Um recente estudo do Instituto Escolhas, sediado em São Paulo, revela dados promissores para a recuperação de terras e a economia brasileira. A pesquisa aponta que a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em 1,02 milhão de hectares de áreas desmatadas poderia resultar na produção de 156 milhões de toneladas de alimentos, além de remover impressionantes 482,8 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera.
Esses números não apenas reforçam o potencial dos SAFs como ferramenta de reflorestamento, mas também mostram como eles podem contribuir significativamente para a segurança alimentar, geração de renda e auxílio ao Brasil em cumprir sua meta prevista no Acordo de Paris de recuperar 12 milhões de hectares de áreas degradadas até 2030.
Em agosto, durante a Cúpula da Amazônia, um importante passo nessa direção foi dado pelo Governo Federal com o lançamento do projeto Florestas Produtivas. Esta iniciativa visa a exploração simultânea do plantio de alimentos com a recuperação da Floresta Amazônica, estreitando o caminho para alcançar a meta estabelecida.
O que são os sistemas agroflorestais?
Os SAFs combinam árvores nativas, frutíferas e/ou madeireiras com cultivos agrícolas. Esta combinação não apenas revitaliza uma área desmatada, mas também permite a produção de alimentos, o plantio de mais de 2 bilhões de mudas e a consequente remoção de CO2. Para os agricultores familiares, esse sistema traz o benefício da diversificação da produção, garantindo retorno financeiro tanto no curto quanto no longo prazo.
Manejo de agrofloresta no Assentamento Contestado, do Movimento Sem Terra, em Lapa, Paraná. Foto: Jade Azevedo
Retorno financeiro promissor
Além das vantagens ambientais, o estudo do Instituto Escolhas também destacou o potencial econômico do SAF. Um investimento de R$ 33,1 bilhões na recuperação destas áreas poderia gerar um retorno de R$ 260 bilhões de receita líquida. Sérgio Leitão, um dos fundadores do Instituto Escolhas, destaca que além da produção de alimentos, o SAF permite o plantio de árvores fundamentais para a preservação dos recursos hídricos e oferta de nutrientes ao solo. Ele enfatiza que a aplicação correta deste sistema demonstraria o comprometimento do Brasil em cumprir sua parte no Acordo de Paris.
Contudo, o caminho até a meta de 2030 é desafiador. Até o momento, apenas cerca de 79,1 mil hectares foram reflorestados, menos de 1% do objetivo inicial. Esse atraso implica que o Brasil precisará investir quatro vezes mais para cumprir o compromisso. Ainda assim, como Leitão reforça, há muito a ser ganho, tanto ambiental quanto economicamente, ao se investir na “economia da floresta em pé”.
A medida em que o Brasil continua avançando, fica claro que os Sistemas Agroflorestais não são apenas uma ferramenta de reflorestamento, mas um mecanismo poderoso para garantir um futuro mais sustentável e próspero para todos.
Agrofloresta na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Quilombos da Barra do Turvo, em Jacupiranga, na região do Vale do Ribeira, estado de São Paulo. Foto: Felipe Augusto Zanusso Souza, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons
A abordagem brasileira de utilizar Sistemas Agroflorestais (SAFs) para a recuperação de terras desmatadas apresenta potencial para impulsionar significativamente a produção agrícola regional. O Instituto Escolhas, em seu estudo recente, projetou modelos de SAFs em cada uma das cinco regiões brasileiras, considerando especificidades locais e capacidades produtivas.
Os modelos revelam crescimentos notáveis para diversas culturas. Alimentos como milho verde, pinhão, buriti, cumaru, jabuticaba, mangaba, erva-mate e palmito teriam um aumento de mais de 100% em sua produção. Culturas com dados oficiais, como cacau, apresentariam um incremento de 27,4%; cupuaçu, 40,4%; e pequi, 71,1%. Adicionalmente, lavouras de ciclo curto, como feijão e banana, também veriam um aumento expressivo após os três primeiros anos de cultivo.
Importância do cultivo florestal
Sérgio Leitão, do Instituto Escolhas, reitera a necessidade de equilibrar o foco entre o cultivo de florestas e culturas tradicionais, como milho, soja e feijão. “Cumprir o Acordo de Paris requer dar à silvicultura a mesma prioridade que damos a outras culturas,” ele observa. O avanço no combate à pobreza, especialmente na região Norte, ganha destaque com o lançamento do projeto Florestas Produtivas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Economia Familiar (MDA) em Belém (PA).
Moisés Savian, da Secretaria de Governança Fundiária, Desenvolvimento Territorial e Socioambiental, vinculada ao MDA, detalha os planos do projeto. Ele visa combinar a produção de alimentos com a recuperação florestal em comunidades tradicionais amazônicas, implementando integralmente os modelos SAFs. Espécies nativas, como açaí, cupuaçu, cacau e mandioca, são o foco inicial do projeto. Para dar apoio a este projeto, a Embrapa indicará técnicos para atender às necessidades dos agricultores.
Se bem-sucedido, e com o avanço de negociações com instituições como BNDES e Petrobras, o Florestas Produtivas pode se expandir para outros estados, começando pelo Maranhão, que, junto com o Pará, apresenta altos índices de pobreza na região amazônica.
Sérgio Leitão destaca o potencial do plantio florestal para a geração de empregos e o combate à pobreza. Por exemplo, estima-se a criação de cerca de 1 milhão de postos de trabalho no Pará. Moisés Savian conclui ressaltando a importância da colaboração entre governo e sociedade para alcançar as metas de Paris: “É fundamental unir esforços para restaurar as florestas e o meio ambiente enquanto se gera riqueza para quem mais precisa.”
A implementação de SAFs, conforme proposto, tem o potencial não apenas de revolucionar a agricultura brasileira, mas também de fortalecer a economia, combater a pobreza e cumprir os compromissos ambientais do país.
*Com informações MONGABAY
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