros Pela Amazônia e parceiro do portal BrasilAmazôniaAgora. É também investidor em diversas startups amazônicas nos segmentos de bioeconomia, carbono, logística e turismo e serviu como Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas. Em 2012, foi selecionado Young Global Leader do Fórum Econômico Mundial.
O artigo foi publicado em Capital Reset
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