A descoberta de moléculas ativas retiradas de plantas amazônicas pode ajudar no tratamento e prevenção de doenças crônicas como diabetes, obesidade, câncer, artrite, esteatose hepática e cicatrização de úlceras por pressão. É o que aponta uma pesquisa apoiada pelo Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). O estudo está entre as propostas do edital 004/2018 – Programa de Apoio Estratégico ao Desenvolvimento Econômico-Ambiental do Estado do Amazonas – Amazonas Estratégico.
A pesquisa teve como objetivo isolar substâncias em escalas de gramas a partir de plantas amazônicas como: milenona (breu), berjenina (uxi amarelo), lupeol e o hidróxido de genona (cipó miraruira). Além de planejar a síntese de derivados, sintetizar, caracterizar quimicamente os protótipos e os derivados, foram preparadas formulações farmacêuticas capazes de potencializar o efeito das substâncias e, também, estudados o potencial e modelos in vitro e in vivo dessas doenças crônicas.
Como explica o coordenador da pesquisa, Emerson Silva Lima, foram realizados ensaios, antioxidantes, anti-inflamatório, antiglicante, inibição de enzimas digestivas e citotoxicidade. Além disso, as substâncias mais promissoras desta etapa foram submetidas aos ensaios de formulação visando ao desenvolvimento de formulações que exacerbam o efeito in vivo.
“A descoberta de moléculas ativas para o tratamento ou prevenção dessas doenças crônicas é um caminho importante para o desenvolvimento do Estado do Amazonas, com a produção de princípios ativos provindos da biodiversidade amazônica para a indústria farmacêutica mundial”, revela o pesquisador, acrescentando que as formulações contendo as substâncias mais promissoras foram testadas em modelos de diabetes, obesidade e câncer in vivo.
O projeto “Isolamento de moléculas ativas da biodiversidade amazônica para o tratamento de doenças crônicas” faz parte das linhas de pesquisa dos grupos de produtos naturais e análises clínicas, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde vários pesquisadores têm suas linhas de pesquisas direcionadas ao estudo de fármacos ou cosméticos a partir da biodiversidade amazônica.
Emerson destaca que o processo ainda está sendo realizado e, dependendo das substâncias que precisam estar numa formulação para melhorar a absorção e a biodisponibilidade ou um derivado dela semissintético, precisa ser modificada na molécula para que possa ser patenteada e despertar interesse da indústria.
Acesso
Segundo o pesquisador, os pacientes terão acesso ao tratamento a partir da obtenção do produto por uma indústria local, nacional ou internacional. “O papel da universidade é gerar o conhecimento, mas quem coloca o produto no mercado é uma empresa para o acesso da população”, disse, acrescentando que o ganho maior do projeto é o uso de matéria-prima regional, “ganho para a bioeconomia para o estado do Amazonas. Isso geraria uma cadeia de valor para a região”, completa.
De acordo com Emerson, a realização do projeto vai ao encontro da continuação das linhas de pesquisa desses pesquisadores e suporte aos dois programas de pós-graduação: mestrado em Ciências Farmacêuticas e doutorado em Inovação Farmacêutica. “Com certeza, os recursos aportados pelo projeto serviram para a formação de recursos humanos qualificados para o Amazonas, além de contribuir para o desenvolvimento de matérias-primas de alto valor agregado para o estado”, acrescenta.
Financiamento
O Amazonas Estratégico visa financiar atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, nas seguintes linhas temáticas: agricultura (fruticultura); aquicultura (piscicultura e peixes ornamentais); química fina, biocosméticos e biofármacos; tecnologia da informação e comunicação; novos materiais (bio-compósitos, compósitos avançados e metamateriais bio-inspirados); recuperação/regeneração de área degradada; serviços ambientais e mineração.
Números
Recentemente, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Drª Rosemary Costa Pinto divulgou que o Amazonas apresenta um total de 2. 675 de mortalidade prematura de indivíduos, com idade de 30 a 69 anos, pelo conjunto das quatro principais doenças crônicas não transmissíveis tais como: doenças do aparelho circulatório; neoplasias malignas; doenças respiratórias crônicas e diabetes mellitus, atualizados em setembro de deste ano. No ano passado a taxa de mortalidade foi de 4.179.
No Brasil, 52% das pessoas de 18 anos ou mais informaram que receberam diagnóstico de pelo menos uma doença crônica em 2019. Foi o que mostrou a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, divulgada no dia 18 de outubro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento, feito em 108 mil domicílios, tem parceria com o Ministério da Saúde.
Plantas podem salvar vidas
Segundo o IBGE, as doenças crônicas são um dos maiores problemas de saúde pública do Brasil e do mundo, com impactos que permeiam a ocorrência de mortes prematuras, a perda de qualidade de vida, o aparecimento de incapacidades e elevados custos econômicos para a sociedade e para os sistemas de saúde.
Texto publicado originalmente em Segundo a Segundo
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