Projeto de pesquisa Amazon FACE testará capacidade do bioma de absorver CO2 à medida que concentração do gás aumenta
A capacidade da Amazônia de reagir à mudança climática depende de muitas incógnitas, e uma delas diz respeito à fertilização de carbono, ou seja, a possibilidade de árvores absorverem CO2 mais rápido à medida que a concentração desse gás aumenta na atmosfera. Para saber se isso vai realmente ocorrer, cientistas estão montando um dos maiores experimentos já realizados na região, o Amazon Face.
Liderado pelo ecólogo David Lapola, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o projeto vai essencialmente borrifar CO2 diretamente sobre árvores da região para testar como elas reagirão à mudança na composição do ar nas próximas décadas. O trabalho vai, em grande medida, ajudar a responder a quanto da mudança climática a Amazônia poderá atenuar, pois grande parte da incerteza embutida nessas pesquisas está relacionada à fertilização de carbono.
Para montar o experimento, cientistas separaram duas parcelas de floresta em forma de círculos com 30 metros de diâmetro. Cada um desses círculos será cercado por 16 torres com 35 metros de altura, que terão diversas perfurações em suas estruturas. Ligado a um tanque, esse aparato vai emitir diariamente três toneladas de CO2 sobre as árvores. Isso fará com que a concentração desse gás na área do experimento aumente em cerca de 50%.
O primeiro protótipo dessas estruturas já ficou pronto em agosto, em Campinas. A maior parte da infraestrutura será montada in loco na floresta, porém. Junto com Carlos Alberto Quesada, do Inpa, Lapola já tinha o experimento planejado desde 2014, mas a ideia só vingou agora, depois que o governo britânico doou cerca de R$ 13 milhões à pesquisa. Os trabalhos já começaram na locação do projeto, uma reserva de pesquisa do Inpa a 60km ao norte de Manaus.
Água e carbono na Amazônia
Além de medir a taxa de absorção de carbono das árvores, o Amazon Face ajudará a entender como um dos serviços ecossistêmicos da floresta, a produção e carreamento de chuvas, responderá à mudança climática.
— O Face vai ajudar a entender melhor a conexão entre carbono e água, porque, quando você aumenta o CO2 na atmosfera, teoricamente as plantas transpiram menos — explica Lapola. — A gente sabe que o início do mecanismo desses tais “rios voadores” é justamente a emissão de umidade de folhas das árvores para a atmosfera. Se elas vão transpirar menos, provavelmente a chuva vai reduzir na região por causa disso.
O experimento, que deve ter o aparato todo montado até março de 2023, começará então a sua fase de emissão de CO2, que deve durar um ano. Uma extensão do projeto está sendo negociada, e deve depender dos resultados obtidos nesta etapa.
Fonte: O Globo
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