No fundo, ninguém quer desenvolver a Amazônia. Cada um quer desenvolver a si próprio e, pela falta de estudo, estamos sendo convencidos por qualquer pauta que qualquer um apresente e acreditando em falsas pesquisas de fontes duvidosas, contra a matemática ou contra as vacinas. Nem o compromisso de cada um com as suas instituições e com seus papéis conseguimos perceber. O ambiente está mais povoado de aproveitadores do que de empreendedores. Ainda bem que podemos mudar e quando não mudamos por inciativa própria, o tempo é transformador e age por nós.
Por Augusto Cesar
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Análises baseadas em dados causam incômodos, quando desagradam a uma categoria dos ouvintes. Por isso as universidades em tempos autoritários são colocadas de lado. Pesquisadores são treinados para olhar o mundo longe dos discursos e próximos dos fatos e dados, frutos de suas pesquisas, para depois embasar as suas opiniões. Dados primários ou fontes muito seguras são os mais atrativos.
Empresas de grande porte também bebem nestas fontes. Por isso o capital consegue se mover facilmente por um mundo que, na prática, não possui fronteiras e a busca é por onde se ganha mais dinheiro. Por isso em universidades existe o hábito de falar com empresas de grande porte e há alguns governos que tentam nos isolar delas. Ciência junto com capital rompe ignorâncias e produz muita riqueza.
Se é mais rentável produzir na China e vender para o Brasil, esta será a escolha. Se mudar a matriz dos EUA para a Irlanda for mais rentável, então é isso que será feito. Simples assim. O produtor está em qualquer lugar do mundo e o consumidor vai ser “perseguido” a partir deste “qualquer lugar”.
As indústrias estão em Manaus porque vale a pena estar em Manaus, mas são afugentadas o tempo todo. Assim, as multinacionais daqui pouco tem de vínculo local. Naturalmente não teriam grande vínculo, mas, com as ameaças, é mais natural que a proximidade se transforme em indiferença ou busca para ir embora tão logo quando possível e isso talvez explique, em certa medida, seu comportamento coletivo nos últimos dias na questão do IPI.
Como sociedade, temos um mercado consumidor e queremos impostos? Como construir uma rede competitiva para isso? No lado empresarial: como construir uma sociedade cada vez mais inclusiva, para termos mais consumidores? O capitalismo mais “avançado” tem ido por esta linha, desde a libertação dos escravos. O capitalismo mais primitivo tem ido por uma linha destruidora e espoliadora.
O preço é definido pela oferta versus demanda, associada com uma capacidade de compra. Estamos nos perdendo e buscando outras coisas que não o aumento do mercado ou da competitividade. A busca moderna é destas duas questões. A busca do “menos imposto” é uma busca do passado. Empresários estrangeiros, buscam ganhos para as suas matrizes, empresários paulistas idem, amazonenses também. Ou pelo menos deveria ser. Parece que ultimamente estamos meio perdidos sobre o que buscamos.
No fundo, ninguém quer desenvolver a Amazônia. Cada um quer desenvolver a si próprio e, pela falta de estudo, estamos sendo convencidos por qualquer pauta que qualquer um apresente e acreditando em falsas pesquisas de fontes duvidosas, contra a matemática ou contra as vacinas. Nem o compromisso de cada um com as suas instituições e com seus papéis conseguimos perceber. O ambiente está mais povoado de aproveitadores do que de empreendedores. Ainda bem que podemos mudar e quando não mudamos por inciativa própria, o tempo é transformador e age por nós.
O fato é que a série histórica de gastos com infraestrutura no Brasil, segundo pesquisa da FGV, Cemec, Fipe e Inter B Consultoria, divulgado em 08/05 pela Folha de São Paulo, apresenta a menor série histórica em quatro anos para investimento público em infraestrutura desde 2010. Os fatos são simples. As interpretações são livres. A minha é que seguimos com investimento declinante em infraestrutura – tínhamos que multiplicar por dez e, foi feito ao contrário, reduziu-se. O que era ruim, piorou.
O fato é que a UFAM teve três artigos sobre logística e indústria 4.0 publicados pelo Massachussetts Institute of Technology – MIT – na última semana (fui coautor dos três), deliberando sobre logística na Amazônia. Quando a indústria se une com a academia, os resultados vão para o mundo. Quando a indústria se une com o retrocesso, os resultados se evaporam. O capitalismo que interessa é o baseado em resultados, a partir de dinheiro, investimento, retorno e volume. O resto é só fumaça de destruição e a terra arrasada pelos exploradores da miséria.
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